Furos em “Segundo Sol” incomodam o espectador, e ele tem razão de reclamar
Mauricio Stycer
25/05/2018 06h01
O salto de quase 20 anos em "Segundo Sol", exibido no capítulo de quinta-feira (24), mexeu com a imaginação dos espectadores. Nenhum personagem adulto da primeira fase envelheceu – só as crianças cresceram. Foi uma opção do autor e/ou da direção, mas incomodou parte do público.
Muita gente também não entendeu como Valentim (Danilo Mesquita), que idolatra tanto o pai, nunca se deu conta de que Miguel e Beto Falcão (Emílio Dantas) são a mesma pessoa – uma rápida pesquisa no Google colocaria, no mínimo, uma pulga atrás da orelha do rapaz.
Ainda que seja um pouco mais difícil, porque não há fotos dela, muitos espectadores acham inadmissível que Manuela (Luisa Arraes) não se dê conta de que a DJ Ariella é, na verdade, sua mãe Luzia (Giovanna Antonelli). Ela a viu pela última vez com 5 ou 6 anos de idade.
Vários outros furos também foram notados nos primeiros nove capítulos da novela, durante a primeira fase. Falhas de edição/gravação, repetição de cenários de outras novelas, uso de uma mesma figurante em situações incabíveis – o UOL reuniu uma lista aqui.
Fãs de "Segundo Sol" e de João Emanuel Carneiro respondem a estas dúvidas, e outras, com frases parecidas. "É novela". "É ficção". "Não tem compromisso com a realidade". Concordo apenas em parte. Numa trama com pretensão realista – e não fantástica – é justo esperar coerência e lógica.
Autores da Globo têm bastante tempo pra escrever uma novela. Ganham para isso. Não acho errado o espectador cobrar verossimilhança da trama ou se incomodar com furos. O brasileiro tem pós-doutorado em novela. Merece ser tratado com cuidado e respeito ao seu conhecimento.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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