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Para ator, "Game of Thrones" é como a vida: não poupa quem amamos da morte

James Cimino

Colaboração para o UOL, de Los Angeles

16/04/2016 08h00

Ele começou empurrando um menino de treze anos do alto de uma torre para esconder seu caso com sua irmã, depois de ter assassinado um rei louco pelas costas. Depois teve a mão decepada, foi acusado de estupro no leito de morte do filho e terá de enterrar mais uma filha na próxima temporada de “Game of Thrones”, que estreia dia 24.

Mas enquanto o inverno não chega, Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister da série, conversou com a reportagem do UOL durante o lançamento de seu não tão bem sucedido blockbuster “Deuses do Egito”, lançado em fevereiro, em Los Angeles.

Também respondeu sobre a cena polêmica em que seu personagem faz sexo com a irmã no leito de morte do próprio filho, além do estupro sofrido pela personagem Sansa Stark (Sophie Turner). “Ora, o marido dela é um torturador sanguinário, era isso o que se espera de um homem como aquele. Por que ele iria poupar a Sansa? Aliás, este é o segredo de ‘Game of Thrones’. Ele é como a vida. Na vida uma pessoa não deixa de morrer só porque gostamos dela nem porque ela é boa.” Leia a entrevista:

UOL — Como “Game of Thrones” te ajudou a chegar ao cinema?
Nikolaj Coster Waldau
— Eu não sei com certeza, mas estou certo que ajudou sim. Acho que a melhor coisa de um programa como “Game of Thrones” é que muita gente assiste. E aí seu nome ganha um rosto. Tenho certeza que o diretor [de “Deuses do Egito”] Alex Proyas me viu em “Game of Thrones”.

O que vai mudar nesta nova temporada já que os livros não são mais a base para o roteiro?
Esta é a parte divertida agora. Para o público não vai ter mais aqueles amigos chatos cheios de spoilers dizendo ‘nós sabemos o que vai acontecer’. Então, ninguém sabe o que vai acontecer. Mas não posso te contar nada, claro… Na última temporada os Lannisters foram humilhados. Houve quem gostasse por um lado, mas houve quem odiasse por outro, especialmente a parte em que a Cersei [Lena Headey] dá poder aos fanáticos religiosos.

O que você acha que vai acontecer?
Acho que ela vai massacrá-los. Ela é uma demônia, né? Hahahahaha!

Quero falar mais sobre seu Jaime Lannister. Ele começou como um personagem mau, virou carismático… O que muda no seu “Game of Thrones” agora?
O que muda mais agora é que o cabeça da família foi morto. Tywin (Charles Dance) foi morto por Tyrion (Peter Dinklage). Isso é um problemão. Eles estão fracos. E, claro, tem duas questões aí. Ok, o Jaime Lannister começa sendo um cara mau. Mas o bonito de fazer uma série é que ela te dá tempo de conhecer todos os personagens. Se você o vir apenas como o cara que empurrou um menino pela janela, sim, ele é mau. Mas depois você vê porque ele fez aquilo. Quanto mais informação você tem, mais você o entende. Mas claro que perder a mão e conhecer Brienne [Gwendolyn Christie] ajudou muito em sua mudança.

Uma coisa que sempre se fala de Jaime é seu apelido, “king slayer” (o regicida), e falam sobre seu passado como algo glorioso, mas nunca vimos isso. Isso irá aparecer?
Você vai ter que assistir para saber… Você faz perguntas sobre o futuro da série que não posso responder.

Por que você acha que “Game of Thrones” é tão popular?
Eu acho que é um daqueles momentos em que um programa tem o “timing” perfeito. Porque esse tipo de fantasia nunca cruzou a quarta parede como cruzou desta vez. Eu acho que é porque todo mundo pode se relacionar com algum personagem de alguma forma. E todos eles têm jornadas com as quais pode se identificar também. Eu acho que o jeito que a série começou, de forma bem realista, e os elementos sobrenaturais foram colocados lentamente, fez com que aceitássemos a fantasia como parte daquela realidade. Veja os dragões. Eles começaram como ovos. É muito bem feito.

Tem outra coisa: os produtores não têm medo de matar personagens principais…
Tem isso também.

Todo mundo se lembra do casamento vermelho. Agora, quando vocês estavam filmando, vocês sabiam quem ia morrer? E vocês sabem quem são os personagens que não vão morrer de jeito nenhum?
A gente sabe por temporada. E também a gente tinha lido os livros. De agora em diante, ninguém sabe… A primeira coisa dessa temporada que passou que eu li, e que me partiu o coração, foi a cena em que a Shireen (Kerry Ingram) é queimada viva. Foi tão cruel, duro e horrível. Ao mesmo tempo, o que eu adoro nessa série é que ela é fiel a este mundo. Ela não volta atrás porque você não quer que este cara morra. No nosso mundo, coisas injustas acontecem o tempo todo. No nosso mundo, o mocinho é derrotado algumas vezes…

Você obviamente se lembra da cena em que Jaime e Cersei têm relações sexuais no leito de morte de Joffrey (Jack Gleeson), o que gerou muita discussão. Outra cena que causou controvérsia foi a do estupro de Sansa. O que você acha das críticas?
Acho que tudo bem. Críticas são necessárias…

Mas você acha que as cenas eram necessárias para a história?
O que eu acho é que, no mundo da Sansa, tem tudo a ver com a história. As pessoas ficaram irritadas porque ela é uma personagem que amamos. Mas o que houve é bem fiel com a maneira com que a série descreve Ramsay Bolton (Iwan Rheon). Ia ser estranho se ele não fizesse algo tão horrível. Ele é um monstro. O que se pode esperar dele se não aquilo?

Já no caso de Jaime e Cersei, nós, eu e Lena, nunca pensamos naquela cena como um estupro. Eram duas pessoas que têm um romance de mais de 20 anos que tiveram uma extrema necessidade física e emocional um do outro. Dito isso, eu acho que qualquer discussão que as pessoas tenham sobre isso é bom. Às vezes extrapola um pouco, especialmente nas redes sociais, mas é natureza dos nossos tempos.

Tipo, ano passado, depois da cena da Sansa, aquela senadora [a democrata Claire McCaskill] disse que não iria mais ver “Game of Thrones”, acho bobo. Mas tudo bem… O fato é que o programa mexe com as emoções das pessoas. Porque acontecem coisas que elas não querem que aconteçam.

Por fim, qual seu personagem favorito em “Game of Thrones”?
Jaime Lannister, ora!