Record e Band citam menção de Bolsonaro à Globo; SBT e RedeTV! ignoram
Mauricio Stycer
20/02/2019 01h02
O vazamento de áudios de mensagens trocadas entre Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno foi notícia nos principais telejornais de todas as emissoras de TV aberta nesta terça-feira (19). Mas um dos pontos principais, a menção à Globo como "inimiga" do presidente, foi ignorado por alguns dos concorrentes – só Record e Band citaram este áudio.
SBT, RedeTV! e Band também não fizeram qualquer menção à preocupação de Bolsonaro com "a mensagem" que iria passar "para as outras emissoras" o encontro que Bebianno havia agendado com um executivo da Globo.
No total, os telejornais "SBT Brasil", "Jornal da Band", "RedeTV! News" e "Jornal da Record" dedicaram 18 minutos ao assunto, menos tempo que o "Jornal Nacional", em duas reportagens, usou para tratar do caso (20min41).
Ao exigir que o então ministro da Secretaria-Geral de governo cancelasse uma reunião agendada com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo, o presidente disse:
"Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto? Eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim. Mas trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí."
O "Jornal da Record" falou do caso por 4min53. "Nas conversas dá pra perceber que o presidente perdeu a confiança no ex-aliado", diz o apresentador Celso Freitas. "As mensagens revelam descontentamento do presidente Jair Bolsonaro com a postura do ex-aliado. Bebiano marcou um compromisso com um executivo do Grupo Globo sem consultar o presidente", acrescentou o repórter.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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