Justus estreia simpaticão, mas tão engessado pelo texto quanto Britto Jr.
Mauricio Stycer
24/09/2015 00h15
Diante de 16 candidatos que o público parece já ter visto em todas as outras edições, a grande novidade mesmo da "Fazenda 8" foi a estreia de Roberto Justus no papel ocupado por Britto Jr. desde o início do reality show da Record, em 2009.
É uma mudança significativa – de personalidade, estilos e visual. Sai um jornalista gente boa, mas tenso e atrapalhado. Entra um publicitário vaidoso e com topete, mas simpaticão, capaz de parecer amigo do peito de quem acabou de conhecer.
Uma coisa, porém, não mudou, ao menos na estreia. Aquele misto de frases feitas, clichês e excesso de didatismo que cansam o espectador habitual apareceu na voz de Justus da mesma forma como sempre ouvimos de Britto Jr. Coisas como "ninguém disse que ia ser fácil", "é um jogo de reviravoltas", "as surpresas apenas começaram", "não vamos esquecer que o fazendeiro é o peão que manda na Fazenda", "fortes emoções hoje", entre outras bobagens.
De que adianta trocar o apresentador da "Fazenda" e o texto seguir igual? Este problema já havia aparecido na única experiência feita pela Record com outro apresentador, na "Fazenda de Verão", em 2012. Rodrigo Faro substituiu Britto, mas foi aprisionado pelo mesmo texto chato.
Perto do fim da sua estreia, Justus mostrou impaciência com uma candidata e se soltou um pouco. "Não temos a noite inteira aqui". É isso que esperamos de você, apresentador. Bote para quebrar!
Sobre o elenco, não há muito o que dizer. Os candidatos, como sempre, são ex-famosos em busca de uma segunda chance e quase famosos tentando ganhar notoriedade. Eles parecem preencher sempre as mesmas cotas – há cantores, modelos, um ex-jogador de futebol, uma ex-panicat etc.
Por 12 semanas, é esse time que tem a obrigação de nos divertir. Espero que Justus consiga se livrar das amarras que engessam a "Fazenda" e encontre um jeito de proporcionar uma necessária virada neste reality.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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