CNN Brasil não será de esquerda nem de direita, promete Douglas Tavolaro
Mauricio Stycer
21/01/2019 14h48
Na primeira entrevista desde que o negócio em sociedade com o empresário Rubens Menin foi anunciado, na última segunda-feira (14), Tavolaro evitou entrar em muitos detalhes sobre o futuro canal, mas adiantou a sua visão sobre o negócio.
Ele não confirmou os números mencionados de jornalistas que serão contratados (falou-se em 400), mas informou que a CNN Brasil buscará profissionais em diferentes áreas do país. Também comentou sobre o que o levou a deixar a Record, onde ocupava a vice-presidência de jornalismo. "Meu ciclo terminou", diz ele.
Tavolaro tem 41 anos. É jornalista desde os 19, com passagens pelos jornais "O Estado de S.Paulo" e "Diário Popular" e pela revista "IstoÉ". Fez carreira na Record TV, em diferentes posições, até alcançar a vice-presidência de jornalismo, cargo que ocupou nos últimos 14 anos. Neste período, foi coautor das biografias "O Bispo" e "Nada a Perder", de Edir Macedo, dono da Record e fundador da Igreja Universal.
Essa proximidade com Macedo alimenta diferentes especulações, tanto sobre a vida pessoal de Tavolaro quanto sobre os interesses da CNN Brasil. O jornalista afirma que não tem nenhuma relação de parentesco com o ex-patrão ("nunca tive, e não teria problema em reconhecer isso") e assegura que o futuro canal de notícias não tem sócios ocultos.
A pedido de Tavolaro, a entrevista foi feita por escrito. Ele não respondeu a três perguntas: uma sobre como o canal vai se viabilizar num momento de dificuldade do mercado de TV paga no Brasil, uma sobre a função de um canal de notícias 24 horas e uma sobre a posição política da CNN americana. A sua assessoria disse que ele responderá a estas questões mais para frente. Abaixo, a íntegra da entrevista:
O que levou você a trocar a vice-presidência da Record, uma das maiores empresas de comunicação do país, e embarcar na aventura de criar um canal de notícias para a TV paga?
Douglas Tavolaro: A CNN é uma marca global de jornalismo com uma força incontestável, a maior do mundo por toda trajetória de sucesso que construiu nos Estados Unidos e em dezenas de países. Acredito ainda que termos mais opções de notícias sérias e de alto nível profissional no Brasil é um desejo de todos, um bem e uma necessidade para o país, para o público de casa que consome informação e para o mercado de mídia em geral. Fizemos isso na TV aberta nos últimos quase 20 anos, pouco a pouco, praticamente do zero, e agora queremos fazer nas demais plataformas com a maior marca de notícias do planeta. Foi ótimo aceitar o desafio de empreender e encabeçar um canal de notícias novo com a chancela de uma marca mundial de prestígio como a CNN.
Qual é o tamanho do investimento? São só dois sócios apenas? Vocês vislumbram começar a recuperar o investimento depois de quanto tempo?
Não posso falar sobre nosso plano de negócios e investimentos por motivos de sigilo de contrato. A CNN Brasil é uma marca licenciada de uma empresa brasileira que tem apenas eu e Rubens Menin como sócios. Aliás, foi uma alegria ter o Rubens como parceiro nessa jornada, um empreendedor de sucesso e muito querido no país.
Há espaço para um terceiro canal de notícias brasileiro na TV paga, além dos da Globo e da Band? O que a CNN Brasil pode oferecer de diferente?
Sim, acreditamos nisso. Teremos o nosso jeito próprio de fazer jornalismo, com mentes brasileiras produzindo para brasileiros, e com o apoio de uma das maiores indústrias de conteúdo de notícias do mundo. A CNN, conhecida por todos, será apresentada com a cara do Brasil.
A sua ligação de muita proximidade profissional com Edir Macedo, dono da Record, e manifestações políticas recentes do empresário Rubens Menin em apoio ao governo Bolsonaro têm alimentado a especulação que o canal CNN Brasil estaria nascendo com o propósito de apoiar o novo governo. O que você pode dizer a respeito?
Já li e ouvi de tudo sobre isso nos últimos dias. As redes sociais estão repletas de comentários, artigos e teorias de que a CNN Brasil será um canal de esquerda. Outros dizem que seremos de direita. As teses se multiplicam com um nível de invenção incrível. Não existe nada disso. Seremos uma emissora de jornalismo com a única missão de levar ao público, aos anunciantes e ao mercado publicitário informação com qualidade, imparcialidade e correção, e pluralidade de opinião entre nossos colunistas.
A propósito, você tem, ou já teve, alguma relação de parentesco com Macedo?
Nenhuma, nunca tive, e não teria problema em reconhecer isso. Essa é uma mentira, uma bobagem que corre na internet há algum tempo. E muita gente publica isso sem o mínimo de apuração. Meu ciclo na Record terminou, sou extremamente grato, foi ótimo, mas chegou ao fim, é passado. O foco agora é a CNN Brasil, cem por cento. Queremos construir uma nova opção de jornalismo de brasileiros para brasileiros, com respeito, humildade e muito trabalho.
Está certa a informação de que a CNN Brasil terá 400 jornalistas e 800 funcionários? Vocês já escolheram os jornalistas que vão comandar as redações da CNN Brasil? Pode adiantar alguns nomes?
Há um planejamento de negócio em andamento. Precisaremos de um time importante de jornalistas e profissionais de mídia das mais diferentes áreas em todo país. Esse trabalho será desenvolvido ao longo dos próximos meses, com muita pesquisa e estudo. Estamos confiantes que o público e o mercado vão abraçar a CNN Brasil.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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