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Protagonista negro de nova novela, David Jr celebra papel: "Visibilidade"

David Junior é Ramon, que vai tentar reconquistar Paloma (Grazi Massafera) em Bom Sucesso - Estevam Avellar/Globo
David Junior é Ramon, que vai tentar reconquistar Paloma (Grazi Massafera) em Bom Sucesso Imagem: Estevam Avellar/Globo

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

22/07/2019 04h00

Antes de ser ator, David Junior trabalhou em um banco. A jornada era dupla. Trabalhava, estudava e depois sacolejava no último trem do Rio de Janeiro para Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde morava com a família. No próximo dia 29, ele entra no ar como Ramon em Bom Sucesso e será o único negro protagonista das novelas em exibição.

"Vou dar meu melhor por conta de tanta gente que vou dar visibilidade. É difícil para a gente ter autoestima quando não temos referência. Me coloco em um lugar de 'peso leve', porque vou errar para cacete nessa novela e acertar pra cacete também", disse o ator durante a festa de lançamento da trama, no Rio, na semana passada.

David Junior foi para Chicago para gravar com os Bulls para Bom Sucesso - Globo - Globo
David Junior foi para os EUA para gravar com os Chicago Bulls para Bom Sucesso
Imagem: Globo
Ainda é raro ver protagonistas negros em novelas. Taís Araújo protagonizou três na Globo: Da Cor do Pecado (2004), Viver a Vida (2009), considerada a primeira trama das 21h com uma protagonista negra, e Cheias de Charme (2012).

Entre os homens, Fabricio Boliveira foi classificado como protagonista de Segundo Sol, exibida no ano passado, pela diretora Maria de Médicis, apesar de ter muitos atores com mais destaques do que ele na trama. A novela foi criticada na estreia justamente pelos poucos atores negros numa história que se passava na Bahia.

Para David, a importância de estar nessa posição na dramaturgia na TV é reconhecer quem abriu o caminho antes dele.

"É o reconhecimento de uma estrada de seu Romeu Evaristo [ator que era o Saci Pererê da primeira versão do Sitio do Pica Pau Amarelo e que está na novela], Zezé Motta, Antonio Pitanga, Ruth de Souza que permitiram a gente estar aqui hoje."

David vai dividir o protagonismo com Grazi Massafera, que vive Paloma na trama, e Romulo Estrela, o galã Marcos, com quem Ramon vai disputar o amor da mocinha.

Aos 33 anos, o ator começou a carreira na Globo em 2010 com pequenos papeis até 2017, quando teve seu primeiro personagem de destaque na pele de Dom Favre. No ano passado, atuou em O Tempo Não Para como Menelau, um dos escravos da família de Dom Sabino (Edson Celulari), que despertou liberto após ficar congelado por 100 anos.

"Na época em que comecei, talvez não desse conta de ser protagonista. Hoje, após tempo e estudo, consigo estar feliz por estar em um projeto não só com a Grazi, mas com seu Romeu Evaristo, uma referência para mim. Poder sambar com ele depois de anos olhando para ele lá de Nova Iguaçu é uma honra, uma alegria", ressalta o ator.

"Não tinha preto nos Backstreet Boys"

Na trama, Ramon e Paloma são namorados apaixonados na adolescência quando ela engravida e ele ganha uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e a proposta de ser jogador profissional de basquete. Ele parte logo depois de a filha nascer.

Ao voltar ao Brasil, 15 anos depois, Ramon recebe uma ligação de Paloma contando que foi diagnosticada com uma doença grave e tem pouco tempo de vida. Mas a protagonista não morre e ainda conhece o galã Marcos (Romulo Estrela), por quem se encanta. Já Ramon, tenta reconquistar o amor e a confiança dela, depois de tanto tempo longe.

Neste meio tempo, ele vira professor de basquete. David dividirá as cenas com atores mais jovens, a maioria deles também negra. O ator também comemora ser referência para outros jovens negros.

"É gostoso estar nesse lugar e poder dar identidade para 53% da população. Quero pensar: 'Posso ser uma referência social, econômica, de beleza'. Quando era adolescente, minhas referências de beleza eram [as boy bands] Backstreet Boys, NSYNC. Onde é que tem gente preta nisso? Não se tem autoestima se a gente não se vê."

Uma realidade bem diferente da vivida nesta fase pelo ator, que relembra ter vivido episódios de preconceito quando ainda trabalhava no banco.

"No banco eu não tinha esse cabelo porque tinha que raspar. O Lucinho [ele aponta Lucio Mauro Filho, que está no elenco] com o cabelo deste tamanho, se puxar o fio dele é muito maior que o meu. Mas ele pode ter aquele cabelo, eu não posso ter esse. É muito latente. Se não é dono do próprio cabelo no seu trabalho você não consegue ter autoestima porque se sente um nada."