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Autora revê os muitos acertos e o “golpe baixo” que cometeu em “Rock Story”

Mauricio Stycer

30/05/2017 04h01


Colaboradora de diferentes autores em dez novelas ao longo de duas décadas, Maria Helena Nascimento viu, finalmente, o seu nome aparecer em primeiro lugar nos créditos na estreia de "Rock Story", em 9 de novembro de 2016. A longa espera compensou. Mais que os bons números de audiência, a trama que termina na próxima segunda-feira, 5 de junho, deixa a certeza de que a Globo conta com uma nova autora, talentosa e original.

"Rock Story" divertiu o público com o embate entre um roqueiro famoso nos anos 80, Gui Santiago (Vladimir Brichta), e um jovem cantor romântico, Leo Régis (Rafael Vitti), de origem humilde.

Habilidosa, Maria Helena conseguiu dar um ritmo intenso à novela, renovando o tempo inteiro as histórias e evitando a famigerada "barriga" que costuma afetar folhetins longos (este vai ter 179 capítulos). "Eu não gosto de ver uma coisa que fica se repetindo", diz.

Na última quinta-feira (18), na companhia do diretor da novela, Dennis Carvalho, a autora de "Rock Story" recebeu o UOL para uma entrevista em um restaurante dentro dos Estúdios Globo. Ao longo da conversa, Maria Helena faz um balanço da sua experiência, revela bastidores, fala sobre como as séries americanas influenciaram a sua maneira de desenvolver a história, lembra dos muitos acertos da trama e confessa ter cometido um único "golpe baixo" ao longo destes meses.

BALANÇO DA EXPERIÊNCIA
Fiquei muito mais do que satisfeita. Superou tudo que eu podia esperar de bom. Foi muito além. Lembro que nos primeiros meses eu acordava de madrugada, assustada: 'Vou fazer novela!' Desde a sinopse ela foi muito bem recebida. Mas mesmo assim, olhando pra trás, foi muito melhor do que eu poderia imaginar. A gente aprende umas coisas em 20 anos, né? Mas eu já tinha essa cabeça, esse 'drive', de fazer uma novela minha já há alguns anos. Já vinha me preparando para isso.

IBOPE
Não teve nenhuma pressão externa por audiência. A pressão vira sua. Você fica viciado por aquele aparelhinho (medidor de audiência). E o dia que cai você fica desesperada. Mas nunca esteve num patamar preocupante nenhuma vez.

MUDANÇAS NO MEIO
Algumas coisas ficaram de fora. A Chiara (Lara Cariello) eu queria fazer uma coisa meio "Little Miss Sunshine", mas fui vendo que a Diana (Alinne Moraes), com o seu perfil, não poderia ser aquela mãe. A Diana é chique. Não poderia ficar querendo que a Chiara fosse uma artista mirim. Nos grupos de discussão, as espectadoras amavam Suzy Rêgo e Paulo Betti, o que me fez valorizar mais os personagens (Gilda e Haroldo).

IMPREVISTOS
A personagem Stefany (Giovana Cordeiro) entrou para ficar uma semana ou duas. O Dennis se apaixonou pela atriz. Ela é muito boa mesmo. E até me ajudou a dar o final do Leo, que não tinha. Porque eu achava que tinha tudo a ver o Leo voltar para onde ele vinha. Ele não se dá muito bem nesse mundo. E ela o ajudou muito nisso. O Jaiminho (Bruno Bôer), o fã. Ele apareceu nas primeiras imagens. E as pessoas adoraram. 'Quem é esse menino?' Voltou agora no fim. William (Leandro Daniel) e Romildo (Paulo Verlings) cresceram muito. O Dennis até sugeriu fazer uma série com eles. Eu amo eles.

REDES SOCIAIS
Fico longe de Twitter, essas coisas. Sou mais feliz longe. Você acaba dando peso igual ao bom e ao ruim. São opiniões de pessoas só. É a mesma coisa na padaria da esquina da minha casa. Não vou ficar falando tudo pra todo mundo nem vou ficar me importando com tudo que dizem. Não é representativo. É uma voz.

TRAMA SEM BARRIGA
Eu não saberia fazer diferente. É uma coisa da cultura da gente como público mesmo. Eu não gosto de ver uma coisa que fica se repetindo, uma variação da mesma cena. Me dá agonia ver…

INFLUÊNCIA DE SÉRIES
Ninguém ficou imune à onda das séries. Eu mesma, quando veio este boom das séries e todo mundo virou roteirista, fiz vários cursos. Senti necessidade. As séries trouxeram para as novelas uma contribuição. Tem uma influência ali, que ninguém pode escapar. Até inconsciente. Acho difícil a gente, como público, sentar e se contentar com um negócio que demora um mês para resolver…

A MOCINHA CLICHÊ
A mocinha é uma coisa espinhosa sempre. Em toda novela que fiz. Concordo com você. O que a gente fez um pouco menos tradicional foi ela ser fugitiva da polícia e a atriz (Nathalia Dill) teve a chance de fazer uma gêmea da personagem. Mesmo sendo duas personagens, você incorpora aquilo um pouco no imaginário do que é o personagem. As mocinhas tendem a ser mais tradicionais.

OUTRO CLICHÊ
A falsa gravidez da Diana. Não me orgulho dessa gravidez. Foi o ponto mais baixo da minha carreira (risos). Mas, às vezes, não dá. É muita história que você precisa criar… E aí veio o golpe baixo da falsa gravidez.

LEO REGIS
Gosto deste personagem burro, bobo, que tem uma ingenuidade, uma inocência. Ele é, pensando agora, um personagem egresso de seriado. O humor dele não é de novela. Ele fala umas besteiras e a gente nunca botou ninguém pra corrigir, confiando na capacidade de o público de entender. Ele foi uma aposta menos novelesca como personagem. Acho legal ele ser o cara que cansa do show business, o cara que não aguenta isso.

SPOILER
Não entendo porque hoje em dia tem essa cultura do spoiler pra tudo e não tem pra novela. Isso me incomoda. Seria muito melhor não ter. É uma chatice. A gente tem o maior trabalho para bolar o negócio…

O FINAL
"Rock Story" não é uma novela de muitos segredos. Acho que só entendi isso agora no final. Não tem nada para revelar. Me deu até uma certa aflição. Não tem um 'quem matou?', um bastardo… Tem fechos de histórias e uma gracinha no último capítulo.

SILVIO DE ABREU RECOMENDA
Sou muito ansiosa. Não agüentaria guardar um segredo, como quem roubou o CD do Gui, por meses. Nunca pensei um segredo que durasse a novela inteira. Nunca teve fôlego para isso. O próprio Silvio de Abreu fala isso: queima a história, solta a história. Porque quando você faz isso, abre espaço para outras histórias. Às vezes, o autor tem um certo medo. Mas o público não aguenta. Eu não aguento como público.

PLANOS FUTUROS

Trabalhei de 12 a 14 horas por dia, de segunda a segunda em "Rock Story". Tive duas folgas nestes oito meses. Foi muito legal. Eu me senti um soldado. Tem que dormir direito, comer direito. Eu ficava com medo de comer sushi, steak tartar. Vai que dá uma dor de barriga… Agora vou descansar. Nem consigo pensar em outra coisa agora.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.