Anã para novela das 9 não passa de atração grotesca para chamar audiência
Quando a Globo anunciou que haveria uma personagem anã em "O Outro Lado do Paraíso", imaginou-se que seria a oportunidade de discutir os problemas de pessoas com nanismo, como as dificuldades no dia a dia, inclusão social e bullying. Na primeira fase da novela, surgiu Estela, vivida pela atriz Juliana Caldas, a filha anã da megera Sophia (Marieta Severo), indesejada pela mãe.
Estela foi apresentada como uma pessoa esclarecida, que vivia na Suíça, tendo estudado nos melhores colégios. Uma moça culta e preparada, com pós-graduação no exterior, etc e tal. O autor Walcyr Carrasco até desenhou algumas cenas mostrando as dificuldades de Estela, na hora de ligar o chuveiro, subir à cama ou sentar à mesa. Mas ficou nisso, no básico, no superficial. Sophia deu um jeito de exilar a filha em uma casa no vilarejo onde tem a mina de esmeraldas. E assim o autor eliminou qualquer possibilidade de tratar o assunto com a seriedade que merece.
Dez anos se passaram, entrou a fase definitiva da novela e Estela, a moça estudada na Suiça, estava lá, lendo livros em seu cativeiro, como a princesa presa na torre suspirando por um príncipe que venha salvá-la de seu triste destino… de anã. Surgiram então dois galantes pretendentes que passaram a disputá-la. O que Estela fez? Passou 100 capítulos da novela se vitimizando, choramingando ou porque a mãe não a amava, ou porque não acreditava no amor legítimo dos rapazes. Perdemos as contas de quantas vezes ela repetiu "Você fala isso só porque eu sou anã!".
No capítulo desta segunda-feira (19/02), Estela se rebelou. Será que a ficha caiu? Depois de 10 anos lendo livros, sendo cuidada por uma babá e sustentada pela mãe que ela sabe que a odeia… Depois de 100 capítulos!
Desperdiçou-se, neste tempo todo, a oportunidade de mostrar que uma mulher anã também pode ser independente, empoderada, dona de seu nariz e de seu corpo, sem depender de homem para ser feliz. Que lástima a atriz Juliana Caldas estrear na televisão justamente com uma personagem tão… infeliz – em todos os sentidos. Será que lá no início, quando foi escalada para o papel, ela imaginou que acabaria assim?
Restou a impressão de que o autor incluiu uma personagem anã em sua novela apenas para chamar a atenção da audiência. Para aguçar a curiosidade do público. Como eram usados os anões em circos, em freak shows: como uma atração, algo grotesco. No fim, é apenas mais uma trama mal alinhavada e mal escrita de "O Outro Lado do Paraíso" que, no fundo, apenas reforça estereótipos. Lamentável.
Sobre o tema, indico esse texto: "O Outro Lado do Paraíso e o vale-tudo pela audiência: onde fica a qualidade?";
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