Veja como foi o pedido de demissão de Dony De Nuccio da Globo
Em um comunicado a Globo divulgou as mensagens trocadas entre o diretor de Jornalismo da emissora, Ali Kamel, e o jornalista Dony De Nuccio, que pediu demissão da bancada do Jornal Hoje, conforme adiantou o jornalista Daniel Castro, do site Notícias da TV.
O pedido de demissão ocorreu por conta da denúncia do site de que o então âncora do jornal se envolveu em negociações com clientes de uma empresa de comunicação que ele abriu em 2017. A Prime Talk, empresa de De Nuccio, faturou R$ 7 milhões com a produção de vídeos para treinamento de funcionários do Bradesco, alguns com a participação do jornalista, o que é proibido pelo código de ética da emissora em relação a jornalistas.
Na mensagem enviada por De Nuccio para Kamel, o jornalista diz que não sabia que os serviços prestados pela sua empresa contrariavam as normas da Globo.
"Reitero que minha função não era negociar valores com clientes, mas sim trabalhar na concepção dos projetos e em seu conteúdo", diz um trecho da mensagem.
O jornalista ainda afirmou que estava se sentindo pressionado e que foi "traído pela memória", fato que percebeu ao verificar seu histórico de e-mails.
"Frente à recente onda de ataques que venho sofrendo, e com indícios de criminosa invasão de computadores, arquivos e mensagens, procurei vasculhar o histórico de dois anos de e-mails enviados por mim enquanto cumpria função na empresa. De fato, na esmagadora maioria das vezes, eu não tratava de valores com contratantes. Mas, em algumas circunstâncias pontuais, e das quais eu sinceramente não me recordava, há sim menção a cifras e projetos. [...] De qualquer forma, fui traído pela memória. E me penitencio por isso", diz em outro trecho.
No comunicado De Nuccio admite que agora ele entende que os serviços que sua empresa prestou ultrapassaram os limites que a emissora exige de seus jornalistas.
"E lamento que, mesmo sem dolo, não tenha percebido isso antes. Não quero mais, por qualquer que seja o artigo ou vazamento na contínua tentativa de destruir minha reputação, constranger você, a Globo ou a minha família."
O jornalista, na mensagem ao diretor, lembrou que sempre sonhou em trabalhar na emissora e que abriu mão de uma carreira no mercado financeiro.
"Em 2011 abri mão de uma promissora carreira no mercado financeiro, para me tornar repórter nos quadros da Globo. Parecia uma decisão difícil, mas não foi: representava o começo de uma nova caminhada, com a qual eu sonhava desde tempos remotos", diz o jornalista, que parece ter enviado o documento satisfeito com a trajetória na emissora, como ele relata na mensagem.
Segundo De Nuccio, de acordo com a mensagem, ele teve e-mails hackeados e o sigilo bancário violado após a revelação do trabalho de sua empresa com o banco.
"Nas últimas semanas me vi mergulhado em uma infindável onda de ataques, com a vida dentro e fora da Globo vasculhada e revirada, sigilos fiscais violados, endereços expostos, trabalhos de exclusiva veiculação interna publicados, e até e-mails privados hackeados", disse o jornalista, que pediu a demissão.
"Por esse motivo, embora com aperto no coração, solicito meu afastamento do telejornalismo."
Kamel respondeu que aceitava o pedido de demissão, mesmo se lamentando pela situação.
"Aceito o seu pedido de demissão com pesar mas, assim como você e pelas razões que você aponta, com a certeza de que é o melhor caminho a seguir. Entendo que é absolutamente sincero quando afirma que não agiu com dolo, e esta carta é uma prova eloquente disto", diz a mensagem do diretor.
A direção de Jornalismo da emissora também divulgou que vai emitir um novo comunicado aos seus jornalistas para que não restem dúvidas sobre o que eles podem fazer com convites de trabalhos. Leia o comunicado abaixo:
"A direção foi procurada por alguns de seus jornalistas que relataram que foram contratados por terceiros para participação em eventos institucionais gravados em vídeo, mas sempre com proibição expressa de que as imagens fossem veiculadas ao público externo ou a clientes. Em alguns casos, a participação se deu com autorização da Globo por não ferir as políticas atuais da empresa. Em outros casos, a participação foi inadequada, mas sem má-fé. Todos informaram que não possuem empresas prestadoras de serviços de marketing, assessoria de imprensa ou de projetos de comunicação empresarial. A Globo, ciente agora de que persistem em algumas dúvidas sobre como agir diante de convites, informou que em breve um comunicado reiterará o que é proibido e o que não é, em detalhes, levando em conta a era digital em que vivemos."
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