Fátima provoca catarse com fala da mãe de Ághata, mas isso é função da TV?
Esta terça-feira (24) foi dia de chorar no "Encontro com Fátima Bernardes". Com exclusividade, o programa trouxe os pais da menina Ághata, assassinada com um tiro de fuzil no Rio, e exibiu um depoimento emocionado e emocionante dos dois.
Por 27 minutos, ao vivo, Vanessa e Adegilson extravasaram a dor pela morte da filha. A mãe falou mais longamente que o pai. De olhos fechados, segurando uma boneca, ela narrou a tragédia no presente, como se estivesse vivendo a situação naquele momento: "Ela levou um tiro! Ela levou um tiro!" Um pouco mais calma, acrescentou: "Eu preciso falar, eu tenho que ter forças para falar, por ela".
O pai, inicialmente, apenas observou que não poderia dizer nada. Chorando, balbuciou: "Não tenho nem o que falar, não tenho forças". Ao final, um pouco mais calmo, fez um raro comentário de tonalidade política: "Governador, muda essa política, muda essa política de atirar. Muda. O que aconteceu com minha filha pode acontecer com a família de outras pessoas também".
Antes de começar o programa, Fátima deve ter intuído o que iria acontecer. Pois abriu o "Encontro" justificando a presença do casal. "A gente não quer que a morte de inocentes se transforme apenas em números, em estatísticas, que estas pessoas não tenham rosto, não tenham fala, não tenham as suas histórias de alguma forma preservadas."
Mais para o final, a apresentadora procurou justificar a catarse que ajudou a provocar. Dirigindo-se ao psiquiatra Jairo Bauer, ela disse: "Jairo, é muito difícil ver um depoimento como esse, né? Porque é uma torrente tão grande de emoção e a gente não deve, também, tentar frear isso, né?"
Ela ainda acrescentou: "De alguma maneira, eles, como pais, não devem se culpar. Ela ficava pedindo força, mas tem momentos em que essa força não vem mesmo. A situação é muito limite, é de muito desespero mesmo. E tem que se respeitar esse momento".
Bauer respondeu: "Não dá pra gente não passar por esta dor. É muito forte mesmo. E vocês têm que colocar pra fora mesmo. É falar, é trazer essa emoção pra fora mesmo. É magoa, é raiva, é tristeza e a gente tem que falar disso mesmo. Acho muito importante que vocês estejam aqui hoje, no meio de toda essa dificuldade, pra gente ver o quão difícil é isso. O quão difícil está a vida nas comunidades, o quão difícil é essa realidade".
Acho que Fátima deixou no ar justamente uma questão importante: por que ela não deveria tentar frear a emoção do casal? Trata-se de um programa de auditório ou um consultório de terapia? A televisão é o lugar para isso?
Não tenho dúvidas de que os pais de Ághata transmitiram sentimentos profundos e verdadeiros no programa, atraindo ainda mais solidariedade para eles. Mas também há quem preferisse ouvir Fátima debater com sobriedade o que aconteceu e tenha se incomodado com o excesso de drama exibido.
Os quase 30 minutos me pareceram um exagero. Vanessa falou, inicialmente, por oito minutos sem ser interrompida por Fátima. Concordo que bons apresentadores sabem ouvir, mas Fátima poderia ter dado outro ritmo à cena. Ao deixar os pais de Ághata derramarem tanta emoção no ar, imagino que a comandante do "Encontro" também levou em conta os ganhos em audiência que teria.
Veja também
Fátima se emociona, e entrevista com pais de Ághata divide opiniões na web
"Mude sua política de atirar", pede pai da menina Ágatha a Witzel
Sobre o autor
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.