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Conheça Mirella Ferraz, que ensinou Isis Valverde a se tornar sereia

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

13/01/2017 04h00

Aos 5 anos, Mirella Ferraz surrupiava as meias-calças da mãe para nadar de um jeito peculiar, com as pernas juntas, deslizando pela água, feito uma sereia. Aos 33, ela tem caudas bem mais elaboradas, transformou a fascinação que tinha pelos seres míticos em carreira e está (quase) preparada para ver o sereísmo virar um fenômeno popular quando sua aluna Isis Valverde estrear em "A Flor do Querer", próxima novela das 21h.

Aluna aplicada, segundo Mirella, a atriz teve aulas de apneia, mergulho com cauda, giros e expressão corporal debaixo d'água durante quase três meses para viver Rita na trama de Gloria Perez.

"Isis vai arrasar. Fiquei meio receosa no começo porque eu não a conhecia, e eu sou bichinho do mato. Mas a gente se deu muito bem. Desde pequena ela brincava de ser sereia, a gente teve afinidade. Sentir-se feliz e tranquila na água é primordial. Ela se encantou mesmo. É um papel maravilhoso, vejo pelo roteiro. É muito mágico, me vejo em tudo ali. Vou chorar a novela inteira", afirma ela, que também fará participações como ela mesma na novela.

Ao receber uma mensagem de Glória Perez pelo Facebook, a primeira reação de Mirella foi pensar que se tratava de um perfil fake. A segunda foi ligar para a mãe e contar a novidade.

Sereia profissional, Mirella Ferraz é instrutora de Isis Valverde em "A Força do Querer" - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mirella Ferraz diz que Isis Valverde é aluna aplicada
Imagem: Arquivo pessoal

"Pesquisei o perfil dela e respondi, ela pediu meu telefone. Ela explicou que o movimento das sereias estava ficando mais popular desde que famosas como Ivete Sangalo e Adriane Galisteu fizeram fotos com caudas e pensou em colocar na novela mais como moda mesmo. Depois ela pesquisou mais sobre a minha vida, achou interessante o fato de eu ser sereia em tempo integral e resolveu colocar um pouco da minha vida na personagem", explica.

Preconceito diminuiu

Sereia em tempo integral há cinco anos, Mirella, que é formada em Gestão Ambiental, com ênfase em Biologia Marinha, faz apresentações de mergulho em parques e eventos, dá aulas e mantém uma loja e um ateliê para vender caudas que ela confecciona com a ajuda da mãe e de mais quatro costureiras. O marido, Daniel Dias, também está envolvido: é seu fotógrafo e "carregador" oficial ("Queria que ele fosse meu tritão, mas ele diz que só é 'trintão'").

Por levar o sereísmo a sério, ela diz ter certa bronca com quem o vê apenas como modismo. "Encaro o sereísmo como um estilo de vida. Muita gente acha que é moda, compra cauda para tirar foto. Eu nasci sereia. É uma fascinação inexplicável, não é porque vi um filme ou desenho. Quando 'A Pequena Sereia' estreou, eu já tinha 7 anos. Minha primeira palavra foi sereia, aprendi a nadar sozinha com 1 ano. Eu me sinto melhor dentro d'água do que fora. Tenho que mergulhar todos os dias ou meu nariz fica péssimo, começo a espirrar muito", afirma.

Sereia profissional, Mirella Ferraz é instrutora de Isis Valverde em "A Força do Querer" - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mirella, aos 8 anos, com uma cauda feita por sua mãe
Imagem: Arquivo pessoal

Mas se existe alguém capaz de "fabricar" moda com suas novelas é Gloria Perez, que já transformou Jades (personagem de Giovanna Antonelli em "O Clone") e Mayas (papel de Juliana Paes em "Caminho das Índias") em referências nacionais de vestimentas e acessórios. "Já estou preparando meu espírito (risos)! Vejo meninas que já me xingaram postando fotos hoje com a hashtag #sousereia. Fico puta", brinca Mirella.

A mudança de postura em relação ao seu estilo de vida, aliás, veio com o tempo. O preconceito, ela conta, já foi bem maior. "Quando comecei, era chamada de louca, débil mental, criança. No Japão, as pessoas vão vestidas como um personagem de anime para comprar pão e ninguém fala nada. Recebi um milhão de críticas, mas nunca dei bola ou não teria seguido com meu sonho", diz ela, que não abre mão das conchas nos cabelos, longos até a cintura, para ir ao supermercado.

"Alguém viver de um sonho de criança, de um conto de fadas, é fantástico. As pessoas se apaixonam pelo sereísmo. Se não se apaixonarem é recalque", diz, aos risos.