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Travestis e trans criticam Gloria Perez: "Novela complica fim do estigma"

Ivana (Carol Duarte) e Elis Miranda (Silvero Pereira), de "A Força do Querer" - Montagem/Divulgação/TV Globo
Ivana (Carol Duarte) e Elis Miranda (Silvero Pereira), de "A Força do Querer" Imagem: Montagem/Divulgação/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

07/08/2017 17h31

Afinal, Ivana é transgênero, travesti, gay ou nenhuma das alternativas? A definição da personagem de "A Força do Querer" tem deixado muitas dúvidas em sua prima, Simone (Juliana Paiva), e na própria mãe, Joyce (Maria Fernanda Cândido), que ainda não sabe que a filha é um homem trans. Ativistas transexuais, porém, apontaram erros de Gloria Perez sobre a explicação de orientação sexual e identidade de gênero na novela.

A Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) divulgou em sua página no Facebook uma nota pública para Gloria Perez corrigindo as definições sexuais e de gênero que a trama da Globo errou. Nos capítulos, Elis Miranda, travesti interpretada por Silvero Pereira, chegou a dizer que travestis são "gays" e "transformistas" e que transgêneros não fazem mudanças corporais.

"A novela [...] tem prestado um relevante serviço quando aborda a questão da transmasculinidade vivida pela personagem Ivan/Ivana, e tem prestado grande serviço de informação acerca da temática. Porém, tem deixado a desejar quando a identificam como transgênero. No nosso entendimento, a personagem é um homem trans, inspirada na obra "Homem Trans", do escritor João W. Nery", diz o texto da Antra.

João W. Nery, homem trans citado pela associação e uma das inspirações de Gloria Perez para criar Ivana, criticou os erros de "A Força do Querer" sobre o assunto. "Agora me preocupei com a assessoria da novela da Gloria Perez. Desde quando travesti não é transgênero? Alguma coisa está errada aí", escreveu em seu perfil no Facebook.

A Antra também corrigiu Gloria Perez sobre a abordagem de travestis na novela: "Quando se refere a travestis, a novela se perde numa profusão de diálogos e conceitos que não ajudam em nada essa população e acaba complicando ainda mais o trabalho que temos desenvolvido ao longo de anos, que é o de tirar o estigma que esse termo representa. O conceito tão mal empregado no Aurélio e que nos elimina enquanto identidades políticas, do campo das feminilidades".

No texto, a associação explica os diferentes termos para definir gays, travestis, transexuais e transgêneros e afirma querer ajudar Gloria Perez a corrigir os erros em "A Força do Querer".

"Queremos contribuir para que a novela de fato possa ser um canal de entretenimento e também educativo diante dessa complexidade que são as identidades de pessoas trans, população tão vulnerável devido à exclusão provocada pela transfobia [...] Nos colocamos à disposição para dialogar mais e aproveitar sobremaneira a oportunidade trazida pela autora, mas vimos através da nota expor não um incômodo pessoal, mas de inúmeras travestis por esta entidade nacional representadas Brasil afora."