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Avô e neta movem “Joia Rara” em direção a um melodrama rasgado

Mauricio Stycer

08/11/2013 09h01

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Próxima do capítulo 50, "Joia Rara" tem apostado quase todas as suas fichas em dois personagens em tudo opostos, mas muito próximos, a pequena Pérola, vivida de forma graciosa por Mel Maia, e seu avô paterno, o joalheiro Ernest Hauser, composto com segurança por José de Abreu. São estas duas forças que tem movido a novela de Duca Rachid e Thelma Guedes em direção a um melodrama cada vez mais rasgado.

Ernest é, de longe, o personagem mais interessante da novela das 18h da Globo. Tipo conservador, de formação europeia, é autoritário, rude e violento. Com naturalidade, "comprou" a mulher, Iolanda (Carolina Dieckmann), em troca de uma dívida do pai dela, Venceslau (Reginaldo Faria).

joiararaernest2Ao mesmo tempo, apesar do poder, da força e da maldade, é um sujeito ingênuo, sem malícia. É apaixonado por Iolanda, mesmo sabendo que ela o odeia (além de amar o líder comunista Mundo, vivido por Domingos Montagner). E não se dá conta de que é enganado dentro da empresa e em casa pelo filho de criação, Manfred (Carmo Della Vecchia), e pela designer Silvia (Natalia Dill).

A neta Perola é o maior xodó de Ernest. Ao lado dela, ele se torna um avô bobo, como qualquer outro. Pela neta, faz concessões, é flexível. Enfim, é um personagem rico, repleto de ambiguidades, que esta semana não hesitou em determinar a morte de Mundo ao descobrir que Iolanda está grávida do ex-noivo.

Já Pérola, reencarnação de um líder espirtual budista, é uma criança sensível, com poderes especiais. Tem intuições, sonhos com mensagens e pressentimentos. Irradia ternura e amor em seu objetivo de voltar a unir os pais, Franz (Bruno Gagliasso) e Amélia (Bianca Bin), separados por causa de maldades cometidas pelo avô.

joiaraperolaNo capítulo desta quinta-feira (07), ela estava no Tibete, dormindo, quando subitamente acordou, no momento em que Mundo foi empurrado de uma janela, no Rio. Sentiu que algo ruim aconteceu com o tio. Depois que o pai ligou para o Brasil e descobriu tudo, a família pegou um navio e retornou para casa.

Houve uma passagem de tempo de um mês, o suficiente para o navio chegar. Neste período, Mundo permaneceu em coma. Até que Perola chega no hospital com os pais e monge Sonan (Caio Blat).

No site da novela, o título da cena é "Força espiritual de Perola acorda Mundo". A menina reza um mantra da cura, enquanto o tio em coma começa a reviver, lembrando de cenas importantes de sua vida, até que acorda. Foi uma cena muito forte, de fazer chorar o mais insensível dos espectadores.

Foi, também, lamento, um momento em que a novela apelou pesado, misturando religião e sofrimento para sugerir um certo poder milagroso da fé.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.