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Se o critério do Oscar fosse meu, só meu: palpites, especulações e torcidas

Nilson Xavier

24/02/2019 07h00

Pantera Negra | Nasce uma Estrela | Roma | Bohemian Rhapsody

Assisti a 17 filmes nas principais categorias do Oscar 2019: melhor filme, filme estrangeiro, diretor, atriz e atriz coadjuvante, ator e ator coadjuvante, roteiro original e adaptado, fotografia e edição. Falo rapidamente de cada um, com minhas impressões e especulações, baseadas meramente em critérios pessoais e subjetivos. Desconsidero o favoritismo de cada filme, não são apostas, nem certezas, mas palpites, pitacos e algumas torcidas. Segue a thread!

01. O melhor filme entre os indicados, em minha singela e humilde opinião, é "Infiltrado na Klan". São 6 indicações: filme, diretor (Spike Lee), ator coadjuvante (Adam Drive), roteiro adaptado, edição e trilha sonora. Um filme bem dirigido, ágil e bem montado. Não dá para desgrudar os olhos da tela e não se percebe o tempo passar. Divertido, mesmo com alguns momentos de tensão. A dupla de protagonistas é fantástica: John David Washington (que merecia uma indicação a melhor ator) e Adam Drive. Ainda a representatividade negra, colocada no roteiro de forma espirituosa, apresentando a contrapartida, os membros da Ku Klux Klan, tão risíveis quanto temíveis.

02. "Roma" é um deslumbre visual, de uma beleza ímpar. O típico filme para ganhar o Oscar de melhor filme. Acho que leva e que Alfonso Cuarón será agraciado o melhor diretor. São 10 indicações: filme, filme estrangeiro, diretor (Alfonso Cuarón), atriz (Yalitza Aparicio), atriz coadjuvante (Marina de Tavira), roteiro original, fotografia, direção de arte, edição de som e mixagem de som. Sei que muita gente não gosta, porque acha a narrativa lenta – no que discordo, sou #TeamRoma. Merece sim, pelo menos as estatuetas de filme, filme estrangeiro, direção e fotografia. Não acho que Yalitza Aparicio e Marina de Tavira, que concorrem aos prêmios de atriz e atriz coadjuvante, vençam, frente a concorrentes mais fortes. AQUI meu texto sobre "Roma" na época de seu lançamento.

Infiltrado na Klan | Vice

03. "Bohemian Rhapsody", como entretenimento, cumpre muito bem sua função. Os fãs de Freddie Mercury se deliciam com tantas músicas do Queen. A sequência final é emocionante. Porém, trata-se de um roteiro por demais quadrado e uma cinebiografia que tomou muitas liberdades criativas e temporais. Mesmo assim, eu adoro. Rami Malek merece o prêmio de ator, está fantástico – apesar do dente exagerado. 5 indicações: filme, ator (Rami Malek), edição, edição de som e mixagem de som. AQUI meu texto sobre "Bohemian Rhapsody" na época de seu lançamento.

04. Tanto Bradley Cooper quanto Lady Gaga estão bem em "Nasce uma Estrela", um filme bem dirigido (pelo próprio Bradley), bem montado, com músicas ótimas. São 8 indicações: filme, atriz (Lady Gaga), ator (Bradley Cooper), ator coadjuvante (Sam Elliott), roteiro adaptado, fotografia, mixagem de som e canção ("Shallow"). Porém, não acho que mereça qualquer prêmio que não seja o de música, para a melosa "Shallow".

05. "Vice" é um filme para americano ver, com uma trama política pertinente aos Estados Unidos (com ecos no mundo, claro). Eu saí do cinema surpreendido positivamente, não somente pela interpretação de Christian Bale (meu preferido para o prêmio de ator), mas também porque o filme é bem dirigido, com uma montagem muito bacana e criativa, baseada na publicidade. 8 indicações: filme, diretor (Adam McKay), ator (Christian Bale), atriz coadjuvante (Amy Adams), ator coadjuvante (Sam Rockwell), roteiro original, edição e maquiagem e cabelo. Confesso que não curti Sam Rockwell como George W. Bush, o filho. Não achei nem parecido!

A Favorita | Green Book: O Guia

06. "A Favorita" (o filme, não a novela) recebeu nada mais, nada menos do que 10 indicações: filme, diretor (Yorgos Lanthimos), atriz (Olivia Colman), atriz coadjuvante (Emma Stone e Rachel Weisz), roteiro original, fotografia, edição, direção de arte e figurino. Um ótimo filme, com ótimas atrizes. Na dúvida entre Emma Stone e Rachel Weisza Flora e Donatela gringas – minha inclinação é torcer por Emma. Porém, o que curti mesmo foi a direção "estilosa", os diálogos sarcásticos e a montagem, ágil e criativa.

07. Aclamado como um dos melhores filmes de super-heróis da história, "Pantera Negra" é um filmaço! São 7 indicações: filme, figurino, edição de som, mixagem de som, direção de arte, trilha sonora e canção ("All the Stars"). Eu sai do cinema extasiado. Não se trata apenas de mais um filme de super-herói. O roteiro é típico desse tipo de blockbuster, mas "Pantera Negra" entrega mais: aborda questões de representatividade pertinentes ao nosso tempo – tal qual o também ótimo "Mulher Maravilha", com Gal Gadot. Sou fã dos dois.

08. Dos candidatos a melhor filme, "Green Book: O Guia" é o que menos me cativou, por causa do roteiro, piegas, repleto de clichês, contado sob a ótica do personagem carcamano de Viggo Mortensen, quando eu acho que deveria ter sido a partir de seu contraponto, o músico negro vivido por Mahershala Ali. A amizade coroada no final, soou mais como um prêmio de consolação ao personagem negro. A mim, não desceu bem. 5 indicações: filme, ator (Viggo Mortensen), ator coadjuvante (Mahershala Ali), roteiro original e edição.

Poderia Me Perdoar? | A Esposa

09. "Poderia Me Perdoar?" é uma das surpresas do ano. Aqui, os meus preferidos ao prêmio de atriz e ator coadjuvante: Melissa McCarthy e Richard E. Grant vivem dois outsiders, com algumas coisas em comum, mas muito diferentes entre si. Porém, se completam pelo simples fato de serem outsiders. Interpretações e caracterizações magistrais. Por mim, Glenn Close fica de novo sem a estatueta. Leva Melissa. 3 indicações: atriz (Melissa McCarthy), ator coadjuvante (Richard E. Grant) e roteiro adaptado.

10. Glenn Close já teve personagens melhores que em "A Esposa" (em "Atração Fatal", "Ligações Perigosas" e "Albert Nobbs", por exemplo). Muitos contam esta como a sua chance de finalmente ser premiada. Ela está ótima. Porém, não fosse sua interpretação, o filme não se sustentaria. O roteiro é previsível e careta. O ápice é forçado. Glenn merece? Tem a minha torcida, inclusive. Só acho que Melissa McCarthy merece mais.

11. "Se a Rua Beale Falasse" é um filme belíssimo, plasticamente falando: fotografia, figurinos e direção de arte irrepreensíveis. Bem dirigido, bem montado. Trilha sonora maravilhosa. Um filme delicado. Porém, a história começou bem e o roteiro ficou devendo na condução da trama. 3 indicações: atriz coadjuvante (Regina King), roteiro adaptado e trilha sonora. Uma observação: Regina King é indicada a atriz coadjuvante pelo papel da mãe da moça, quando acho que a atriz que viveu a mãe do rapaz, a fanática religiosa – Aunjanue Ellis – está melhor e deveria ter sido indicada em seu lugar.

Se a Rua Beale Falasse | Cafarnaum

12. Não conseguiria imaginar melhor ator, hoje, para viver o pintor Van Gogh do que Willem Dafoe, papel que lhe rendeu a indicação de ator principal pelo filme "No Portal da Eternidade". Não é um caso de ator em transformação para viver um personagem real (como Christian Bale em "Vice"). Willem Dafoe é o próprio Van Gogh, sem muitos recursos de caracterização. Todavia, é mais um caso de filme de interpretação, com trama insuficiente (como "A Esposa").

13. "First Reformed" concorre a roteiro original e mereceu a indicação. Ethan Hawke está ótimo em um personagem complexo: um pastor amargurado que não consegue vencer os próprios traumas e se rende a uma jornada de autodestruição. Filme pouco comentado, merece uma espiada.

14. Os Irmãos Cohen nunca decepcionam, né? "A Balada de Buster Scruggs" (outro filme exclusivo na Netflix, como "Roma"), recebeu 3 indicações: roteiro adaptado, figurino e canção ("When a Cowboy Trades His Spurs For Wings"). O título é uma referência à primeira das seis histórias separadas e desconexas apresentadas no longa. Escolha a sua melhor, a minha é a segunda, com James Franco vivendo um proscrito prestes a ser enforcado.

15. "Cafarnaum" é um dos melhores entre os concorrentes a filme estrangeiro. Tirando "Roma", foi o que mais gostei. Porém, é um dos filmes mais tristes e duros que já vi. O clímax é de cortar os pulsos. Pujante, mas um tanto piegas em alguns momentos: o bebê companheiro do menino protagonista é fofinho demais e corta o coração assistir à trajetória deles. Contudo, é um filme necessário, que denuncia a miséria humana, com paralelos e ecos em qualquer país subdesenvolvido, inclusive no Brasil.

Assunto de Família | Guerra Fria

16. O melhor do japonês "Assunto de Família", também concorrente a filme estrangeiro, é o roteiro, que no final dá um plot-twist excelente. Também triste e também sobre a pobreza e a miséria humanas. A atriz que vive a avó da família, a japonesa Kirin Kiki, merecia uma indicação a atriz coadjuvante.

17. O polonês "Guerra Fria", com 3 indicações – filme estrangeiro, diretor (Pawel Pawlikowski) e fotografia -, é um filme tão belo, visualmente falando, quanto "Roma". Como o título sugere, o roteiro tem um fundo político. Porém, fiquei mais curioso com os espetáculos de dança folclórica polonesa que os personagens apresentam na trama, mas que o diretor, propositalmente, não mostra por completo, limitando-se a closes na atriz protagonista, impossibilitando uma visão geral dos espetáculos. A bela fotografia em preto e branco também priva o espectador do colorido dos trajes típicos. Contudo, entendo que a proposta do filme não são os espetáculos de dança.

O Oscar é transmitido neste domingo, 24/02, pelo canal pago TNT, a partir das 22 horas, e pela Globo, um pouco mais tarde, depois do BBB.

Leia também: "Tudo o que você precisa saber sobre o Oscar 2019",
Blog do Sadovski, "Bolão Oscar 2019: quem ganha, quem perde e quem pode surpreender".

Fotos: divulgação.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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