Cabelo, maquiagem, coroa, véu, grinalda e uma hora de atraso. Poderíamos estar falando sobre o grande dia do casamento de Léo Áquilla com Chico Campadello no dia 8 de junho, mas já no ensaio fotográfico para o UOL a jornalista cumpriu todos os quesitos de uma noiva clássica. “Desculpa o atraso, está um trânsito maluco”, disse ao chegar vestida de noiva como se realmente fosse entrar na igreja no segundo seguinte. Aos 45 anos, Léo vai subir ao altar pela primeira vez e, além de se considerar uma noiva tradicional, ela também fará uma festa com direito a tudo que manda o figurino e muita sofisticação avaliada em quase R$ 700 mil.
“Vou ter tudo que uma rainha merece, nunca me senti tão pronta”, disse. “Vamos fazer em um buffet, um salão será decorado só para a cerimônia e outro para a recepção. A gente ia fazer uma festa simples, para os amigos, mas nossa cerimonialista Elaine Maldonado organizou uma festa de arromba que já está em R$ 684 mil, só meu vestido ficou em R$ 40 mil”, disse.
Diferente de alguns artistas que fazem festa na base da permuta – ganham tudo em troca de divulgação – e jamais assumem, Léo faz questão de falar que não colocou a mão no bolso para realizar seu casamento. “Foi tudo presente, como é que não vamos aceitar e nem falar isso? Não gastei um real”.
Espirita kardecista, Léo escolheu o evangelista João Marcelo para abençoar a cerimônia. “O que eu gosto desse casamento é a diversidade das pessoas contemplando só o amor, só o amor importa”.
Depois da tempestade…
O brilho nos olhos de Léo denuncia a felicidade quando faz planos para o futuro – sem largar um segundo a mão do amado durante a entrevista - situação quase imaginável se voltarmos ao dia 24 de fevereiro, quando Chico ficou entre a vida e a morte após uma embolia pulmonar. Em um vídeo divulgado no Facebook na época, a jornalista aos prantos pedia por orações ao amado já que sua situação era gravíssima.
“Ele estava em nível de óbito, o médico já tinha avisado para nos prepararmos porque o caso era irreversível, disse que todo mundo que estava na situação dele, ninguém conseguia se recuperar”, relembra.
Foi neste momento que o evangelista João entrou na vida de Léo e a partir dali foi a escolha para celebrar a união – que ela já acreditava que iria acontecer.
O João faz orações de cura e ele foi no hospital. Estava desesperada, ele pediu para eu confiar que tudo iria dar certo e estamos aqui. O João tem um papel importante nesta união”.
Após a tempestade e recuperado, Chico não esconde o amor e a ansiedade de oficializar a união com Léo.
“Estou contanto os dias, daqui a pouco vou contar as horas. Estou ansioso, emocionado porque é o grande dia de nossas vidas. É um casamento com puro amor, não tem nada que não seja amor de um sentimento mais puro, fico muito feliz”.
Preconceito, amor e conscientização
Se antes a cerimônia seria só para amigos, a oportunidade de fazer uma grande festa também virou um momento de debate para Léo por ser a primeira transexual pública a fazer um casamento tão tradicional.
“Como será uma festa de amor, pública, queremos trazer essa bandeira da igualdade, quero que a minha festa, o meu casamento sirva de exemplo para outras meninas, quero mostrar que a gente pode também, a gente pode querer tudo que uma noiva sempre sonhou e realizar isso”.
Durante as fotos em frente Paróquia Nossa Senhora do Ó, na Freguesia do Ó, em São Paulo, Léo não escondeu que já teve vontade de subir ao altar como qualquer noiva em uma grande e bonita igreja, mas o sonho ficou para trás a partir de um amadurecimento pessoal.
“Já tive esse desejo como toda mulher tem, mas durou até o momento em que descobri que Jesus não é uma igreja, Jesus é um sentimento chamado amor, perdão, ele está nos bons lugares. Minha festa terá muito amor e ele estará lá”.
“Quero provocar uma discussão para que as pessoas percebam que cada um faz da sua vida o que quer, se eu sou hetero, homo, trans não faz diferença para ninguém, o que interessa é dentro da minha casa e sem me importar com o que os outros dizem, dentro de casa nós somos um casal heterossexual”, pontua. “Sou homem, ela é uma mulher, eu a vejo como mulher e ela também, a gente entende que um casal homossexual seriam dois homens ou duas mulheres, não é? Não interessa a biologia, interessa o que a gente sente”, completou Chico.
Como ativista e voz ativa das transexuais brasileiras, Léo pediu responsabilidade para pessoas públicas ao fazerem discursos sobre o tema LGBT. Recentemente, Patrícia Abravanel durante uma conversa com seu pai no “Programa Silvio Santos” afirmou não achar normal casais homossexuais.
“Fiquei passada quando vi, acho que ela tem todo o direito de ter a opinião dela, se a gente pede tolerância, a gente também tem que tolerar. Mas nós que somos pessoas públicas precisamos tomar cuidado com que a gente fala para que nossa declaração não vire criminosa a partir do momento que essa declaração vai trazer algum dano físico para alguém. Nós somos a minoria como eles falam, então estamos em desvantagem, aí você pega esses fundamentalistas, principalmente os religiosos, ou até quem não é, que são agressivos, e acha que tem que matar mesmo. Ainda tem a questão do suicídio, imagina uma pessoa que já está deprimida por ser transexual, homossexual, às vezes pode até ter a Patrícia como um ídolo e vê ela falando que não é normal, a pessoa se mata e quem vai responder por essa vida? Conheço a Patrícia, ela é uma boa pessoa e tenho certeza que ela está arrependida”.
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