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"Existem muitos Zecas por aí", diz Marco Pigossi sobre machista em novela

Zeca (Marco Pigossi) em "A Força do Querer" - Estevam Avellar/TV Globo
Zeca (Marco Pigossi) em "A Força do Querer" Imagem: Estevam Avellar/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

29/04/2017 04h00

Para Marcos Pigossi, Zeca é um personagem popular, daqueles que encorajam o público a puxar assunto com seus intérpretes na fila do supermercado, na feira, no aeroporto. O mais grave é que muitos dos comentários que o ator de "A Força do Querer" ouve nas ruas são de apoio às atitudes machistas do caminhoneiro, que já atirou num inocente por causa de ciúmes e é cheio de "nãos" para a empoderada Jeiza (Paolla Oliveira).

"Isso acontece. Tem pessoas que vem falar comigo: 'Mas é claro, ela estava no bar tomando cerveja com outro cara'. Qual o problema? Se fosse um homem bebendo com uma mulher não seria um problema, né? Não tem que ser assim, mas existem muitos Zecas por aí", diz.

Difícil saber até onde vai essa relação com uma mulher policial, lutadora de MMA, independente e cheia de opinião como Jeiza, já que o ideal de mulher para o caminhoneiro é aquela que só pode ficar em casa cozinhando.

"Acho legal ter esse personagem nesse momento, quando a gente está vivendo uma primavera feminista no país. É fantástico. O machismo impera no Brasil, infelizmente. Esse casal veio para apimentar ainda mais essa discussão. Toda manifestação artística vem para questionar. As pessoas dizem: 'Ah, está dando mau exemplo'. Não, está mostrando o exemplo errado para que as pessoas vejam, se identifiquem e mudem a partir disso. Para que elas percebam como vamos criar nossos filhos. Esse cara vai quebrar a cara, e o público vai ver o Zeca sendo teimoso e sofrendo por isso", opina.

Zeca (Marco Pigossi) e Jeiza (Paolla Oliveira) em "A Força do Querer" - Mauricio Fidalgo/TV Globo - Mauricio Fidalgo/TV Globo
Zeca (Marco Pigossi) e Jeiza (Paolla Oliveira): casal improvável
Imagem: Mauricio Fidalgo/TV Globo

Mesmo com perfis tão diferentes, a dupla mostrou química como esse casal "fora do padrão", como classifica Pigossi. "O relacionamento deles é muito legal, é muito 'gata e rato'. Eles são muito opostos, e esse embate é divertido. Existe uma atração enorme, mas ao mesmo tempo tem um choque de personalidades muito forte. É curioso de acompanhar", diz.

O ator, no entanto, não arrisca dizer se a policial é capaz de fazer seu personagem esquecer Ritinha (Isis Valverde), que em breve vai reencontrar o homem que abandonou no altar em Parazinho.

"Ela é uma paixão de infância, tem essa coisa do encantamento da sereia. Quando ele a vê fica completamente desconcertado. Ele acha que domina mas é completamente dominado por essa mulher. Zeca não quer dar a separação, acha que vai dar o troco, é uma pirraça dele. Não sei como a Gloria [Perez, autora da novela] vai encaminhar isso", afirma.

Para encarnar Zeca, Pigossi tirou carteira de habilitação para dirigir caminhão (categoria D). "Acho o maior barato, está sendo uma experiência legal. Mas melhor ainda foi a pesquisa sobre essa profissão, que envolve milhões de outras coisas. É uma vida cigana, na estrada. Eles não tem um ponto fixo, é um relacionamento à distância. Descobrir como é a volta para casa, essa solidão, como eles lidam com isso tudo foi muito bom", lembra.

Já o sotaque parense foi um aprendizado mais sofrido, com direito a críticas de parte do público, que diz não reconhecer o retrato que a novela faz dos locais. "O texto vem com todas as expressões, e depois a gente descobriu que algumas não se usam. Mas vou pegar os prints das pessoas do Pará que dizem: 'Está perfeito!' (risos). A gente está fazendo uma representação, nunca vai ficar igual ao natural. Mas nosso núcleo carioca é formado por paulistas e ninguém reclama", diz.

"Estamos limpando algumas coisas, mas demora para ir ao ar. Estamos tentando encaminhar para que seja o mais parecido possível", explica.