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Tatá Werneck dá show em Lady Night, mas deveria ouvir mais os entrevistados

Mauricio Stycer

17/04/2017 05h01


Exibidos os primeiros cinco episódios de "Lady Night", é possível entender melhor o programa apresentado por Tatá Werneck no Multishow. É um talk show típico dos tempos atuais, inteiramente roteirizado, repleto de brincadeiras e pouquíssima conversa.

Inteligente, com timing de comédia e ótima de improviso, acostumada a rir de si mesma e a debochar de tudo e de todos, Tatá tem o perfil mais que adequado para comandar um programa deste tipo.

Um time da pesada passou por seu estúdio nesta primeira semana: Bruna Marquezine, Anitta, Sandy, Daniel e Celso Portiolli (junto com Maria Gadu). A primeira qualidade é que nenhum convidado foi ao programa para promover show, disco, livro ou evento.

Os convidados proporcionaram alguns momentos antológicos – todos eles destinados a viralizar nas redes sociais. Anitta imitou um "bezerro paranoico" no palco. Sandy fez um dueto em italiano com Tatá. Daniel cantou o hino de Brotas. Portiolli esfregou uma torta na cara da apresentadora. Bruna fingiu beijar a amiga na boca.

A entrevista com Daniel foi talvez a que mostrou mais claramente do que trata "Lady Night" – um show de Tatá Werneck. Ao longo dos 40 minutos do encontro, o cantor gargalhou mais de 20 vezes com comentários da apresentadora. Divertiu-se tanto ou mais que a plateia no estúdio com as tiradas absurdas, os comentários nonsense e a piadas com duplo sentido que ouviu.

Daniel foi também o único que reclamou da dicção de Tatá – ela continua falando em ritmo acelerado demais. "Você fala muito rápido, que isso?" Ela até brincou: "A gente tem tecla 'sap' aqui pra quem não estiver entendendo." E emendou: "Se eu perguntar qualquer coisa que você não estiver entendendo, você responde o que quiser e eu faço outra pergunta depois".

Na entrevista com Sandy, Tatá brincou com o assunto: "A Globo me proibiu de falar esse nome, 'Haja Coração', porque pela minha dicção eu falo 'ejaculação'."

São tantos os quadros e piadas programados ao longo de cada entrevista, que Tatá frequentemente não presta muita atenção ao que os seus entrevistados dizem, mesmo quando eles dão deixas instigantes. Anitta, por exemplo, contou que, depois que ficou famosa, começaram a aparecer parentes que ela não conhecia e Tatá mudou de assunto, sem pedir mais detalhes.

A cantora também revelou que está estudando inglês e espanhol, com vistas a uma carreira internacional, e essas informações serviram apenas para um quadro cômico, no qual as duas conversaram nestas duas línguas.

Sandy reclamou que não importa o que faça para mudar a imagem de "fofa", até mesmo apalpar os seios de Tatá, as pessoas dizem que ela está encenando. E a apresentadora não explorou o tema. Daniel disse que enganou uma vaca para conseguir ordenhá-la, e Tatá respondeu com uma piada: "Ah, faz comigo, por favor."

A estreia, com Bruna Marquezine, rendeu demais, talvez pela intimidade das duas, que ficaram amigas durante as gravações da novela "I Love Paraisópolis". Estavam tão afiadas que pareciam até ter ensaiado o encontro.

No dia da entrevista com Sandy, Tatá mencionou "Adnight", fazendo uma piada sobre o excesso de recursos técnicos do programa que Marcelo Adnet apresentou na Globo em 2016. "A gente aqui tem a nossa própria maquina de fumaça", disse, mostrando um artefato vagabundo. "Que saudades de trabalhar na Globo", brincou.

Acho que "Lady Night" merece muito mais ser comparado com "Adnight" do que com o "Programa do Porchat" ou o "The Noite", de Danilo Gentili — e não apenas pela semelhança de títulos.

Assim como a atração de Adnet, o programa de Tatá me parece roteirizado em excesso, quase imune ao imprevisto e ao inusitado. Também, por ser gravado com alguma antecedência, tem evitado os temas da atualidade e acaba sendo mais "frio" que os talk shows da TV aberta.

Na comparação com "Adnight", ainda que com bem menos recursos, "Lady Night" tem se mostrado, até o momento, muito mais divertido. Primeiro, porque o roteiro do programa do Multishow é muito mais ousado e inteligente do que o da atração da Globo. Segundo, porque não tem o caráter promocional, à la "Video Show", que teve "Adnight". E, por fim, porque Tatá é um furacão e, livre para rir de si mesma e debochar de todos, tem tudo para se consagrar também nesta nova atividade.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.