Discórdia entre Brown e público mostra que The Voice devia ser Kids e Teen
Mauricio Stycer
01/04/2018 15h31
A uma semana da grande final, a terceira temporada do "The Voice Kids" mostrou, mais uma vez, que o reality musical tem um problema estrutural que a Globo insiste em não resolver, apesar de ser de solução fácil.
O show de talentos infantil aceita participantes entre 9 e 15 anos. Esta diferença de idade provoca um abismo entre os candidatos. Entre os mais jovens, se estabelece um concurso de "fofura" e entre os mais velhos a disputa é, de fato, musical.
A semifinal da equipe de Carlinhos Brown chamou a atenção para o problema que esta fórmula cria. Mariah Yohana, de 9 anos, cantou "Depende de Nós", de Ivan Lins. Ranna Andrade, de 12, escolheu "Como É Grande Meu Amor por Você", de Roberto Carlos. E Talita Cipriano, de 14, interpretou "Crazy"', de Brian Burtun.
Se tivesse pensado apenas nas chances de alguém da sua equipe vencer o concurso, no próximo domingo, o técnico teria que escolher Mariah, a mais popular entre os espectadores. Mas, coerente, Brown optou por Talita (à dir.). Parte do público, que votou pesadamente na menina de 9 anos, ficou revoltada, naturalmente, com a decisão dele.
A solução para este problema é simples e já foi sugerida aqui neste blog. Bastava a Globo organizar duas competições paralelas – um "The Voice Kids" para as crianças de 9 a 12 anos e um "The Voice Teen" para os adolescentes, de 13 a 15.
Globo se rende à vontade do público e muda a decisão de Brown
Atualizado às 18h40: No início da noite, a Globo informou que a menina Mariah também participará da final do "The Voice Kids". Segundo a emissora, "numa análise mais detalhada sobre as casas decimais da apuração dos votos, notou-se que, sem o arredondamento, Mariah Yohana teria permanecido na competição, com uma pequena vantagem de 45,05% dos votos, contra 44,82% de Talita Cipriano". Leia mais aqui.
A decisão tem dois significados. Em primeiro lugar, mostra que a Globo não quer, de maneira nenhuma, se colocar contra a vontade da audiência. E, em segundo lugar, revela um enorme desprestígio de Carlinhos Brown. A emissora passou por cima da decisão dele apelando a uma desculpa esfarrapada.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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