O exibido Jô Soares chega aos 80 anos dando show de humor em biografia
Mauricio Stycer
16/01/2018 05h01
Ator, comediante, diretor de teatro, cineasta, artista plástico, apresentador de talk show, escritor… Exibido desde criança, como gosta de contar, Jô Soares comemora 80 anos nesta terça-feira (16) podendo acrescentar uma nova atividade ao currículo: transformou a sua biografia recém-publicada num show de humor.
Quem lê este primeiro volume das suas memórias tem a impressão de estar ouvindo-o, sozinho num palco, contando histórias. Em várias passagens, me peguei gargalhando com a narração dos causos que ele vai emendando um atrás do outro, sobre as pessoas que conheceu e as aventuras que viveu desde a infância até o final da década de 1960.
Há, também, muito espaço para recordações de caráter mais emotivo e muito carinhosas, ligadas aos pais, Mercedes (a Mêcha) e Orlando (o Garoupa) Soares. E ao filho Rafael, que era autista. Para quem se interessa pela vida pessoal, Jô fala bastante, também, da primeira mulher, a atriz Tereza Austregésilo, que abandonou a carreira para se dedicar à criação de Rafael.
Em uma passagem, Jô reflete sobre o próprio projeto do livro: "Escrever memórias tem dessas coisas, a gente fica sempre numa zona nebulosa e incerta sobre o que foi que realmente aconteceu na vida das pessoas, sobre o que elas contavam sobre a sua própria vida, sobre o que os outros contavam sobre a vida dessa pessoa e sobre o que recordamos de todas essas versões, muitas vezes muito conflitantes".
Em seguida, confessa: "Para mim, não existe nada mais profundamente humano do que a capacidade de fabular, mesmo que a fábula esteja entranhada na realidade. Só por isso resolvi contar as minhas memórias, porque elas são, muitas vezes, fantasias mais profundas do que qualquer realidade."
Para quem gosta de televisão, as lembranças de Jô incluem bons retratos de personagens importantes dos anos 1960, como Silveira Sampaio, Ronald Golias e Fregolente, detalhes sobre o nascimento do programa "Família Trappo", na Record, e piadas com Boni (que ele gosta de chamar de Bonifácio), entre milhares de outras recordações.
O "Livro de Jô" (Companhia das Letras, 478 págs., R$ 64,90) traz, também, muitas histórias sobre o teatro paulistano e a boemia na cidade entre os anos 1950 e 60, bem como sobre o chamado cinema "marginal" – Jô atuou em "Hitler Terceiro Mundo", de José Agripino de Paula, e em "A Mulher de Todos", de Rogério Sganzerla. Além de ter exposto na 9ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1969. O segundo volume, prometido para 2018, terá início com a sua ida para a Globo, em 1970.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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