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Atriz Tônia Carrero é velada no Theatro Municipal do Rio

Do UOL, no Rio

04/03/2018 15h30

O corpo da atriz Tônia Carrero está sendo velado no Theatro Municipal, no centro do Rio. A atriz de 95 anos morreu por volta das 22h15 de sábado (3) após sofrer uma parada cardíaca durante uma cirurgia na clínica São Vicente, na Gávea, na zona sul.

Ícone do teatro e do cinema brasileiros, ela atuou em 54 peças, 19 filmes e 15 novelas e vivia há mais de uma década reclusa, com dificuldades de fala e locomoção --sofria de hidrocefalia (excesso de líquido no cérebro).

Netos, bisnetos e o filho, o ator e diretor Cecil Thiré, além de amigos da atriz, chegaram por volta das 14h e participam de uma cerimônia fechada. Muito debilitado, o único filho da atriz, que sofre de mal de Parkinson, chegou de cadeira de rodas ao velório. Em seguida, o teatro foi aberto para fãs se despedirem da atriz, até as 22h. A cremação está marcada para as 15h de segunda (5), no Memorial do Carmo, para aguardar a chegada de dois netos da atriz que moram em Lisboa e Canadá.

De acordo com a atriz Luisa Thiré, neta de Tônia, ela deu entrada no hospital para a realização de um procedimento cirúrgico considerado simples para tratar uma úlcera. "Ela foi internada ontem para um procedimento e durante a cirurgia ela teve uma parada cardíaca e infelizmente não resistiu. Ela tinha uma úlcera na região do sacro, uma coisa comum na idade dela", disse em entrevista à Globo News.

"Infelizmente mais uma estrelinha no céu, essa avó maravilhosa, uma pessoa incrível, essa atriz sem tamanho, com uma importância para todo cenário do teatro, TV, Cinema, esse legado, esse caminho que ela abriu para nossa família".

O ator Ney Latorraca foi um dos primeiros a chegar ao velório da atriz e amiga. "Éramos como uma família. Tônia deu muita força para mim. Levei um susto. Fiquei sabendo pela internet. Ultima vez que estive com ela foi no aniversário de 90 anos. A imagem forte que tenho dela é daqui (centro do Rio) na passeata contra a censura. Era linda, talentosa, um pacote completo".

Um dos netos de Tônia, Carlos Thiré, 45 anos, falou sobre a avó e seu legado. "É difícil assumir que chegou o dia de me despedir da pessoa mais forte que já conheci. Ela conseguiu fazer exatamente o que queria da vida. Era a pessoa mais livre que já conheci. A mensagem que fica é a força incrível dela, essa luz de que todos beberam, todos da classe artística, todos que lutaram contra a ditadura. Ela precisava descansar. Esticou a corda até onde deu. Acho que tem a ver com a condição do meu pai, ela enquanto mãe não abriu mão de cuidar dele até o fim".

Carlos dirigiu a última peça que Tônia atuou, "Um barco para o Sonho", em 2007. "Que atriz foi dirigida pelo neto e que neto foi diretor da avó? Hoje não é dia de tristeza. Para a vida que ela teve, não tem tristeza", completou Carlos.

Vitor Thiré, de 24 anos, também segue os passos da avó. "Tenho honra e orgulho de fazer parte dessa família. Ela foi um divisor de águas no teatro mundial pela defesa que ela fazia do teatro. E toda família foi picada por esse bichinho", afirmou o jovem, que lembra do bom humor da avó. "Ela era uma das pessoas mais engraçadas que conheci. Gostava de ter todo mundo envolta dela", acrescenta.

A atriz Silvia Bandeira lembra como a amiga era também fora dos palcos. "Ela era fascinante. Ela era uma referencia. Estou triste, mas fica um legado para o teatro nacional. Além do talento ela tinha cultura e uma beleza que não é só essa que vemos, ela tinha luz".

Amigos da atriz também fora dos palcos, Edwin Luisi e Sandra Pêra chegaram juntos ao velório do Municipal. "Cheguei no Rio em 1976 e ela me recebeu. Ela abria a casa para nós, era acolhedora", disse o ator. Para Sandra, a imagem que ficará da atriz é da jovialidade. "Ela era eternamente jovem. Lembro dela em 'Dancing Days', já era uma senhora, com uma jardineira jeans colada ao corpo, bebendo, dançando, aquilo me fascinou. Era jovem e louca".

Antonio Pitanga lembrou como Tônia era amiga e solidária com a classe artística. "Ela fazia na casa dela o Natal dos Desgarrados, para atores e artistas que estivessem longe da família. Eu, que vim da Bahia, sempre participava. Ela era humana, inteligente, amiga", afirmou o ator. Segundo ele, também foi ideia dela os artistas se juntarem aos estudantes na passeata que aconteceu após a morte do estudante Edson Luiz, em 1968, no centro do Rio, episódio de uma foto icônica em que a atriz aparece ao lado de Eva Todor, Eva Wilma, Leila DIniz e Norma Bengell.

"Ela nos liderou e os artistas deram as mãos e seguimos até o Cemitério São João Baptista. Ela fez 'Navalha na Carne' sendo filha de militares, em plena ditadura. Era tudo isso", afirmou o amigo.

Muito emocionada, a atriz Nicete Bruno chegou ao velório com os filhos Paulo, Barbara e Beth. Ela lembrou de quando estreou na TV ao lado de Tônia. "Estivemos juntas em grandes momentos, tinha um carinho especial por ela. Foi ao meu casamento, estávamos juntas sempre que podíamos", afirmou Nicete.

Trajetória

Nome artístico de Maria Antonietta Portocarrero Thedim, Tônia nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de agosto de 1922, e foi uma das atrizes mais reconhecidas da segunda metade do século 20.

Tônia interpretou diversos personagens no "Grande Teatro Tupi", de 1952 a 1960. Sua primeira novela foi "Sangue do Meu Sangue" (1969), de Vicente Sesso, na extinta TV Excelsior. No ano seguinte interpretou a personagem Cristina Cerdeira na novela "Pigmalião 70" exibida na Globo.

A atriz viveu Stella Fraga Simpson em "Água-viva" (1980), participou ainda de "Sassaricando" (1987), "Kananga do Japão" (1989), dentre outras. Seu último papel na TV foi o de Madame Berthe Legrand em "Senhora do Destino" (2004).

Ela atuou ainda no teatro e no cinema. No total, Tônia atuou em cerca de 50 peças nos 70 anos de carreira. Sua estreia no teatro foi em 1949, ao lado de Paulo Autran em "Um Deus Dormiu Lá em Casa".

Teve um único filho, o também ator Cécil Thiré com Carlos Thiré. Tônia sofria de hidrocefalia (excesso de líquido no cérebro). Os primeiros sintomas da doença apareceram em 1999. Sua última aparição pública aconteceu em abril de 2011, quando foi ver uma peça estrelada pelo filho.