“Pânico” mostra disposição para se renovar, mas falta inspiração
Mauricio Stycer
01/02/2016 05h01
No esforço de se renovar sem perder a essência, a primeira medida do "Pânico", em 2016, foi o anúncio, há duas semanas, do fim do casamento com Tiririca, um humorista cujo trabalho conflitava gritantemente com o espírito do programa.
Outras medidas saltaram aos olhos neste domingo (31), na volta ao vivo da atração. Além da nova abertura, do novo cenário e da nova trilha sonora, foram apresentados três novos participantes e vários quadros novos.
A ideia parece ser convencer o espectador de que o velho e bom "Pânico" continua o mesmo de sempre, mas com roupa nova. O problema, infelizmente, é que a disposição não é suficiente se falta inspiração. O programa cada vez mais se parece uma caricatura de si mesmo.
Sem o apresentador Emilio Surita, cuja ausência não foi explicada, o programa foi comandado em parte por Solange, a gaga, e depois pela modelo Aline Riscado. A graça seria justamente a falta de traquejo de ambas para a tarefa, mas não funcionou.
Marvio Lucio, o Carioca, estreou o quadro "O Passageiro", no qual entrevista uma personalidade enquanto dirige por São Paulo. A ideia já foi testada e reproduzida em uma dúzia de programas, no Brasil e no exterior. Outra novidade com Carioca, o quadro "O Quarto do Pânico", parece inspirado no "Teste de Fidelidade", de João Kleber,
Ainda falando de falta de inspiração, o programa exibiu uma piada boba sobre a nova legislação para taxistas em São Paulo ("Taxi metrossexual"), mostrou um arremedo de entrevista de Mari Baianinha com Tays Reis, a cantora por trás da música "Metralhadora", e incrementou o quadro "Afogando o ganso", agora transformado numa disputa entre panicats e ex-panicats.
Outra novidade, o humorista Fabio Rabin estreou ao lado de Daniel Zukerman fazendo piadas em Portugal – para você ter uma ideia, a melhor foi uma pegadinha com o apresentador Geraldo Luis, da Record.
A novidade mais surpreendente da estreia acabou sendo "Tunando minha carroça", um quadro sério, em tom jornalístico, no qual Alfinete e a Mendigata entraram em contato com carroceiros de São Paulo e ajudaram a reformar a ferramenta de trabalho de um deles, no caso, de uma mulher. Na linha de humor inconveniente, o programa ainda estreou o quadro "Wesley Veadão", no qual um humorista aborda homens na rua pedindo para beijá-los e trocar telefones.
Audiência: A estreia da nova temporada do "Pânico" rendeu à Band média de 5 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 69,4 mil residências) — exatamente como na estreia de 2015. Segundo a emissora, a atração ficou em primeiro lugar por uma hora e meia entre os telespectadores na faixa de 18 a 24 anos.
Abaixo a nova imitação de Carioca:
E aqui, o "Tunando minha carroça":
Veja também
Contrato não será renovado, e Tiririca deixa o "Pânico"
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.