Ator que faz sacerdote em "Apocalipse" não vê ataque a católicos: "Bobagem"
Desde que estreou, “Apocalipse”, principal aposta da dramaturgia da Record, vem passando por maus bocados. Além de uma audiência muito abaixo da esperada, segundo o colunista Flávio Ricco, do UOL, o texto da novela está sofrendo influência direta da alta cúpula da Record, que é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, o que estaria deixando elenco e autores desnorteados.
O ator Flávio Galvão, que interpreta o inescrupuloso sacerdote Stefano Nicolazi, diz não saber de interferência e afirma que tem gostado muito de atuar na trama. “O resultado para mim tem sido muito positivo. As pessoas gostam muito. Gosto muito de fazer essa novela interessante. Acho que ela tem bons atores e um elenco ótimo. E a Vivian [de Oliveira, autora], me parece, começa a colocar na novela esse lado do folhetim, o que faz que a dramaturgia seja mais interessante”, disse ao UOL.
Na história, o personagem de Galvão é o sacerdote-mestre da Igreja da Sagrada Luz, um falso profeta do apocalipse. Cheio de mistérios, ele será o responsável pela ascensão do Anticristo (Sérgio Marone). Os espectadores perceberam rapidamente as semelhanças entre a religião retratada na novela e a Igreja Católica.
O ator defende a representação do tema. “Acho que essas críticas independem de a televisão ter um critério de uma religião, porque se você pensar por esse aspecto, os livros do Dan Brown [‘Código da Vinci’, ‘Anjos e Demônios’] não seriam sucesso, ‘O Nome da Rosa’ [de Umberto Eco] não seria sucesso, porque são livros que criticam a Igreja Católica, como podem criticar a evangélica, espírita. Eu acho que qualquer tipo de censura tem uma dimensão muito desagradável. ‘Ah, não pode se falar do islamismo’. Claro que pode, se você não está gostando, muda de canal”.
Sem entrar no mérito da semelhança da religião retratada na história com o catolicismo, Galvão vê a abordagem na novela como parte da dramaturgia e não como uma ofensa aos católicos.
“Esse negócio de as pessoas acharem que tem uma coisa contra a Igreja Católica acho uma bobagem. As pessoas têm o direito de achar isso, mas vejo como dramaturgia. Se eu achasse que era uma coisa simplesmente para ofender uma religião, eu não estaria fazendo. Historicamente, a gente sabe dos problemas que a Igreja Católica tem, assim como da Igreja Protestante”, observa.
Galvão também elogia a construção do seu personagem, definido por ele como um sacerdote com "um lado político muito forte" e "cerebral". "Existem envolvimentos do passado dele que agora começam a ser revelados e a autora começa a colocá-lo dentro de uma trama que é a ficção da novela. O personagem tem essa riqueza, é um ser humano. Ao mesmo tempo, ele quer o poder”.
Três vezes no ar
Galã nos anos 70 e 80, Flávio Galvão estava afastado das novelas desde "Império", novela das nove da Globo, em que interpretou o mulherengo e machista Reginaldo. De 2015 para cá, no entanto, ele não ficou parado: virou comentarista político do "Jornal da Cultura", fez a peça "O Semeador", dirigiu curta-metragem e vídeos institucionais.
Com o convite da Record, entretanto, até recentemente o ator podia ser visto em três tramas diferentes. Ele estava no ar na repise de “Senhora do Destino” (2004), do “Vale a Pena Ver de Novo”, e em “Tieta” (1989), do Canal Viva.
Em “Tieta”, sucesso de Aguinaldo Silva do fim dos anos 80, Galvão interpretava o comandante Dário, um homem mulherengo e cobiçado. O ator, que contou ter acompanhado a reprise, lembra com carinho da história baseada na obra de Jorge Amado. “Eu tinha um prazer enorme de fazer aquela novela. Era uma TV Globo muito interessada na criatividade, na inovação. Acho que ‘Tieta’ foi um marco da televisão brasileira, as pessoas tinham prazer em ver novela cotidianamente”.
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