Thammy estreia peça e diz que não teria problema em ficar nu por personagem
Quando se viu no espelho, Thammy Miranda era outro: barba, cabelo platinado. Nascia ali Rafael, um surfista viciado em sexo, seu primeiro personagem no teatro, que ele mostra a partir desta quarta-feira (31), na peça "T.R.A.N.S. – Terapia de Relacionamentos Amorosos Neuróticos Sexuais", no Teatro Glauce Rocha, no Rio. Em cena, o ator aparece sem camisa - e diz que até tentou pegar mais pesado nos exercícios físicos para fazer bonito no palco.
"No começo, eu tentei malhar realmente. Mas depois, com a intensidade dos ensaios, eu confesso que nunca mais fui à academia (risos). Eu sempre gosto muito de mudar. Quando eu me olho no espelho, sei que o Rafa está presente. No dia a dia, não fico totalmente sem barba, mas ela maiorzinha assim me incomoda um pouco", conta ele, que aparece só de cueca na peça.
"O ator tem que mostrar a realidade. Eu não tenho problema nenhum com meu corpo, com nu, com nada. Nunca tive esse problema. E se for para passar veracidade para o personagem, para mim é super tranquilo", garante.
Em comum com o personagem, Thammy diz que só tem a alegria. "Ninfomaníaco eu não sou, não", brinca ele, que tampouco sabe surfar. Mas há outra coincidência: na peça, o filho de Gretchen também forma um casal com Andressa Ferreira, sua namorada na vida real há três anos e meio. Ela é Jéssica, uma estudante de psicologia, que tenta "consertar" o rapaz, filhinho de papai e bastante preconceituoso, e indica que ele procure uma terapia.
"É incrível, a gente descobriu que se dá muito melhor do que a gente imaginava. A gente já briga muito pouco na vida, mas agora, 24 horas por dia juntos, briga menos ainda", conta.
Thammy, que já atuou na TV em "Salve Jorge" (2012), diz que a experiência no palco tem sido "incrível". A prova de fogo foi na última sexta-feira (26), quando a peça fez sua primeira apresentação oficial, na Mostra de Teatro Tiradentes em Cena, antes da temporada carioca, que vai até 2 de julho.
"A gente teve até que fazer duas sessões. É bom que já tira essa responsabilidade, já consegue fazer aqui mais gostoso", conta. "Eu gosto de desafios. As dificuldades são várias: fazer ao vivo, não tem corte, nada. Errou, inventa alguma coisa. Você está ali atrás preocupado com que roupa você vai pôr, mas aqui tem que pensar na intenção. Sua cabeça tem que trabalhar em dobro", analisa.
Autor e diretor do espetáculo, Carlos Verahnnay, que também interpreta Gustavo, amigo do casal, afirma que o texto original da peça, baseado no filme "De Repente Califórnia", de Jonah Markowitz, falava de homossexualidade. Quando Thammy entrou no projeto, o tema foi adaptado: segundo ele, existe no trio um personagem transgênero, que relembra em determinados momentos o processo de transição.
"É um trans inspirado no Thammy mesmo, uma pessoa bem resolvida com o que quer e sente ser", afirma.
A experiência do casal, inclusive, influenciou na própria peça. Verahnnay explica que algumas sugestões dadas por eles foram assimiladas e incorporadas ao texto.
"Até então eu fazia com que as pessoas pensassem mais. Agora a gente esclarece com mais facilidade a questão de o personagem trans ter nascido com um sexo e se sentir de outro, desde que nasceu", explica.
O assunto, ressalta o dramaturgo, é tratado de forma séria quando necessário, mas o espetáculo é essencialmente uma comédia.
"A comédia pode ser uma crítica também. Não é porque é engraçado que é legal. É a mesma coisa que, por exemplo, fazer um político. A pessoa tem que parar para raciocinar, e é isso que o teatro pede. Se for rir por rir, melhor assistir a um canal do YouTube", sentencia Thammy.
Trans em "A Força do Querer"
Mergulhado na rotina intensiva de ensaios - foram 35 dias de 8 a 10 horas de trabalho -, o ator diz que ainda não teve tempo de acompanhar a história de Ivana (Carol Duarte), em "A Força do Querer", que enxerga como exemplo de uma pequena evolução na questão da representatividade hoje em dia.
"Ela já é um trans, só não sabe que é. Depois que a peça estrear, quero muito assistir. A Gloria [Perez, autora] sempre faz tudo com muita pesquisa. A gente está caminhando. A partir do momento que é uma coisa que está batendo na sua porta, uma coisa que existe em muitos lares, começa a fazer parte do nosso cotidiano. Novela também é isso. Mais cedo ou mais tarde iriam existir esses personagens", afirma.
Para Andressa, muito da intolerância em relação à transgeneridade vem da ignorância.
"As pessoas não entendem, e eu vejo muito isso nas nossas redes sociais. A maior parte dos comentários nas últimas fotos do Thammy eram: 'Tudo bem gostar de mulher, mas para que ter virado um homem? Não precisava disso'. A pessoa não entende que trans não tem a ver com sexualidade e sim com como você se sente com você. As pessoas têm que parar para se questionar", afirma.
Nessa hora, Thammy intervém e complementa: "Isso só interessa para a pessoa quando acontece dentro da própria família. O ser humano é egoísta, então ele só vai se preocupar com os direitos humanos quando alguém da sua família vai preso ou está apanhando. Ele só vai se preocupar com um trans que morre quando um trans da família dele morrer. Infelizmente é assim".
Em sua estreia nos palcos, o ator diz que quer, em primeiro lugar, se divertir.
"Como eu sou leve, jamais iria passar [a mensagem] de uma forma dramática porque não sou dramático na minha vida. Esse tipo de informação não necessita disso", diz.
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