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Armas pesadas e trabalho duro: a rotina de "bandido" de "A Força do Querer"

Nathan Sena nos bastidores de "A Força do Querer" com Jonathan Azevedo (Sabiá) e Emilio Dantas (Rubinho) - Arquivo pessoal
Nathan Sena nos bastidores de "A Força do Querer" com Jonathan Azevedo (Sabiá) e Emilio Dantas (Rubinho) Imagem: Arquivo pessoal

Marcela Ribeiro

Do UOL, no Rio

19/10/2017 04h00

Morador de Vicente de Carvalho, subúrbio do Rio, Nathan Sena se habituou com a violência gerada pelo tráfico de drogas na cidade. Apesar disso, o aspirante a ator não esconde a empolgação de viver um traficante em "A Força do Querer". O jovem de 22 anos interpreta um dos bandidos e faz parte do elenco de apoio da novela. Cerca de 20 pessoas integram o grupo de traficantes aliados de Sabiá (Jonathan Azevedo) e Rubinho (Emilio Dantas).

Nathan fala com empolgação das cenas de ação e não se incomoda com a rotina pesada nem com a dor que sente quando, ocasionalmente, leva um "tiro" em cena com armas de paintball.

"Quando a gente entra ali na favela, começa a pegar as armas e já vai incorporando. Entramos legal no personagem. Viramos o bandido, todo mundo fecha a cara. Fica muito perfeito, muito bom de gravar, melhor do que todas as novelas que já participei", conta.

O figurante já fez participações em "Malhação" e "Sol Nascente", mas foi em "A Força do Querer", apenas mostrando o rosto na TV e fazendo cara de mau, é que passou a ser reconhecido nas ruas e tem gostado da fama. O convite para participação causou estranheza na família.

Nathan Sena nos bastidores da gravação de "A Força do Querer" na favela de Tavares Bastos, na zona sul do Rio - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Nathan Sena nos bastidores da gravação de "A Força do Querer" na favela de Tavares Bastos, na zona sul do Rio
Imagem: Arquivo Pessoal

"Minha mãe não gostou que fui chamado, mas depois ela entendeu e viu o reconhecimento. Onde eu vou os outros falam que sou da tropa do Sabiá. É muito maneiro isso. Minha mãe fica feliz com isso. Estou gostando muito", diz ele.

A rotina é puxada. As gravações aconteceram de duas a quatro vezes por semana e duravam cerca de 12 horas por dia. Nathan ficava à disposição da produção para atuar no fictício morro do Beco, ambientado na favela Tavares Bastos, no Catete, zona central do Rio, conhecido cenário de produções televisivas e cinematográficas. A novela "Vidas Opostas", da Record, e o filme "O Incrível Hulk" (2008) tiveram cenas gravadas lá.

"A gente ralou pra caramba para sair tudo direitinho. Todo mundo levou a sério o trabalho. Nessa última semana foi correria, subindo e descendo escada no morro, na mata. Estava com uma mochila com cinco quilos nas costas e um fuzil pesadíssimo. Alguns fuzis são de verdade, outros são cenográficos. As cenas de trocas de tiros são perfeitas. Dá uma adrenalina de verdade", relata.

E para dar realismo às cenas, a Globo usa ainda efeitos especiais nos confrontos dos bandidos com a polícia com troca de tiros.

Pai de Artur, de 2 anos, ele conta que, apesar de curtir gravar a novela, não deixa o menino ver as cenas de violência e prefere não opinar diretamente se acha que a novela faz apologia ao crime.

"É complicado porque eu vivo ali neste núcleo, às vezes quero defender, mas é pesado demais. Não deixo meu filho assistir, não gosto que ele veja armas, não é legal meu filho ver essas coisas", diz.

A questão da violência abordada na novela vai além da ficção e Nathan não precisa ir muito longe para conviver com uma realidade bem próxima da que a novela de Gloria Perez mostrou.

"Na minha escola, já estudei com muito traficante, uns já se foram, outros estão vivos. Não escolheria essa vida jamais, tenho filho para criar. Moro em Vicente de Carvalho, não é pacificado, rola tráfico, óbvio que conheço alguns traficantes, mas não me envolvo", conta.