Topo

Após mãe pegar covid, Ju Paes tenta entender pandemia por meio da religião

Colunista do UOL

14/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Atriz revela conversa com líder espiritual e diz que encarar a situação com leveza é uma escolha
  • Ela conta também do susto que levou ao receber o diagnóstico de covid-19 de sua mãe
  • E alerta a todos para que não menosprezem qualquer sintoma da doença

Juliana Paes é reconhecida como uma das grandes atrizes de sua geração. Casada há 11 anos com o empresário Carlos Eduardo Baptista, ela é mãe de dois meninos, Pedro, 8 anos, e Antônio, 6. Em um bate-papo com o colunista Leo Dias, a atriz fala sobre a sua rotina durante a pandemia e relembra o susto que levou ao descobrir que sua mãe havia contraído o coronavírus.

"Foi aquela loucura. 'Meu Deus! Será que a minha mãe está doente? Como é que é isso?' Corremos. Meu irmão foi até lá, levou minha mãe para o hospital, onde eu tinha um médico que podia fazer uma supervisão mais próxima, e ele ficou monitorando tudo. Se posso dar um recado é: ao primeiro sintoma, comuniquem os médicos, liguem para alguém que saiba mais, não fiquem esperando. Não subestimem uma dor de cabeça, não subestimem um nariz escorrendo."

Adepta da Umbanda, Juliana revelou que tentou entender a pandemia por meio da religião e da espiritualidade. "Andei conversando com um grande líder espiritual. Perguntei para ele se o que estamos vivendo é uma bênção. Se é um momento de a gente se reformular, olhar para dentro e sair de casa diferente. Voltar para a vida reformado espiritualmente. Ou se nós estamos sendo descartados como espécie pela natureza."

A atriz comentou também sobre a situação da cultura por conta do coronavírus: "É um momento muito delicado e parece que a arte não é prioridade, mas a gente sabe que é. A arte pode alimentar a alma, pode iluminar o espírito. Acredito em momentos melhores, acredito na mudança, acredito que a gente deve batalhar para melhorar esse cenário, sim".

Confira, abaixo, trechos da entrevista.

Juliana Paes - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
A atriz Juliana Paes
Imagem: Reprodução/Instagram
Leo Dias - Você representa alegria, e a gente precisa disso neste momento.

Juliana Paes - Obrigada por me colocar nesse lugar de símbolo de alegria, porque isso é muito importante, mesmo. Sou normalmente bem-humorada. E tenho mania de ver o lado bom, mesmo nos ambientes de crise, mesmo nos ambientes ruins.

Você acha que até de uma crise sai algum resultado bom?

Qualquer crise, qualquer guerra, qualquer situação ruim, qualquer momento de dor, desprazer, desconforto tem uma lição para te dar, tem algo para te ensinar, tem uma perspectiva de positividade. Você só precisa fazer o exercício de lançar o seu olhar para isso. Porque a gente também pode assumir uma postura de não querer olhar e pensar só que está tudo ruim. É uma questão de livre arbítrio. A gente tem escolha de como se comportar, de como pensar, de como viver.

Como está a sua vida? A sua mãe pegou coronavírus, isso mudou radicalmente a sua vida?

Acho que estou vivendo a vida de toda mãe que está morrendo de saudades do restante da família. Dos pais, dos irmãos... E estou educando os filhos em casa. São duas dinâmicas complicadas. Neste momento, estou um pouco mais tranquila. Descobri que a minha mãe estava com covid-19 ha uma semana. Ela começou com um quadro de muita diarreia e muita dor de cabeça, mas não teve nada de falta de ar.

Quantos anos tem a sua mãe?

Ela tem 66 anos e é cuidadora da minha avó, que tem 85 anos. Mora em Niterói, mas tem um sitiozinho pequeno em Itaboraí. Aí ela falou: "Vou para o sítio para cuidar das minhas plantas". Ela estava lá, isolada. Mas apareceu com esses sintomas e foi aquela loucura. "Meu Deus! Será que a minha mãe está doente? Será que a minha avó está doente também? Como é que é isso? Corremos. Meu irmão foi até lá, porque é a pessoa [que vive] mais próxima do sítio. Levou a minha mãe para o hospital, onde eu tinha um médico que podia fazer uma supervisão mais próxima. Ele que ficou monitorando tudo. Ela já chegou ao hospital com 20% a menos da capacidade pulmonar, sem sentir nenhum sintoma. Foi medicada e foi para casa. Se posso dar um recado é: ao primeiro sintoma, comuniquem os médicos, não fiquem esperando, não subestimem uma dor de cabeça, não subestimem um nariz escorrendo.

Agora vamos falar sobre as artes. Como é que vai ficar?

É um momento muito delicado que a gente está vivendo. Parece que a arte não é prioridade, mas a gente sabe que é. A arte pode alimentar a alma, pode iluminar o espírito, e isso é importante. Claro que a gente fica angustiado. Claro que a gente se sente no escuro, mesmo. Mas acredito em momentos melhores, acredito na mudança, acredito que a gente deve batalhar para melhorar esse cenário, sim.

Juliana Paes - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
A atriz diz não ter ideia de quando as gravações serão retomadas na Globo
Imagem: Reprodução/Instagram
Quando você acha que os estúdios Globo voltam?

Não faço ideia. Assim como os ministros não têm certeza... Como os números não estão certos ainda... A gente também não pode dizer quando volta. Enquanto o risco de contágio existir, acho que as novelas não voltam e é um cuidado necessário, sim. São muitas pessoas.

Existe uma resposta religiosa para este momento?

Andei conversando com um grande líder espiritual... É importante não confundir líder espiritual com líder religioso. Espiritualidade é algo com a qual a gente já nasce. Todos nós temos a nossa espiritualidade, independentemente da religião que a gente segue. Quando você para e pensa, internaliza o pensamento, pensa no seu papel na vida, pensa filosoficamente, isso é a sua espiritualidade. Então espiritualidade não é religião. Mas voltando, eu estava conversando com esse líder espiritual e perguntei para ele se o que a gente está vivendo é uma bênção, se é um momento de a gente se reformular, de olhar para dentro, de sair de casa diferente. Voltar para a vida espiritualmente reformado. Ou se nós estamos sendo descartados como espécie pela natureza. O ser humano não deu certo? E ele falou que não é nem uma coisa, nem outra [risos]. Mas, no final das contas, tudo depende da maneira como você encara. As respostas todas a gente já tem. É uma escolha, e a espiritualidade te diz isso sempre. É uma escolha.

As suas palavras me trazem paz. Estou em um momento muito angustiado.

Todos estamos [risos].

Você já saiu na rua recentemente?

Só para ir ao mercado.

Você viu a cidade como está? As pessoas de máscara... Qual foi a sensação que você teve?

Olha, tive duas sensações. Uma sensação estranha de: "Caramba, que perigo!". Mas, por outro lado, tive uma sensação engraçada até. A máscara colocada no rosto faz com que todo o mundo fique muito nivelado, sabe? Fica todo o mundo assim... Não tem feio, não tem bonito, não tem famoso. Está todo o mundo ali, não tem corajoso, está todo o mundo meio nivelado.

O jornal "New York Times", analisando este momento, anunciou o fim da era da celebridade. Diz que o mundo mudou e que quem não estiver conectado vai se ferrar. Aí ele mostra que a Madonna teve que apagar um post porque ela falou da covid-19 em uma banheira de espuma toda luxuosa. Ela teve que apagar de tantas críticas.

Existe um viés na rede social que é muito cruel e tem a ver com isso que você está falando. Não acho que a gente tenha que crucificar a Madonna, porque ninguém está livre de cometer um pecado em um discurso, falar uma besteira.

A internet cancela agora as pessoas.

Eu acho isso de uma crueldade enorme. Adoro a Lady Gaga e tem um discurso dela que é para mim muito emblemático, sobre a polarização. Ela fala sobre a divisão das pessoas em pequenos grupos, e sempre pensei nesse aspecto. Um discurso tão importante como esse a gente não pode só bater palma e deixar passar. Tem que pegar aquelas palavras e enfiar dentro da gente, entender o que ela quis dizer, viver aquilo, pregar aquilo nas redes sociais. E quando a gente vê alguém cancelando alguém, não deixar aquilo acontecer. Quando a gente ver alguém excluindo o outro porque pensou diferente, não deixar aquilo acontecer. A gente fala tanto em ser democrático, no entanto, quando alguém ousa pensar diferente, a gente não permite.

Só que a gente viu no ano passado... Um país em que a gente não podia falar uma palavra. Estou errado? Você como pessoa pública teve que se policiar?

Muito! Não tenho essa necessidade de expor a minha opinião o tempo todo não, tá? Eu sofria represálias veladas justamente por não me posicionar. "Como assim você não vai falar nada? Como assim, você não vai dar a sua opinião? Como assim, você não vai entrar nessa corrente?

Em que momento você acha que tem a obrigação de falar?

Acho que a gente tem que falar quando quer falar, quando se sente compelido a falar. Não porque alguém disse que, se você não falar, não vai pertencer mais a esse ou àquele grupo.

Mas você sabe o poder da fala de um artista.

Exato. Eu, por exemplo, procuro ser muito cuidadosa ao opinar, porque sei da minha responsabilidade como pessoa pública. Muitas vezes, prefiro deixar as minhas opiniões no meu ambiente privado, porque aqui dentro de casa sou pessoa física, estou livre para errar.

Quero pedir uma mensagem. Traga para a gente um pouco dessa paz, por favor!

Olha, só posso dizer para as pessoas o que tenho dito para mim no espelho, em momentos em que a angústia me bate também: não se cobre tanto! Calma! A gente está vivendo um momento que nunca viveu antes. A gente está vivendo uma guerra, vivendo um período que vai estar nos livros de história daqui a uns anos. Então, não existe protocolo de comportamento. Não existe o certo e o errado. Acho que só existe a gente tentar ficar o melhor possível. Então não vamos nos cobrar tanto.

Blog do Leo Dias