A Regra do Jogo melhora quando reforça o drama dentro da história policial
Nilson Xavier
20/12/2015 18h17
A novela "A Regra do Jogo" ganha um novo gás com a revelação de que Gibson Stewart (José de Abreu) é o "pai" da facção – o poderoso chefão da organização criminosa. A escolha por esse personagem não surpreendeu. Desde o início desconfiava-se dele. Principalmente por Gibson parecer um personagem avulso na trama, sem função, a não ser desferir falácias ultraconservadoras à la Odete Roitman. Parecia mesmo que Zé de Abreu estava sobrando na novela, num personagem aquém de seu talento.
A história principal de "A Regra do Jogo" é mais complexa, exige atenção e raciocínio do telespectador. Mas o foco no lado policial estava tornando-a repetitiva. Estou me referindo exclusivamente à sua trama central – as paralelas nem deveriam estar lá! Vale ressaltar que a audiência melhorou com o fim de "Os Dez Mandamentos": nas últimas semanas, a novela tem cravado 31 pontos no Ibope da Grande São Paulo, por alguns dias – o seu recorde.
"A Regra do Jogo" começou bem, tendo como destaque a atuação marcante de Cássia Kiss, como Djanira. A personagem fazia as vezes do telespectador, perplexa diante de cada descoberta sobre os que a circundavam e seus envolvimentos com a facção. A morte de Djanira foi uma grande perda para a história. As cenas de Cássia Kiss eram sempre muito carregadas de emoção. A novela ficou mais fria sem a personagem, mais calcada no vai-e-vem da facção. E assim perdeu gás.
Agora, que sabemos que Gibson está por trás da organização, é a chance de um "recomeço" para "A Regra do Jogo". A presença de Deborah Evelyn, como Kiki, traz à tona novos conflitos em uma trama interessante que pode render bem. A atriz está ótima na pele da mulher sequestrada (a mando do próprio pai), que se apaixonou por seu algoz (Zé Maria/Tony Ramos) e criou uma nova família, deixando para trás o seu passado. A novela melhora quando intensifica os dramas pessoais dos personagens, em detrimento do joguinho de gato e rato entre a facção e a polícia, que – convenhamos – andava bem maçante.
Leia também:
Maurício Stycer: "A Regra do Jogo dá passo ousado ao colocar empresário como líder do crime".
Notícias da TV: "Foi difícil guardar segredo sobre o Pai, falo demais", disse José de Abreu.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.