"Cine Holliúdy é diversão em momento de Brasil triste", diz Nachtergaele
"Macho cheio de pompa que manda e desmanda na cidade com uma prepotência diretamente proporcional ao tanto que é frouxo". É assim que o prefeito Olegário é descrito na sinopse da série "Cine Holliúdy", que estreia no dia 7 de maio. Quem interpreta o tipo é Matheus Nachtergaele, que conversou com o UOL no lançamento da produção na manhã de ontem.
"É uma série divertidíssima das duas coisas lindas que temos no Brasil: o que une o cinema mais alternativo que acontece no Nordeste e a televisão mais bonita do mundo, que é a brasileira quando é boa", disse o ator sobre a série de Marcio Wilson e Claudio Paiva, baseada nos dois longa-metragens homônimos escritos e dirigidos por Halder Golmes.
Matheus explica que seu personagem é um político corrupto caricato, uma crítica à cena política nacional.
"É um homem com todos os cacoetes divertidos e terríveis que há muitos anos criticamos na política brasileira. Ele é corrupto, mentiroso, interesseiro, violento, cafona, ignorante, machista, mas é completamente apaixonado pela mulher, que é a parte encantadora dele. É uma série de diversão em um momento de um Brasil triste", desabafou o ator e uma crítica à situação da cultura no país.
Além da extinção do Ministério da Cultura, no último dia 22 o governo federal anunciou novas regras para a Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet. A principal delas é a diminuição do valor do teto - de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão - de projetos incentivados.
Para o ator, o setor artístico sofre perseguição porque porque as artes estimulam o pensamento. "A sensação é de ré, uma vingança contra as liberdades que o ser humano conquistou, não só o brasileiro. Uma coisa morta que tenta dar o último suspiro, é o que está acontecendo agora sob a égide desse governo. Obviamente as artes como fazem refletir, libertam e fazem sonhar acabam perseguidas. Então diminui-se possibilidade de captação."
No dia 15 a Petrobras decidiu não renovar o patrocínio de 13 eventos culturais deste ano, incluindo festivais de cinema internacionais como a Mostra de São Paulo, o Festival do Rio e o Anima Mundi.
Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já havia anunciado no Twitter sua intenção de reduzir drasticamente todos os aportes a eventos culturais no país, levando temor de desmonte a grupos artísticos. Segundo ele, o objetivo é focar os recursos em educação infantil e na manutenção do empregado à Orquestra Petrobras.
"O cinema provavelmente vai passar, infelizmente, por período de recessão. Teatro vai ter que ser feito com menos grana, mas a gente sempre sobreviveu a isso. Mas não podemos entristecer", diz Nachtergaele.
De volta às novelas

"Evito novelas, não por preconceito contra o gênero, mas é que faço muito teatro e cinema. Novela ocupa tempo muito grande, às vezes não consigo aceitar. A novidade é que topei uma. Vai começar a pré [preparação] no fim do ano e estreia ano que vem, não vou dar detalhes porque é cedo, mas já está topado".
Paulistano, o ator, que está com 51 anos, tem uma lista de personagens nordestinos em seus mais de 20 anos de carreira na TV e no cinema.
"Os nordestinos estão na minha vida de uma maneira bonita. Eu, um burguês, paulistano, filho de belga, brinco que o Nordeste me tirou dessa posição, me colocou no coração dos brasileiros e os brasileiros no meu coração. Através do Nordeste, entendi mais ou menos quem nós somos fora daquele meu mundo que era São Paulo, do teatro. Viajando pelo Nordeste para gravar, filmar e também fazer teatro entendi mais quem nós somos".
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