Crítico de TV, Walcyr Carrasco também detonava autores e atores de novelas
Walcyr Carrasco tem uma relação difícil com os críticos de televisão. Nesta sexta-feira, em entrevista ao colunista Leo Dias, ele disse que não leu nenhuma das avaliações feitas sobre "A Dona do Pedaço" e classificou os profissionais que escrevem sobre TV como "amargurados". Ainda segundo o autor, a maioria dos críticos não gosta de folhetins feitos para o grande público.
Em setembro, no "Altas Horas", ele havia dito: "O que o escritor e qualquer pessoa que queira escrever ou fazer arte tem que aprender é não ouvir a crítica. Porque gente para derrubar não falta. É o que eu digo sempre: a gente escreve e os críticos esperneiam. E a gente continua fazendo".
Carrasco também reclamou dos críticos ao final de "Outro Lado do Paraíso" (2018), dizendo que "não entenderam" a novela. E disse que eu era pago para falar mal dele durante "Amor à Vida" (2013).
Não deixa de ser curioso lembrar que Walcyr Carrasco já foi crítico de televisão. Na década de 1990, escrevendo na revista "Contigo", publicava avaliações sobre novelas, com direito a comentários sobre o trabalho dos autores e dos atores. Esta semana, por exemplo, circulou nas redes sociais um texto seu, de 1996, muito interessante.

Avaliando o final de "História de Amor", de Manoel Carlos, registrou: "Terminou como quase todas as novelas: com um final feliz". Elogiou Regina Duarte, a Helena da trama, mas não aprovou José Mayer, seu par na trama: "Já fez trabalhos mais profundos".
O crítico foi ainda mais duro com Ângelo Paes Leme, o Caio da trama das 18h. Depois de afirmar que o ator era uma "promessa", o crítico lamenta que ele engordou demais durante a novela. "Nenhuma promessa será realizada, porém, se continuar engordando desse jeito. Começou a trama bem magrinho e terminou com cara de bolacha".
Um crítico de televisão criticando a silhueta de um ator é algo bem pouco comum, o que só realça a originalidade de Carrasco nesta função.
Para Manoel Carlos, também sobra uma crítica: "Por que uma atriz do porte de Ana Rosa, que viveu Dalva e já fez tanto sucesso em novelas, teve um papel tão pequeno? Injustiça", protestou. Imagino Marco Nanini, Tonico Pereira, Betty Faria e tantos outros do elenco de "A Dona do Pedaço" fazendo pergunta semelhante ao autor da novela...
Nesta mesma coluna, o crítico Carrasco também faz considerações sobre "Explode Coração", que estava no ar. E critica a autora, Gloria Perez, por fazer de Dara (Tereza Seiblitz) uma personagem "inverossímil". "Em um mundo em que as paixões são intensas, profundas como as dos ciganos, Dara está sendo um exemplo de mulher volúvel. Já se interessou por Serginho, depois por Júlio Falcão e agora por Igor. Haja!"
Em seguida, o crítico contesta a construção da personagem Larissa (Helena Ranaldi), igualmente inverossímil, na sua opinião. "Será que a autora Gloria Perez acredita que as mulheres são tão volúveis assim?"
Carrasco criticando personagens inverossímeis talvez seja a maior ironia da história. Que o digam Vivi Guedes, Josiane, Régis, Camilo, Fabiana e tantos outros heróis que nos fizeram rir com "A Dona do Pedaço".
Enfim, lendo esta coluna, penso que o crítico Carrasco teria muito a dizer sobre o autor de "A Dona do Pedaço". E o autor, com certeza, iria reclamar do crítico.
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