"Estou me sentindo num spa", brinca Grace Gianoukas sobre Teodora Abdala

Se é para o bem de "Haja Coração", diga ao povo que Teodora Abdala até morre, mas fica na novela mesmo assim. Depois de ouvir a voz das ruas - e das redes sociais -, o autor Daniel Ortiz mexeu uns pauzinhos e criou uma sobrevida para a adorável perua, que desaparece misteriosamente numa explosão de helicóptero no capítulo 36, que vai ao ar no dia 11 de julho.

Segundo o colunista do UOL Flávio Ricco, o velório, exibido no dia seguinte, já contém um fato inusitado: só o dedo médio da ricaça, única parte do corpo encontrada nos destroços, será enterrado. Por volta do capítulo 100, a excêntrica mulher de Aparício (Alexandre Borges) ressurge das cinzas. A reviravolta surpreendeu a atriz Grace Gianoukas, que garante estar tão apaixonada pela personagem que adiou o quanto pôde ler as cenas de sua despedida.

"Em 'Sassaricando', a personagem morria no capítulo 9. Mas foram chegando os capítulos e eu estava fazendo o que me mandam, sou contratada. Fiquei até jururu, não queria ler o capítulo da minha morte, porque nunca mais poderia fazer essa personagem. Sabe quando você lê um livro maravilhoso e, no fim, vai lendo só uma pagininha? Quando acaba dá aquela saudade... Aí tive essa notícia maravilhosa desse bombardeio nas redes sociais. Fiquei muito feliz, realmente não esperava. Mas ela tem que sumir para a trama andar. O Aparício tem que se envolver com a Rebeca (Malu Mader). Eu venho atazanar, sou a mosca que vai ficar voando por ali", diz a gaúcha de 52 anos.

Conhecida mais por sua extensa carreira no teatro, em espetáculos como o "Terça Insana", Grace vem saboreando o sucesso na TV, onde já trabalhou em programas como "Escolinha do Professor Raimundo" e "Castelo Rá Tim Bum" e em novelas como "Bang Bang" e "Cúmplices de um Resgate". Depois de quase 15 anos acumulando funções de atriz, diretora, roteirista e produtora, ela diz que quis deixar a agenda mais flexível para se jogar em outros trabalhos.

"Quis estar mais disponível para coisas interessantes que pudessem surgir e surgiu o convite para fazer um teste. Veio a calhar. Quem não se arrisca a fazer coisas novas, quem não se atira vai estacionando, vai ficando meio mofado. É um novo momento na minha carreira de atriz. Estou me sentindo num spa, porque eu só tenho que ir lá e colaborar. Não tenho que me preocupar com o catering, a luz, a trilha sonora, o texto do outro ator. A Teodora é a ponta de um iceberg. Sobrou para mim dar vida à personagem porque ela vem sendo pensada há muito tempo. Tem toda uma estrutura para eu chegar lá e brincar", conta ela, aos 32 anos de profissão.

O primeiro sintoma da nova fase é a abordagem carinhosa e mais efusiva sempre que vai ao médico ou à padaria. "Não posso abrir a boca", brinca ela, que já se viu até filmada por fãs no aeroporto e se diz surpresa com a recepção. "Não esperava que gostassem tanto da Teodora, ainda mais porque não sou uma atriz dentro dos padrões de televisão. Então isso também dá uma novidade. As pessoas dizem que marido tem que ser tratado assim, que tem que andar na rédea curta. Ela é uma vilã simpaticona, sem noção. Ela governa, é uma ditadora, só ouve a filha. Para mim, ela foi mimada do mesmo jeito pelo pai, que arranjou um bonitão para casar com ela", analisa.

Improviso em cena

O prazer em interpretar Teodora transparece na conversa: cada vez que fala sobre a personalidade da milionária, a atriz fala num tom carinhoso, como quem se refere a uma amiga querida ("Eu adoro a Teodora, ela é tão fora da realidade..."). Grace também ri sozinha ao se lembrar das cenas em que pode improvisar, seja criando um discurso de agradecimento por um Oscar ou inventando cores diferentes para seu bordão, "Cala a boca, Varela!". Ao lado de Alexandre Borges, Tatá Werneck, Claudia Jimenez, Marcelo Médici e Duda Mamberti, oportunidades para tanto não faltam.

"Olha que tempero gourmet! São seis estilos de comédia bem diferentes que, juntos, dão um prato ótimo. Aquela familia é um hospício, o público ama! O Alexandre eu conhecia de vista. Quando começamos as preparações, encontrei um cara superdisponível, a fim de jogar. É surpreendente porque ele tem uma carreira de muitos anos na televisão, muita gente não quer. A Tatá é uma atriz de raciocínio muito rápido, tem um olhar muito original, eu me identifico com a viagem da criadora. Temos tido oportunidade de inventar coisas muito legais", afirma.

Embora diga que não tenha nada em comum com Teodora, Grace cobiça algumas das peças do guarda-roupa da ricaça, que construiu visualmente inspirada em socialites como Carmem Mayrink Veiga e Beth Szafir a apresentadora Hebe Camargo e a cantora Maria Callas. Mas muito do jeito poderoso tem influência de outras figuras fortes da ficção, como a dona Armênia (Aracy Balabanian) de "Rainha da Sucata" e a viúva Porcina (Regina Duarte) de "Roque Santeiro".

"São mulheres fortes, de personalidades duvidosas, mas simpáticas e convincentes. O visual em mim fica engraçado em mim porque sou pequenininha. E essa coisa de ela ser muito chique me ajuda a me conter. No teatro, eu me mexo muito. Sou pessoa agitada, para a câmera tento ser pouquinho mais chique", brinca ela, cuja entrevista ao "Programa do Jô" em 2012 já rendeu muitos comentários justamente por causa de seu jeito expansivo.

"Já fui ao Jô cinco vezes e sempre são entrevistas muito legais. Mas antigamente não tinha essa loucura de rede social. Fui lá para brincar, mas eu, quando fico nervosa, fico agitada, mexo no cabelo... Tenho um cacoete que se espalha. Então não sei se as pessoas acharam que eu estava louca. Que pensem o que quiserem, quem sabe da minha vida sou eu e minha família. Só repercutiu desse jeito porque as pessoas têm tempo. Eu sou desse jeito", brinca.