"Feliz e honrado", diz Aguinaldo Silva sobre volta de "Fina Estampa"
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Resumo da notícia
- Mesmo fora da Globo novelista protagoniza fato raro na emissora
- Autor acha que Globo escolheu reprisar novela por seu "alto astral"
- Aguinaldo antecipou 'empoderamento' com personagem de Lília Cabral
O novelista Aguinaldo Silva simpaticamente parou de fazer uma faxina em sua casa ontem para responder a quatro questionamentos desta coluna.
Mesmo fora da Globo, na noite desta segunda (23), o novelista será protagonista de um fato raríssimo: o Brasil assistirá à reprise de sua "Fina Estampa" (2011) na principal faixa dramatúrgica da emissora líder de audiência.
O motivo é que "Amor de Mãe", de Manuela Dias, teve as gravações interrompidas devido à pandemia de coronavírus.
Não há previsão de quando as gravações serão retomadas.
A Globo já teve de reprisar novelas em horário nobre, mas por problemas políticos e devido à morte de um ator —jamais por questões de saúde pública.
Em 1975 ela reprisou um compacto de "Selva de Pedra" (1973) porque a censura militar barrou "Roque Santeiro" a poucas semanas da estreia.
Já em 83 exibiu um compacto de "O Casarão" (1976) para substituir às pressas "Sol de Verão", de Manoel Carlos, que encerrou a novela logo após a morte do protagonista Jardel Filho.
Além de "Fina Estampa", até o fim do mês Globo deverá ter todos os seus horários principais de novelas preenchidos com reprises (exceto, por enquanto, "Malhação").
É a dramaturgia nacional, em tempos de epidemia, "revendo" o próprio passado.
"Totalmente Demais" será reprisada após o fim de "Salve-se Quem Puder" (19h30). E "Novo Mundo" entra na grade com o término do renmake de "Éramos Seis" (18h30).
Mas voltemos a Aguinaldo.
Aos 76 anos, ele deixou a Globo no início deste ano após quatro décadas criando histórias que se tornaram sucessos de público, de faturamento e, na maioria das vezes, também de crítica (isso não é pouco, hein?)
Bem-humorado, diz que está feliz e honrado em ter sua novela no "Vale a Pena Ver de Novo do horário nobre" da Globo.
Acredita que escolheram "Fina Estampa" por ser uma história "Solar", "para cima" e "alto astral".
Veja as perguntas e respostas:
Como você se sente sabendo que voltará a fazer parte do cotidiano diário do brasileiro a partir desta noite, mesmo estando fora da Globo?
Aguinaldo Silva - Acho que, graças à boa vontade dos que escrevem sobre televisão, mesmo estando 'fora da Globo', continuei a fazer parte do cotidiano do brasileiro.
(porque) Todos os dias alguém publica alguma notícia a meu respeito, o que considero muito terno e carinhoso da parte de todos.
Mas o fato de ter o "Vale a Pena Ver de Novo" de uma novela minha no horário das 21h me deixou muito feliz e honrado.
Ainda mais numa hora difícil como essa para o povo brasileiro ao qual que sempre procurei homenagear nos meus trabalhos.
Com tantos autores e novelas à disposição, porque você acha que a Globo escolheu reprisar justamente "Fina Estampa"? Qual seu palpite?
Aguinaldo - Acho que a escolha de 'Fina Estampa' se deveu ao fato dela ser uma novela solar, para cima, na qual o baixo astral não tem vez e cuja protagonista, mesmo nos momentos mais difíceis, não perde a esperança.
Griselda (Lília Cabral) —uma mulher corajosa e disposta a tudo para manter a união de sua família e da comunidade em que vive— é um exemplo para todos.
A novela surgiu muito antes de a palavra "empoderamento" ter sido usada na mídia. E no entanto a história de Griselda fala disso: a batalhadora faz-tudo, que cria filhos sozinha, trabalha, paga as contas e os estudos deles e ainda por cima enfrenta preconceito —inclusive de um deles. A Griselda de 2011 ainda pode ser a musa do "empoderamento" de 2020, não?
Aguinaldo - Na verdade venho tratando desse tema do empoderamento desde os tempos de Roque Santeiro, quando fiz Lulu das Medalhas (Cássia Kiss) lutar contra o machismo e o preconceito do marido, renunciar à vida confortável de "senhora casada" e partir em busca de si mesma.
Minhas heroínas sempre foram mulheres fortes e determinadas... Assim como as vilãs. E acho que este é o motivo pelo qual elas são sempre lembradas. E Griselda, a protagonista de 'Fina Estampa', neste aspecto é exemplar.
Falando em vilã, não sei se concorda, mas acho a personagem Tereza Cristina Velmont (Chistiane Torloni) também um tanto "profética": mau caráter, odiosa? Preconceituosa e odienta daquele jeito, eu diria que me lembra um desses atuais 'haters' ignorantes (eufemismo meu) das redes sociais...
Aguinaldo - Quanto a Tereza Cristina, ela é tudo que uma vilã precisa ser.
Como você mesmo diz: mau caráter, odiosa, preconceituosa... Não foi intencional da minha parte, mas ela se torna hoje ainda mais atual por lembrar a onda de "haters" que, nos últimos tempos, prolifera como se fosse um vírus descontrolado nas redes sociais.
O ódio, como você sabe, é uma doença que não tem cura e assim sempre acaba por matar o portador.
Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops
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