Em A Dona do Pedaço, metade dos personagens quer dar golpes na outra metade
Uma reclamação constante sobre novelas é que elas só mostram maldades. Este tipo de comentário costuma ser feito por gente que espera apenas escapismo dos folhetins da televisão. De violência e mau comportamento, basta a realidade, costumam dizer.
Não concordo. É difícil fazer boa ficção sem antagonistas e vilões. Mas reconheço que, às vezes, a estrutura das novelas é simples demais e recorre a artifícios pouco criativos para estabelecer conflitos.
Veja, por exemplo, alguns dos conflitos em "A Dona do Pedaço", a atual novela das 21h, de Walcyr Carrasco.
Agno (Malvino Salvador) convocou Fabiana (Nathalia Dill) para ajudá-lo a dar um golpe na família da mulher. Ele quer se separar de Lyris (Deborah Evelyn) sem pagar nada para ela. E filmou a mulher o traindo com o entregador de bolos.
Já Fabiana quer dar um golpe na irmã, Vivi (Paolla Oliveira), por quem alimenta infinita inveja, e no próprio Agno. Com a ajuda de Rock (Caio Castro), a ex-religiosa descobriu que o empresário é gay e vai chantageá-lo.
Josiane (Aghata Moreira) e Regis (Reynaldo Gianecchini) querem dar um golpe em Maria da Paz (Juliana Paes). Jô ambiciona roubar a mãe e, com este objetivo, convenceu seu namorado a conquistar a boleira. Para o golpe funcionar, a jovem também engana seu pai, Amadeu (Marcos Palmeira) e a mulher dele, Gilda (Heloisa Jorge). "Não fala pro meu pai que você tá curada. Mente pro seu próprio bem…", Jô pediu a Gilda, recém-curada de um câncer, nesta segunda-feira (24) – e a fisioterapeuta concordou.
Kim (Monica Iozzi) é uma truqueira profissional. Empresária de "influenciadores digitais", ganha dinheiro oferecendo dicas para tornar suas contratadas famosas. Também mente descaradamente e faz todo tipo de armação para ficar com Márcio (Anderson Di Rizzi), que tem uma relação com Sílvia (Lucy Ramos).
No núcleo dos sem-teto um quer enganar o outro. Chico (Tonico Pereira), Cornélia (Betty Faria), Doroteia (Rosi Campos) e Eusébio (Marco Nanini) são malandros e tentam se dar bem com pequenos truques. Não bastasse, agora entraram em cena Juninho (também vivido por Nanini) e Dinorá (Berta Loran), para incrementar o núcleo.
Os matadores da nova geração, na guerra dos Ramires contra os Matheus, são representados por Chiclete (Sérgio Guizé) e Rael (Rafael Queiroz). Ambos entraram na novela com a missão de matar familiares rivais – e, por enquanto, os dois erraram os alvos.
Esqueci de algum golpista?
Atualizado: Sim, esqueci. Faltou mencionar Edilene (Cynthia Senek), a empregada doméstica que deu o "golpe da barriga" no empresário Otavio (José de Abreu) e engravidou. Na sequência, ao fazer um aborto numa clínica clandestina, acabou morrendo. Isso levou seu pai, Cosme (Osvaldo Mil), então motorista da família de Otavio, a contratar um matador (Chiclete) para se vingar.
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