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Difícil torcer pelos personagens de "O Sétimo Guardião", não há encanto

Nilson Xavier

07/03/2019 07h00

Os guardiões (foto: divulgação/TV Globo)

Estava observando os guardiões da novela "O Sétimo Guardião". São eles: o delegado Joubert Machado (Milhem Cortaz), a esotérica Milu (Zezé Polessa), o mendigo Feliciano (Leopoldo Pacheco), o médico José Aranha (Paulo Rocha), a dona do bordel Ondina (Ana Beatriz Nogueira) e o prefeito Eurico (Dan Stulbach), depois substituído pelo padre Ramiro (Aílton Graça). E o sétimo guardião, Gabriel (Bruno Gagliasso). Eles deveriam ser arrebatadores, não? Seus perfis e/ou tramas. Ou ao menos atraentes…

Os sete personagens nos quais a história central da novela está baseada têm características, definições, perfis e códigos próprios. Cada um caracterizado de um jeito: o mendigo esfarrapado em contraponto com o médico que só usa ternos clean, a cafetina de peruca, o delegado que usa calcinha, e assim por diante.

Alguns deles até têm tramas próprias, ou tiveram em algum momento. Eurico era o guardião atrapalhado, se meteu em confusões e perdeu o cargo. A mulher do delegado está cansada das calcinhas do marido. A esotérica vive um romance com o carola da cidade. O médico tem uma relação conturbada com a mulher por causa de sua mãe. Etc.

Porém, fico impressionado como esses personagens não têm carisma algum (não por culpa dos atores, logicamente). São tipos que não despertam sobre si o interesse ou empatia do público. Não são amados. Não há torcida, empolgação, engajamento, fascínio ou atratividade. Logo, não há simbiose. E a novela gira em torno deles. Isso diz muito sobre "O Sétimo Guardião".

Aliás, é o mal que acomete a maioria dos personagens. Dá para contar nos dedos os tipos realmente carismáticos da novela, 5: Mirtes (Elizabeth Savala), Judith (Isabela Garcia), Marilda (Letícia Spiller), Marcos Paulo (Nany People) e Adamastor (Theodoro Cochrane) – este, coitado, não tem história, é apenas uma alegoria no bordel de Ondina.

Ilka Tibiriçá, Jorge Tadeu, Perpétua e Altiva (foto: Acervo/TV Globo)

Nas outras novelas de Aguinaldo Silva ditas "de realismo fantástico", cada morador da cidadezinha em questão (ou, pelo menos a maioria) despertava algum sentimento no público. Muitos eram carismáticos, alguns arrebatadores. Vários deles serão para sempre lembrados por gerações: Perpétua (Joana Fomm), Ilka Tibiriçá (Cássia Kiss), Professor Astromar (Rui Rezende), Jorge Tadeu (Fábio Jr.), Amorzinho e Cinira (Lília Cabral e Rosane Gofman), Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), Rosa Palmeirão (Luiza Tomé), Viúva Porcina (Regina Duarte), Rubra Rosa (Susana Vieira), Altiva (Eva Wilma), Dona Milu (Mirian Pires), Cândido Alegria (Armando Bógus), Dona Pombinha Abelha (Eloísa Mafalda), o Cadeirudo, a Mulher de Branco e tantos outros.

Quais personagens de "O Sétimo Guardião" ficarão para a posteridade? O bonde do Surubão de Noronha?

Leia também: Flávio Ricco, "Aguinaldo Silva decide matar Guardiões em escala de serial killer".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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