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“Rock Story” foge da mesmice com comédia musical para teens e tiozões

Mauricio Stycer

24/11/2016 06h01

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Depois de "Totalmente Demais" e "Haja Coração", claramente destinadas ao público infantil, a Globo ampliou bem o público-alvo de sua nova novela das 19h. "Rock Story", de Maria Helena Nascimento, está se revelando uma saborosa comédia musical, disposta a atingir públicos de idades variadas.

Exibidos os primeiros 13 capítulos, parece claro que a novela busca agradar, de um lado, o universo adolescente e, de outro, espectadores que alimentam alguma nostalgia pela era de ouro do rock no Brasil.

O protagonista da história, Guilherme Santiago (Vladimir Brichta), é um velho roqueiro ainda em atividade (pense, por exemplo, em Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial). Quarentão, tem o seu público, os seus fãs, mas já não faz o mesmo sucesso de antes.

rockstoryleoO seu antagonista é o jovem Leo Regis (Rafael Vitti), garoto de origem humilde que virou o ídolo das adolescentes, com um repertório de canções românticas – apesar da voz fraca e da cabeça limitada. Ele "rouba" de Gui uma música, o sucesso e a mulher do roqueiro.

Entre estes dois há um outro par de bons personagens. Diana (Alinne Moraes) foi casada com Gui por anos, mas está envolvida com Léo, muito mais jovem do que ela. E Lázaro (João Vicente de Castro), o empresário dos dois músicos, alimenta paixão antiga também por Diana.

rockstorydianaPara quem se acostumou a personagens planos, unidimensionais, é uma surpresa ver estes quatro em ação em "Rock Story". Todos são complexos – bons e maus, com qualidades e defeitos, virtudes e fraquezas. Nem parece novela das 19h.

Gui, em particular, é um pai desastrado, traiu a mulher com várias fãs e, egocêntrico, tem dificuldade de perceber o afeto de quem está ao seu redor. Ao mesmo tempo, se revela um sujeito criativo, bom coração e honesto.

Diana trai Gui com Leo, mas se defende dizendo que foi traída várias vezes pelo marido. Mente para a filha do casal Chiara (Lara Cariello), mas a protege como toda mãe faria.

rockstorygordolazaro2Mesmo Lázaro, desenhado até agora com tintas de vilão, não deixa de ter um lado paternal, cuidando tanto da carreira de Gui quanto de Leo.

Já o jovem cantor lida mal com a fama adquirida muito cedo, mas sabe que o seu sucesso mudou a vida da mãe, a ex-gari Néia (Ana Beatriz Nogueira).

Há muito tempo não via uma novela com tantos atores bem escalados para os seus papéis. Além dos já citados, que estão ótimos, há ainda vários outros destaques no núcleo principal.

rockstorynathaliadill2Nathalia Dill vive Julia, uma professora de balé que foi enganada por um namorado e virou "mula" do tráfico de drogas. Herson Capri é Gordo, o dono da gravadora de Gui e pai de Diana – ele mantém o negócio com atitude de roqueiro, apesar da queda das vendas. E o adolescente Zacarias (Nicolas Prattes) é um filho que Gui teve com uma fã – e terá papel essencial nos desdobramentos da trama, quando liderar uma "boy band" de sucesso.

Reza a lenda que Dennis Carvalho, o diretor de "Rock Story", queria Chay Suede para o papel de Leo Regis. Sorte que a sua ideia não vingou. Uma das graças da novela é justamente tratar o galã juvenil com certo deboche, mostrando como ele canta mal, é desajeitado com as fãs e conquistador barato com Diana. Vitti está muito adequado ao papel – bem mais, creio, que seria um ator com perfil de Suede.

"Rock Story" é a primeira novela que Maria Helena Nascimento assina como titular. Mas ela tem bastante experiência. Foi assistente de vários autores em uma dezena de trabalhos, como "Pátria Minha" (1994), "Suave Veneno" (1999), "Celebridade" (2003) e "Alto Astral" (2014).

Até o momento, está mostrando muita habilidade na construção da história e nos diálogos. Além do núcleo principal, há ainda outras tramas paralelas se desenvolvendo, bem articuladas à principal – tanto de humor quanto dramáticas (mais para frente escreverei sobre outros destaques).

Uma novela das 19h não transmitia tão bom humor e diversão desde "Cheias de Charme" (2012) e "Sangue Bom" (2013). Espero que continue assim.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.