Topo

"Acho que também morri um pouco", diz Aguinaldo Silva sobre morte de Wilker

Colunista do UOL

05/04/2014 13h43

De Portugal, onde se encontra, devido a uma série de compromissos, o autor Aguinaldo Silva, a exemplo de inúmeras pessoas, também lamentou a morte do ator e diretor José Wilker, com quem já dividiu trabalhos de grande sucesso.

Aguinaldo revela que Wilker já estava escalado para uma participação especial em “Falso Brilhante”, sua próxima novela, substituta de “Em Família”, na Globo.    

“Acho que também morri um pouco. Eu o conhecia desde 1961, quando ainda éramos adolescentes no Recife. Já o tinha escalado para uma participação especial em Falso Brilhante, não conseguia imaginar uma novela minha sem que ele estivesse nela. Sem ele ficamos mais tristes e mais pobres. Não sei o que dizer”, declara o autor.

Em mensagem numa rede social, Alexandre Nero, protagonista de “Falso Brilhante”, contou que José Wilker faria seu “mestre” na trama.

Nero dá detalhes de como seria a participação do ator, que morreu neste sábado (5), vítima de um infarto fulminante: "Era para que José Wilker se encontrasse comigo numa rodoviária. Ou melhor, era para que o personagem de Wilker se encontrasse com o meu, quando o meu tivesse 20 e poucos anos. Essa foi a primeira informação que tive sobre o que se passava pela mente de Aguinaldo Silva em "Falso Brilhante". Depois já soube que poderia não ser Wilker, e ele iria estar em outro personagem e tal.....mas a primeira informação, a ideia de que um homem, mesmo sendo equivocada, como José Wilker me encontrasse jovem, pedisse para que lhe acompanhasse e me ensinasse o que ele sabe, não me saía da cabeça".

No depoimento, Alexandre também revelou um trecho de um capítulo que faria com José Wilker: "Zé, como era chamado pelos amigos, não poderá ser o meu "mestre" na novela de Aguinaldo. Zé, como era chamado pelos amigos, não era meu amigo. Encontrei apenas duas ou três vezes, e trocamos apenas alguns "ois" cordiais. Sem a permissão oficial de Aguinaldo, mas crendo em seu aval afetivo e pelo carinho de longa data por Wilker, um trecho de um dos poucos capítulos que recebemos, que eu poderia dizer, quase uma "profética" visão pelo que viria. Deixo aqui como li hoje de manhã. Deixo como um lindo poema para José Wilker".

"José Alfredo, que manipula o masbaha (objeto similar a um rosário) enquanto olha adiante. Há uma sepultura tosca lá na frente, com uma cruz carcomida pelo tempo. Ele vai até lá, fica diante da cova rasa sempre a manipular o masbaha, lê o nome escrito na cruz: Sebastião Ferreira. Vai até lá, ajeita a cruz, que está meio torta, balbucia uma oração que não se ouve. Maria Clara (filha de José Alfredo) vem até ele e olha sepultura. MARIA CLARA— (lê) "Sebastião Ferreira". Quem é? JOSÉ ALFREDO— Um velho amigo de jornada. Alguém com quem convivi alguns dias, mas nunca vou esquecer. O comendador olha em torno como se procurasse alguém, ou alguma coisa... Mas não se vê nada além da imensidão acidentada do platô que é o cume do monte”, estava escrito na cena do capítulo em que os personagens de Alexandre Nero e José Wilker fazem parte em "Falso Brilhante".

*Colaboração de José Carlos Nery