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De fã a publisher: conheça o fotógrafo que assumiu a "Playboy" no Brasil

André Sanseverino: de colecionador a vice-presidente e publisher da nova "Playboy" - Arquivo Pessoal
André Sanseverino: de colecionador a vice-presidente e publisher da nova "Playboy" Imagem: Arquivo Pessoal

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

16/12/2015 07h00

Colecionador de "Playboy", o fotógrafo e empresário André Sanseverino, de 48 anos, realizou um sonho: enfim terá acesso a números históricos, de um acervo que tem capas preciosas como as de Claudia Ohana, Xuxa, Adriane Galisteu, Roberta Close, Joana Prado e Tiazinha.

Vice-presidente e publisher da nova etapa da revista no Brasil, o paranaense de coração, nascido em Ribeirão Preto, articulou a negociação para ter os direitos da publicação no país, ao lado de mais dois amigos com quem formou uma sociedade.

Com um look despojado, camisa quadriculada e tênis colorido, o executivo recebeu a reportagem do UOL após voltar a pé pela Avenida Paulista, em São Paulo, de uma entrevista que havia acabado de conceder a uma rádio. No terceiro andar de um prédio ao lado do Conjunto Nacional, endereço da nova redação da revista veiculada durante 40 anos pela Editora Abril, Sanseverino falou, com um sorriso largo, sobre a admiração antiga que tem pela “Playboy” e seus planos para a nova etapa.

Com a autoridade de um fã e de alguém que conhece, inclusive, os meandros de uma empresa para a qual já trabalhou durante sete anos como fotógrafo, o empresário falou que pretende resgatar o glamour de uma revista que, em suas palavras, “deixou a desejar em relação aos momentos áureos” nos últimos tempos.

 UOL: Você disse que é um fã antigo da "Playboy". Quando começou essa admiração?
André Sanseverino: Minha primeira grande musa foi a Luiza Brunet [capa em 1984]. A minha relação com a “Playboy” começou como fã e depois se estreitou quando me tornei fotógrafo, pois ganhei o prêmio de fotografia "Playboy". Era coisa de garoto mesmo, de um fã. Eu sempre fui comprador de banca, não assinava. Nas minhas viagens para o exterior, trazia algumas edições específicas. Tenho três livros de fotografia da "Playboy": "As Loiras", "As Ruivas" e "As Morenas". Tenho até vontade um dia de reeditá-los.

Qual o tamanho da sua coleção? Tem alguma edição que ainda tem vontade de ter?
Dos últimos 20 anos, eu tenho todas. A marca tem 40 anos com a Abril e eu tenho algumas antigas, mas a sequência completa mesmo eu só tenho dos últimos 20 anos. Já quase consegui comprar [edições antigas], mas a pessoa acabou furando comigo e não deu certo. Agora eu vou ter acesso a todas do acervo – impressas inclusive. Pelo menos essa é a promessa (risos).

Das que você já tem, qual é a favorita?
A da Xuxa foi indiscutivelmente marcante, até mesmo porque eu a conheci quando ela não era famosa e muito antes de posar na "Playboy". Ela era modelo e foi desfilar na minha cidade, em Maringá [no Paraná], e tive a chance de conversar com ela. Tenho um autógrafo que vale muito, de quando ela era modelo. 

Quando a Letícia Birkheuer posou na "Playboy" também foi muito legal, porque já tinha fotografado ela para uma das maiores campanhas que eu fiz. O que é bacana da minha relação com a "Playboy" é que, devido a minha vida profissional, acabei com o tempo me encontrando com várias capas. Posso fazer um paralelo do fã que concretiza um sonho.

E dos ensaios que você fotografou para a "Playboy", tem um mais marcante?
O mais marcante foi o da Ana Paula Maciel, a ativista do Greenpeace, no ano passado. Ela tem muito a ver com o que eu sempre imaginei para a nova “Playboy”. É uma mulher com conteúdo e não necessariamente estava na “Playboy” pela beleza física, mas por ter uma história e ter o que falar. E houve uma repercussão mundial desse ensaio. Com certeza na minha história com a “Playboy” esse foi o [ensaio] mais legal.

Eu fui me encontrar com ela na Rússia para fazer o convite, além de ter feito as fotos. Eu estava na Europa quando houve aquela repercussão bombástica porque ela estava presa, né? Daí comecei a ver, Madonna pede que Ana Paula Maciel seja solta. Paul McCartney também. Pensei, tem um potencial gigante. Então ela foi solta. O que eu fiz? Escrevi para o pessoal do Greenpeace do Brasil e me passaram o contato dela, que foi super-receptiva.

Existe constrangimento na hora de fotografar mulheres nuas?
É claro que existe aquela tensão inicial, dos primeiros cinco minutos, daquela hora de tirar o roupão. Tem algumas modelos que precisam tomar alguma coisinha, se descontrair... Mas como é algo muito profissional e tem muita gente envolvida, isso se quebra rápido. Dentro da moda, já passei por altos apuros. Uma vez fui fazer umas fotos em Paris, na Champs-Elysées, e quase fui preso. Fomos fazer um ensaio e a modelo tinha que abrir a roupa rápido, mas ai o policial viu e em dez minutos estávamos cercados de gente. Foi engraçado.


Você já fotografou muitas modelos, inclusive a Gisele Bündchen. Como foi?
Eu já fui dono de uma revista, chamada "Nyx". Ela foi capa da minha revista. Eu a fotografei no começo de carreira, na época da [agências de modelos] Elite. Parece meio blasé dizer isso, mas a Gisele realmente tem estrela e naquela época já tinha me chamado muita atenção. Ela devia ter 14, 15 anos. Lembro que um tempo depois ela fez a primeira capa da “Capricho”.

Eu tenho tido a oportunidade de pegar o começo de [carreira] algumas pessoas. A Grazi Massafera, por exemplo, eu acredito que o primeiro grande trabalho profissional que ela fez tenha sido comigo.

Como foi esse contato com a Grazi?
Como scouter [olheiro] e dono de agência de modelos, eu já mandei muita gente para fora do país. Acho que ela nem se lembra disso, até porque foi muito antes de “Big Brother”, mas uma vez me mandou uma carta com fotos, uma das mais bonitas que já recebi, pedindo ajuda. Ela falava que tinha o sonho de ser modelo e já tinha ouvido falar de mim.

E você conseguiu ajudá-la?
Acabei ajudando, sem que ela soubesse. Logo em seguida ela participou do Miss Paraná e uma marca de jeans, que o dono era muito amigo meu, falou: "Por que você não chama essa menina?" E aí fizemos um trabalho superbonito, para uma campanha em Cianorte.

Queremos ter uma revista bacana para que as mulheres sintam novamente orgulho de ser capa da “Playboy”. E com isso, que as grandes estrelas e formadoras da opinião se dispam para a revista. A internet pode ter popularizado o nu, mas não é o nu que temos na “Playboy”
André Sanseverino, vice-presidente e publisher da "Playboy"

Neste ano, a "Playboy" dos Estados Unidos anunciou a decisão de não publicar mais ensaios de mulheres nuas. Você concorda que a internet ajudou a banalizar o nu?
Eu diria que na internet você encontra de tudo. Tenho dito que o grande erro das editoras foi desprezar a internet. Hoje, o que é uma revista na internet? É um PDF da revista. Não tem nada de diferente. Além de produzir material exclusivo para internet, a nossa pretensão é resgatar o estilo de vida, o glamour da “Playboy”.

Queremos ter uma revista bacana para que as mulheres sintam novamente orgulho de ser capa da “Playboy”. E com isso, que as grandes estrelas e formadoras da opinião se dispam para a revista. A internet pode ter popularizado o nu, mas não é o nu que temos na “Playboy”. O importante é que fulana se despiu para a “Playboy”.

Mas você acha que a "Playboy" perdeu esse glamour?
Eu acho que sim, mas sem desprezar o trabalho que foi feito. Acho que a “Playboy” deixou a desejar em relação aos momentos áureos.

Quais foram esses momentos?
Tem alguns ícones... A foto da Adriane Galisteu na Grécia virou uma referência. É isso o que a gente busca. Que os ensaios sejam marcantes, que as pessoas fotografadas nunca se arrependam de terem participado da revista e sintam orgulho.

Queremos pessoas que tenham conteúdo, que tenham o que dizer. Vão ser formadoras de opinião que mereçam estar na “Playboy”. Em contrapartida, queremos oferecer uma revista que mereça ter essas pessoas. A revista vai passar por uma reformulação geral. Existe uma espinha dorsal que deve ser respeitada, como as grandes entrevistas, mas queremos mostrar uma coisa nova. E para isso esperamos contar com grandes medalhões, além de abrir um canal com um leitor para saber o que ele espera da nova “Playboy”. 

A primeira capa já está decidida?
Queremos fazer uma edição histórica. É indiscutível que boa parte do nosso futuro está nessa capa. Se apresentarmos um produto bacana pode ter uma longevidade, e o contrário... Com certeza vamos atrás de um nome de peso e já existe uma negociação muito bacana sendo feita. Acho que se der certo tem tudo para ser um sucesso.

A “Playboy” na Abril tinha uma série de restrições. Não podia se falar de carro porque tinha a “Quatro Rodas”, não se podia falar de corpo porque tinha a “Men’s Health”. Somos um veículo independente. Temos a liberdade para falar de tudo o que se quisermos. Queremos que a mulher tenha voz na “Playboy”. São novos tempos

O que faz uma mulher aceitar tirar a roupa para a “Playboy”? O cachê não é mais o suficiente?
Eu acho que não. Se você pensar só no lado financeiro... O mercado oferece outras opções, como a publicidade. Só com o cachê não vamos seduzir. Mas com certeza queremos que seja significativo para alcançar essas mulheres. Queremos seduzi-las não só com dinheiro.

A gente não fala revista “Playboy”, mas a “nova Playboy”. A nossa primeira edição vai ser a 01. Se fechou um ciclo na Abril e agora vamos começar do zero. Mais do que o nu, queremos nos firmar como uma revista de beleza para que essas mulheres queiram se ver nela.

A "Playboy" é conhecida como uma revista masculina, mas muitas mulheres consomem o conteúdo dela, né? 
Eu tenho um exemplo recente que é a Tati Zaqui. Ela é um fenômeno. Foi a revisa que mais vendeu nesse ano. E tem um dado engraçado, o número de mulheres que comprou a revista é maior do que o de homens. Mas tirando esse caso especifico, a “Playboy” americana sempre levantou grandes bandeiras, em relação à segregação racial, homossexualismo... A “Playboy” na Abril tinha uma série de restrições. Não podia se falar de carro porque tinha a “Quatro Rodas”, não se podia falar de corpo porque tinha a “Men’s Health”. Somos um veículo independente. Temos a liberdade para falar de tudo o que se quisermos. Queremos que a mulher tenha voz na “Playboy”. São novos tempos.

Por que você acha que a mulher se identifica com a "Playboy"?
Tem um estudo feito pela “Claudia” que diz “Por que as mulheres liam Claudia?”. E elas liam “Claudia “por medo. Por que medo? Medo de perder o marido, medo de não ser boa de cama, medo de não entender o filho que está usando drogas... É essa linha de raciocínio que queremos passar. Para entender o universo masculino e também porque hoje em dia os assuntos são comuns a homens e mulheres. Não existe mais aquilo de rosa é para menina e azul é para menino.