Record e SBT dedicam a Flavio Bolsonaro quatro vezes menos tempo que Globo
Mauricio Stycer
14/05/2019 05h01
Uma das principais notícias da segunda-feira (13), a quebra do sigilo bancário e fiscal de Flavio Bolsonaro autorizada pela Justiça do Rio mereceu tratamento jornalístico muito diferente dos principais telejornais da TV aberta brasileira.
Por envolver um senador que é filho do presidente, seria possível imaginar que a decisão judicial despertaria interesse geral. Mas não foi bem assim. No "Jornal da Cultura", a apresentadora Joyce Ribeiro resumiu a história em 48 segundos, sem exibir qualquer imagem. No "SBT Brasil", o assunto mereceu uma reportagem de 1:15, sem muitos detalhes, praticamente o mesmo tempo dedicado pelo "Jornal da Record (1:23).
Na estreia de um novo apresentador, Eduardo Oinegue, o "Jornal da Band" entendeu que a notícia tinha importância – foi a segunda na "escalada" do telejornal e ganhou reportagem de Sandro Barboza de quase três minutos. Metade do tempo foi dedicado a uma entrevista exclusiva com Flavio Bolsonaro, dada na emissora, na qual ele criticou a investigação e se defendeu.
O "RedeTV News" também entrevistou o senador. Por cinco minutos, ele repetiu as críticas ao Ministério Público e se defendeu. A emissora não mostrou as perguntas feitas a Flavio Bolsonaro. No fim ele pediu para "agradecer o espaço" recebido. Após a exibição da sua fala, Boris Casoy dedicou 20 segundos à reposta do MPF às críticas do senador.
Já o "Jornal Nacional" exibiu a reportagem mais longa (5:41) e detalhada sobre o assunto. O repórter Paulo Renato Soares apresentou diferentes aspectos da investigação do MPF e do despacho do juiz que autorizou a quebra de sigilo bancário. Mostrou quem são os alvos, além do senador, incluindo um homem acusado de ser miliciano e três empresários americanos, envolvidos em negócios imobiliários. Sem falar com Flavio Bolsonaro, reproduziu as críticas do senador ao inquérito feitas em entrevista ao Estadão.
Record e SBT dedicaram, cada uma, aproximadamente um quarto do tempo que a Globo deu ao mesmo assunto. Pela importância da notícia, é possível afirmar que minimizaram o impacto do caso.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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