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Faltam fofoqueiros de verdade nos programas de fofoca

Leo Dias - Marcus Steinmeyer/UOL
Leo Dias Imagem: Marcus Steinmeyer/UOL

Colunista do UOL

07/12/2019 10h34

Resumo da notícia

  • Leo Dias faz uma análise sobre os jornalistas de celebridades, comumente chamados "fofoqueiros", e aponta que faltam profissionais desse tipo na TV.
  • O colunista revela uma série de situações pelas quais teve que passar como "repórter-fofoqueiro" para ter a bagagem e os contatos que tem hoje.
  • Leo aponta que nos programa de TV falta o profissional com esse espírito de ir atrás da fofoca.
  • Ele critica ainda que a maioria dos "fofoqueiros da TV" nunca esteve de frente ou trocou uma ideia com as celebridades sobre as quais falam.

Eu sou de uma época em que fui 'pautado' a passar a noite toda, sozinho, na porta da casa da Susana Vieira, debaixo de chuva, para pegar uma declaração dela, pois a atriz havia acabado de se separar. Ela chegou por volta de uma da manhã, abaixou o vidro e me ignorou. No dia seguinte, ainda ligou para o meu editor para reclamar de mim.

Sou da época da ronda noturna. Passava a noite rodando as ruas da Zona Sul do Rio e parando em alguns restaurantes e boates. Lá, puxava assunto com seguranças e guardadores de carro. Passava meu telefone e explicava que estava atrás de notícias de famosos. Como não tinha dinheiro, oferecia revistas da Editora Abril de presente. Todos só queriam a Playboy. "Pode ligar a cobrar, mas não deixe de me ligar", dizia eu.

Eu sou de uma época em que eu ligava para Fabíola Reipert, então colunista do 'Agora', para passar para ela notas barradas pelo meu editor do Extra, porque não podíamos dar notas negativas dos atores da Globo - o Extra pertence às Organizações Globo.

Em uma época bem melhor, passei cinco horas sentado no chão do Fórum de Justiça do Rio esperando Anitta sair de uma audiência, acusada de plágio. E olha que ela nem era tão conhecida assim! Anitta saiu, me enrolou, mas deu uma declaração básica. Já valeu! Isso, sem falar que fui eu que avisei ao advogado da Luana Piovani que havia saído a sentença do processo que ela moveu contra o Dado Dolabella. Eu que o avisei. Como eu soube antes? Eu entrava todos os dias no site do Tribunal de Justiça para ver o andamento do processo. Ele, não.

O que eu quero dizer com isso? Que fazer fofoca não é tão fácil quanto parece. Fazer fofoca é tão difícil quanto o aclamado jornalismo "ortodoxo". Só que existe um termo no meio do caminho que me iguala à vizinha faladeira. Mas eu duvido que a tal vizinha se submetesse a tudo a que eu me submeti só para saber da vida do outro. Sem falar no estudo. Eu estudei pra caramba. Depois de formado e já trabalhando na área, tirei um ano para ir aprender definitivamente a falar inglês na Austrália. Fiz pós e até hoje lamento não ter mais uma universidade. Quero sempre me aperfeiçoar.

Como em qualquer profissão, existem "estágios" da vida profissional que você não pode pular, até que você possa dizer com todas as letras que você é, de fato, um profissional. Foi preciso ralar muito até chegar aqui. Quando me querem ofender, entre outras coisas, me chamam de fofoqueiro. Eu apenas lamento que pensem que eu acordei um dia e decidi, do nada, falar sobre famosos.

Fabíola Reipert e Leo Dias - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Fabíola Reipert e Leo Dias, dois "fofoqueiros-raiz"
Imagem: Reprodução/Instagram

Muitos jornalistas, colegas do mesmo segmento, se identificam com essas situações que vivi. Eu não fui o primeiro nem serei o último. Mas a TV criou "fofoqueiros" espalhados pelo Brasil inteiro. Alguns são realmente muito bons: em interpretação de texto, em contar histórias, em reproduzir notas, mas poucos já ficaram cara a cara com os personagens de que tanto falam. Para mim, seria estranhíssimo falar de alguém que eu nunca vi na vida, que nunca olhei no olho e que nunca "troquei uma ideia". Enfim, o que eu quero dizer com tudo isso é que até para falar da vida dos outros é preciso ter competência.

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