Topo

Merchandising de filmes são tão artificiais quanto os de produtos de beleza

Mauricio Stycer

27/08/2013 05h01

Fazer propaganda de um produto no meio de uma cena de novela ou de um quadro de humor não é fácil. Quase sempre soa artificial. Pior, o espectador fica com a sensação que estão tentando empurrar algo para ele, goela abaixo, à sua revelia.

Depois dos produtos de beleza e alimentação, entre outros, um tipo de merchandising cada vez mais comum na televisão é o de filmes. Duas ações recentes mostram a dificuldade de fazer propaganda deste tipo no meio de programas de televisão.

No último dia 19, em "Amor à Vida", a ação visava promover "Flores Raras". Como o filme conta a história do romance entre duas mulheres, Lotta Macedo Soares e Elizabeth Bishop, coube a Amarylis (Daniele Winits) e ao casal formado por Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcelo Antony) protagonizarem a propaganda.

"Outro dia eu fui ao cinema e assisti um filme que me lembrou muito a relação de vocês. 'Flores Raras'. Já assistiram? Já ouviram falar? É um filme maravilhoso", diz Amarylis. Ela explica do que se trata,  suspira e prossegue: "Ai, a Gloria Pires dá um show. Maravilhosa. O filme é lindíssimo e a reconstituição de época é impecável. Vocês não podem perder". Veja aqui e comprove como é pouco convidativa a publicidade.

No último sábado (24), foi a vez do "Zorra Total" ser usado para o merchandising de um filme. O prefeito corrupto de Zorra City (Paulo Silvino) recebe a visita dos atores Anselmo Vasconcelos, Antônio Pedro Borges, Caike Luna e Fabiana Karla. Os quatro trabalham no programa, mas usam uma camiseta do filme "Casa da Mãe Joana 2", do qual integram o elenco.

Bem pouco à vontade, eles querem convidar o prefeito a assistir na primeira fila do cinema a uma sessão do filme. "Quanto é que eu vou levar nisso?", pergunta o corrupto. "Quero 10% da bilheteria", acrescenta. E ainda avisa: "Vocês todos que trabalham no filme vão entrar no meu palanque. Porque artista fazendo campanha pra político é sempre um sucesso". Veja aqui. Na visão do leitor Mr. Novela, esta foi "a segunda pior propaganda da história".   (a primeira teria sido esta aqui). Concorda?

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.