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Caso João de Deus estará em versão humorística de retrospectiva da Globo

Marcius Melhem assumiu diretoria de humor na Globo - Divulgação/Globo
Marcius Melhem assumiu diretoria de humor na Globo Imagem: Divulgação/Globo

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

14/12/2018 04h00

Novo homem forte do humor na Globo, Marcius Melhem assumiu em setembro a missão de fazer o gênero ocupar um espaço maior na emissora. O ator e roteirista recebeu o convite de Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo, e aceitou com a condição de continuar a atuar na criação de projetos e em roteiros. 

"O convite surgiu naturalmente, pelas coisas que vinha fazendo. É a visão de futuro na Globo de que o humor poderia ocupar maior espaço do que ocupa. Começamos a discutir sobre projetos, talentos, espaços na grade, tipos de programa e não dá para fazer isso sem a estrutura jogar a favor. Não quero me encastelar, ser o cara que fica dizendo sim ou não", contou Melhem em entrevista na quarta-feira (12) no intervalo das gravações da última temporada de "Tá no Ar: a TV na TV".

O programa foi criado por ele em parceria com Marcelo Adnet.

Dos projetos já sob a batuta de Melhem à frente da nova diretoria, está o especial "A Gente Riu Assim", uma retrospectiva dos acontecimentos de 2018 em versão humorística. Ele afirma que nada de relevante do conturbado ano ficará de fora do programa, nem mesmo o caso do médium João de Deus

"A gente está terminando de gravar a retrospectiva, que vai ao ar dia 20. Se vamos falar dos assuntos principais do ano até a data da exibição, não dá para deixar [o caso] João de Deus de fora. Aí você pergunta: 'Como você fala disso?' É muito delicado. Buscamos uma forma. Em uma reunião com o Schroder, mostrei e ele disse: 'Vamos embora' e a gente alinhou. Tudo é discutido para fazermos da forma mais protegida possível", explicou.

O médium é acusado por dezenas de mulheres de abuso sexual. As primeiras denúncias se tornaram públicas no "Conversa com Bial" da última sexta-feira (7). Até quinta-feira (13) cerca de 200 mulheres, já haviam denunciado o médium. A promotoria pediu a prisão do médium à Justiça.

Das situações que foram fáceis de fazer piada estão as eleições.

"Eleições? Foi mole. O Brasil inteiro fez piada. O Adnet fez na campanha inteira. Ele estará de Bolsonaro na retrospectiva", adiantou Melhem.

Marcius Melhem e Marcelo Adnet em cena na última temporada de "Tá no Ar" - Paulo Belote/Globo - Paulo Belote/Globo
Imagem: Paulo Belote/Globo

Não vale tudo por piada 

Com previsão para voltar em janeiro, "Tá no Ar: a TV na TV" entra em sua sexta e última temporada. Melhem explica que foi preciso terminar o humorístico para abrir espaço para novas ideias.

"O 'Tá no Ar' surgiu como novidade grande da TV. Poderíamos fazer por mais dez anos, mas somos inquietos e queremos fazer outras coisas. Temos que concentrar os esforços na nova ideia. Se você não tira do ar a máquina, não começa a girar para você. Tem que criar um buraco naquele espaço para a Globo girar em função da próxima ideia. E a próxima ideia é muito boa", afirmou Melhem, sem revelar detalhes do novo produto.

O humorista explicou que nesse novo setor ele terá uma função diferente. "É um olhar de curador. Fico olhando os projetos, conversando aqui e na GloboPlay. É muito bom poder ter espaço para discutir humor aqui, ter assento em reuniões muito importantes de estratégias do futuro da empresa. Não decido o que vai ao ar, dou minha opinião. Nesse lugar que estou minha opinião tem um peso. Mas deixo claro que é só minha opinião."

Segundo Melhem, todos os programas que cria com sua equipe tem um ponto em comum: conexão com a sociedade. Outra questão é a liberdade com responsabilidade e que o riso a qualquer custo não é o objetivo de sua gestão.

"O que chamam pejorativamente de politicamente correto é um avanço na sociedade. É não dar porrada em quem já apanha. Não oprimir o oprimido, não ajudar a perpetuar machismo, racismo, misoginia. Vivemos em um país difícil de se viver para muitas categorias. A função do humor é melhorar a vida dessas pessoas, não piorar. O que fazemos é importante, temos um poder que a gente não pode negar. Fico ligado em quem estamos batendo. Esse lance de vale tudo por uma piada... Tem risadas que não me interessam. Busco outro caminho", afirmou.