Morre a atriz Ruth de Souza, aos 98 anos
Ruth de Souza, considerada a primeira-dama negra do teatro, do cinema e da televisão brasileira, morreu hoje no Rio de Janeiro. A atriz de 98 anos estava internada no hospital Copa D'Or desde a semana passada. Ao UOL, Claudia Mastrange, jornalista e amiga da atriz, informou que ela morreu em decorrência de uma piora em seu quadro de pneumonia.
De acordo com o boletim do hospital, a atriz morreu às 11h20 de hoje. O velório será aberto ao público no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, das 10h às 16h desta segunda-feira. Ainda não há informações sobre o enterro.
Com mais de 60 anos de carreira na televisão, ela foi a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela: A Cabana do Pai Tomás (1969), na Globo. Entre seus outros trabalhos na TV estão O Rebu (1974), Sinhá Moça (1986), Mandala (1987), O Clone (2001) e Senhora do Destino (2004). Fez mais de 25 peças teatrais e mais de 30 novelas.
A mais recente participação dela na TV foi no ano passado em Mister Brau e na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, filmada este ano. Segundo um post da atriz Zezé Motta no Instagram, há 15 dias Ruth gravou uma cena para um filme que ainda vai estrear, sem citar maiores detalhes.
Neste ano, Ruth foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz durante desfile da série A do Carnaval do Rio.
Vida e obra
Ruth de Souza nasceu em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, e iniciou sua carreira artística no Teatro Experimental do Negro em 1945. Foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio, na peça O Imperador Jones, de Eugene O'Neil.
Participou de radionovelas e começou a atuar nos teleteatros da TV Tupi. Sua primeira novela foi A Deusa Vencida (1965), de Ivani Ribeiro, na Excelsior. Em 1968, foi contratada pela Globo para integrar o elenco de Passo dos Ventos, de Janete Clair. Só na emissora fez mais de 20 novelas.
A estreia de Ruth de Souza no cinema foi em 1947, na antiga companhia Atlântida. Indicada por Jorge Amado, ela atuou no filme Terra Violenta. Em 1948, recebeu uma bolsa de estudo da Fundação Rockefeller e passou um ano nos Estados Unidos, estudando na Howard University, uma universidade exclusiva para negros.
Entre seus outros trabalhos estão Falta Alguém no Manicômio, Também Somos Irmãos, O Assalto ao Trem Pagador, e Sinhá Moça, de Tom Payne --este último lhe deu projeção internacional, quando foi indicada ao prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Veneza de 1954. Fez mais de 30 filmes.
Em 2010, Ruth de Souza recebeu o prêmio Almirante Negro João Cândido da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, junto com outras 16 personalidades que atuam em defesa dos direitos humanos da população afro-brasileira.
Em entrevista ao UOL, em 2016, Ruth Souza lamentou o fato de o racismo ainda ser uma questão em pleno século 21. "Tudo é uma questão de educação", garantiu.
Ainda na entrevista, Ruth lembra que começou no cinema nos anos 1940 como empregada e, 50 anos depois, viveu pianista e juíza na TV.
"É que eu sempre briguei e cobrei muito de todo o mundo para ter espaço. Mas foi a Janete Clair e o Dias Gomes que deram a mim e ao Milton Gonçalves a oportunidade de fazer todo o tipo de trabalho. Antes deles, era só a negra gorda alegre, feito a empregada do "...E o Vento Levou" (...) os negros eram mostrados de forma ridicularizada", ressaltou.
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