Lilia Cabral buscou humor para evitar que público tivesse pena de Silvana
Ao ler a sinopse de "A Força do Querer", Lilia Cabral não queria que o público tivesse pena de Silvana. Com o aval da autora Gloria Perez, a atriz foi acrescentando um componente inusitado na construção da personagem, que é viciada em jogo e sofre sozinha com sua compulsão enquanto dribla como pode a desconfiança da família.
"Vi que ela [a autora] não apresentou a personagem de forma pesada ou negativa, não deixou denso demais. Fui percebendo que poderia tratar aquilo com um pouco de humor, um humor natural. O Humberto [Martins, que interpreta Eurico] correspondeu muito bem, a Karla [Karenina, que faz a Dita] também. Acredito que esteja dando certo, que assim as pessoas vão se acarinhando com o personagem, vão se solidarizando", analisa a atriz de 59 anos.
"A pena distancia. Quando se entende é que se resolve o problema. Agora que está começando a pesar um pouco, as pessoas percebem que ela vai se dar mal", afirma.
Segundo Lilia, o fundo do poço vai chegar para Silvana, mas a tendência é que os problemas cheguem em escala crescente. Depois de penhorar o relógio do marido, ela se envolve em mais mentiras para proteger o vício. Ela inventa uma viagem de trabalho a São Paulo para passar uma noite inteira tentando a sorte - no início ela até ganha um dinheiro, mas depois começa a perder sem parar. A filha, Simone (Juliana Paiva), desconfia da desculpa da mãe e os conflitos entre as duas ficam mais acirrados.
"Ela não se sente viciada, acha que tudo que ela faz é uma válvula de escape para relaxar da tensão de um dia mais complicado. Vai demorar para ela perceber", adianta.
Por onde passa, a atriz encontra alguém que se identifica em algum grau com o drama de Silvana. "Outro dia saí do cabeleireiro e duas pessoas vieram falar comigo. Uma disse que a mãe gosta de jogar e aposta a aposentadoria, joga o que tem. Outra disse que o problema dela é compulsão por compras, e disse que conseguiu sair dessa", conta.
"Vício não tem classe social. Eu não sou uma pessoa compulsiva, nunca me peguei desesperada por alguma coisa. Pela minha educação, eu tinha que aprender a me satisfazer com as coisas. O grande mal do século 21 é essa insatisfação que gera ansiedade", analisa.
Envolvida com o projeto de adaptação da peça "Maria do Caritó" para o cinema, Lilia já está escalada para outra novela das 21h: "O Sétimo Guardião", de Aguinaldo Silva, prevista para 2018. Ela diz que não sabe detalhes da história, apenas que será uma vilã, Valentina. "Tenho uma gratidão imensa por ele, que peitou para eu fazer o Pereirão [em 'Fina Estampa']. Jamais posso esquecer. O que ele pedir eu vou fazer, e vou cega", brinca ela, que não gosta de férias.
"Para mim, dez dias está bom. Não sou de dizer: 'Preciso de um ano sabático'. As pessoas vão se torrar de mim, não adianta", afirma, aos risos.
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