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Ex-"Pânico" investe em podcast de saúde mental: "TV aberta não é para mim"

Amanda Ramalho - Reprodução/Instagram/amandaramalho
Amanda Ramalho Imagem: Reprodução/Instagram/amandaramalho

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

03/06/2019 04h00

Após sair do "Pânico", Amanda Ramalho se encontrou no podcast, veículo parecido com o rádio, onde trabalhou durante 15 anos, mas abordando outros assuntos. Agora, ela fala sobre síndrome do pânico, depressão, autismo e transtorno bipolar, entre outros temas ligados à saúde mental, no "Esquizofrenoias", que hoje estreia sua segunda temporada.

No podcast, um dos mais elogiados de 2018, Amanda conversa com famosos, anônimos e especialistas em doenças psicológicas e compartilha sua experiência pessoal com ansiedade e depressão. Diagnosticada com fobia social, ela precisou suportar os problemas emocionais enquanto era achincalhada no programa de rádio da qual era fã e na TV.

A atriz Klara Castanho, porta-voz de campanha contra o bullying, e a jornalista Izabella Camargo, diagnosticada com síndrome de burnout, são algumas das convidadas do "Esquizofrenoias" em 2019.

O "Pânico" é passado para Amanda, mas ela mantém contato com Emílio Surita e os ex-colegas mesmo após o episódio com o cantor Biel que culminou em seu pedido de demissão. Realizada com o podcast, ela projeta investir em edições com vídeo, mas descarta voltar à televisão. "TV aberta não é para pessoas como eu", afirma a comunicadora ao UOL. Leia a entrevista completa:

Klara Castanho e Izabella Camargo foram entrevistadas por Amanda Ramalho para o podcast "Esquizofrenoias" - Montagem/UOL/Reprodução/Instagram/klarafgcastanho/izabellacamargoreal - Montagem/UOL/Reprodução/Instagram/klarafgcastanho/izabellacamargoreal
Klara Castanho e Izabella Camargo foram entrevistadas por Amanda Ramalho para o podcast "Esquizofrenoias"
Imagem: Montagem/UOL/Reprodução/Instagram/klarafgcastanho/izabellacamargoreal

UOL: Primeiramente, o que ouviremos no "Esquizofrenoias" em 2019? Quantos episódios e quais convidados e temas?

Amanda Ramalho: Eu já gravei sobre maternidade com a Camila Fremder, asperger com o Rafael Mantesso, gravei com o familiar de um homem que tirou a própria vida e com a Klara Castanho sobre buylling. Essa temporada será maior. Teremos episódios semanais até o fim do ano.

UOL: A segunda temporada do podcast é consequência do sucesso da primeira. A que você atribui esse reconhecimento? Saúde mental é um assunto cada vez mais atual e necessário de se falar?

AR: Acho que, infelizmente, esse tema ainda não é muito abordado. E a leveza do programa faz com que gere curiosidade até para quem não sofre com nenhum diagnóstico. O programa é bem informativo. Esse conteúdo ainda é bem escasso.

UOL: Como é a receptividade do público? Muitas pessoas te escrevem compartilhando histórias relacionadas a ansiedade, depressão e tentativas de suicídio? Você toma cuidado para não tornar o podcast uma espécie de "consulta médica"?

AR: O público é muito próximo, carinhoso e grato. Uma garota que tem TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo) disse que enviaria o episódio sobre o tema porque ela não conseguia explicar o que sentia e o programa falava direitinho. Pessoas pedem ajuda para saber como lidar com parentes e eu indico os episódios. O podcast não tem nada de consulta médica. Eu levo pessoas que estão bem com suas condições justamente para mostrar que levando o tratamento a sério dá para viver muito bem.

UOL: Falar sobre saúde mental, durante muito tempo, foi considerado tabu, muitas vezes por ser associado a "loucura" ou "mimimi". O podcast ajuda a desmistificar o tema?

AR: Espero que sim. Eu fui diagnosticada com 16 anos e hoje tenho 33. De lá para cá, pouca coisa ou nada mudou.

UOL: Você passou a infância com sintomas de ansiedade e depressão e foi diagnosticada aos 16 anos. Compartilhar suas histórias e ouvir as dos convidados também serve como uma espécie de "terapia" informal? Porque muitas pessoas que têm essas doenças interiorizam suas dores, guardam para si, e isso prejudica ainda mais o estado de saúde.

AR: Eu não sabia, mas com o podcast sempre em primeira pessoa (seja eu, sejam os convidados) o ouvinte se identifica e muitas vezes cria coragem de pedir ajuda a um amigo, falar com os parentes, ir a um profissional. Eles são mesmo gratos, mandam mensagem falando da primeira consulta com o psicólogo, com o psiquiatra. Eu fico feliz. Sinto que plantei algo bom.

Amanda Ramalho fala com Emílio Surita no "Pânico", na rádio Jovem Pan - Reprodução/Instagram/amandaramalho - Reprodução/Instagram/amandaramalho
Amanda Ramalho fala com Emílio Surita no "Pânico", na rádio Jovem Pan
Imagem: Reprodução/Instagram/amandaramalho
UOL: Você ficou conhecida no rádio, foi para a TV e saiu dos dois. Você se encontrou no podcast, por parecer rádio e por não ter a exposição da TV?

AR: A TV aberta tem uma exposição que não me faz bem. Eu sou muito na minha. Não saio muito. Tenho poucos amigos. Eu não descarto a possibilidade do "Esquizofrenoias" em vídeo, mas em proporções menores. TV aberta não é para pessoas como eu. Amo fazer rádio. Fico feliz que consigo fazer o que amo no formato que amo. Eu tenho sorte.

UOL: Estar exposta no rádio e na TV, em um programa de humor e onde você era tachada de "mal-humorada", prejudicou sua saúde e seu tratamento? O episódio que culminou na sua saída do "Pânico" pode ser considerado uma "libertação" para você?

AR: Eu diria que prejudicou e ajudou. O 'Pânico' me fez encarar minha maior fobia: gente. Eu sou fóbica social, o programa me expôs a situações que eu jamais faria por mim mesma. Agora consigo fazer muitas coisas sem aquele trauma inicial porque já passei por isso gravando (risos). Foi um grande teste. Eu passei. Meu terapeuta e psiquiatra ficam orgulhosos, porque muita gente na minha condição desistiria. Sobre o episódio da saída, acho que tinha que ser como foi. Depois de um mês, tive certeza de que não voltaria para lá.

UOL: Apesar das tretas, você mantém boa relação com grande parte do elenco do "Pânico". Com quem você mais conversa? Eles passaram a "respeitá-la" depois de descobrir tudo que você passou em relação à saúde mental?

AR: Eu passei metade da minha vida na rádio com aquelas pessoas. Eles me conheceram na época do meu diagnóstico. Éramos uma família. Ainda existe tabu, como eu disse anteriormente, mas a maioria da equipe sempre me respeitou demais. Eu falo com quase todos sempre. Mando mensagem para o Emílio [Surita] sugerindo convidados. Fiz bons amigos lá e ótimos colegas também.