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Aos 67, Selma Egrei diz não gostar de se ver com 100 anos em "Velho Chico"

Interpretada por Selma Egrei, Encarnação, a matriarca dos De Sá Ribeiro, tem 100 anos agora em "Velho Chico" - Montagem/Reprodução/TV Globo
Interpretada por Selma Egrei, Encarnação, a matriarca dos De Sá Ribeiro, tem 100 anos agora em "Velho Chico" Imagem: Montagem/Reprodução/TV Globo

Natália Guaratto

Do UOL, em São Paulo

18/04/2016 19h49

A terceira fase de “Velho Chico” tem apenas uma semana no ar, mas a caracterização de Selma Egrei na pele da centenária Encarnação já impressiona. Se na internet, as caras e bocas da personagem viram memes a cada capítulo, nos bastidores, a atriz não gosta de se ver com 100 anos. 

“Tenho um problema com espelho, não gosto de me olhar (risos). Então, tenho uma imagem interna da Encarnação. Gosto da imagem interna que tenho dela. A hora que eu entro em cena eu me conecto com essa Encarnação”, conta a atriz em entrevista ao UOL.

Aos 67 anos, Selma diz que, apesar de não ser muito adepta da internet, tem acompanhado a repercussão e achado “uma coisa muito simpática” o carinho do público com a matriarca dos De Sá Ribeiro. “Tem sempre um amigo ou outro no Facebook que me manda umas fotos. Aí que eu vejo como é a Encarnação. Ela não é uma vilã séria”, afirma.

Para Selma, Encarnação é uma personagem “difícil de definir” e “emblemática numa série de coisas”. “Não sei exatamente o que o autor [Benedito Ruy Barbosa] pensa, mas para mim ela é o arquétipo do poder falecido. Do poder que não quer abrir mão e que vai e vai até os 100 anos, está ali quase morrendo, mas não larga o poder”, arrisca.

Uma das únicas personagens que permaneceu com o mesmo ator em todas as fases de “Velho Chico”, Encarnação é uma mulher amargurada que nunca superou a morte do primogênito, Inácio. A perda do marido Jacinto (Tarcísio Meira) acentuou o desgosto da matriarca e ela passou a segunda etapa da novela tentando impor suas vontades para Afrânio, o filho mais novo. O personagem foi interpretado por Rodrigo Santoro, de quem Selma diz ter saudades de contracenar. “A gente tinha uma relação muito intensa na novela. Com o Afrânio atual [Antônio Fagundes] ainda não gravei muito. Estamos estabelecendo essa relação”, diz.

Casada e sem filhos, Selma diz que a vivência como Encarnação tem ensinado a refletir sobre como não ser com as pessoas. “[Essa experiência] ensina que a intolerância é um caminho muito errado, prejudica quem é intolerante e quem convive com pessoas assim. São exemplos que têm que ser mostrados para as pessoas refletirem e não serem dessa forma. Ela não é vilã, não é má, ela busca justiça, mas de uma forma errada”, diz.

Velho Chico - Divulgação/TV Globo - Divulgação/TV Globo
Selma Egrei e Rodrigo Santoro como Encarnação e Afrânio na segunda fase de "Velho Chico"
Imagem: Divulgação/TV Globo
“Ai como eu sofro”

Na visão de Selma, a passagem de 28 anos entre a segunda e a terceira fase de “Velho Chico” deixou Encarnação mais fragilizada. “Ela não é mais aquela mulher vigorosa que comanda tudo, ela percebe que perdeu um pouco o espaço de poder, então para não perder totalmente ela joga com uma auto piedade (“ai como eu sofro”) para as pessoas a respeitarem”, diz.

Nos próximos capítulos de “Velho Chico”, o mau humor de Encarnação dará lugar à senilidade e ela sairá de casa no meio da noite para procurar o filho morto no rio São Francisco. “É doloroso perder um filho, mas ela fez disso um drama, uma tragédia inacreditável”, adianta Selma. A novela ganhará traços de realismo fantástico e um navio de almas de pescadores, o Gaiola Encantado, entrará em cena dando um toque mal-assombrado para a trama.

“Me sinto fazendo cinema”

Atriz que despontou no cinema de pornochanchadas nos anos 1970 e 1980, Selma viveu um período de afastamento da TV por descontentamento com o ritmo de gravação das novelas. O retorno se deu em 2012 na série “Sessão de Terapia”, dirigida por Selton Mello no GNT.

Depois ela esteve nas minisséries “Os Experientes”, “Felizes Para Sempre?” e na novela “Sete Vidas”, todas na Globo.

“Eu tenho tido muita sorte, entrado em umas obras muito interessantes, com diretores muito interessantes, começando com Selton Mello em 'Sessão de Terapia', Fernando Meirelles e agora com o Luiz Fernando Carvalho. Eu me sinto fazendo cinema”, diz ela.