Filme mostra Hebe livre e sem censura: "Vivemos num mundinho de merda"
Hebe Camargo era conhecida do público pelo jeito expansivo e por sua eterna "alegria de viver" --que se traduzia pela forma positiva como ela encarava a vida e que acabou virando um jargão pessoal. Mas, para entender quem era a apresentadora, cuja história se mistura à da TV brasileira, é preciso ir além da persona de posicionamentos por vezes duros, dona de joias exuberantes e que recebia todo tipo de convidado em seu famoso sofá.
É o que propõe o filme Hebe - A Estrela do Brasil, que chega aos cinemas amanhã (26). Na cinebiografia dirigida por Maurício Farias e protagonizada por Andréa Beltrão, os espectadores são levados aos anos 80 em um recorte breve, porém marcante, da vida da apresentadora.
A Hebe destemida, que lutava contra a censura, era também uma mulher sensível, mãe de um menino e que viu seu casamento desabar por conta de um marido cego pelo ciúme. É essa mulher de contrastes, intensa e engajada que os espectadores descobrirão com o longa-metragem.
Casamento abalado
O casamento de Hebe com o empresário Lélio Ravagnani é uma das partes mais emocionantes do filme. Ao mesmo tempo em que batia de frente com a ditadura e era perseguida por um governo que não tolerava seus comentários vistos como incômodos, a apresentadora precisava lidar com um marido excessivamente ciumento e possessivo, interpretado por Marco Ricca.
É nesse contexto que Roberto Carlos (Felipe Rocha) aparece no filme. Hebe sempre foi fã do cantor, e a participação dele no programa da apresentadora é o estopim para irritar Lélio, que encontrava refúgio na bebida. Disposta a salvar seu casamento, ela o faz prometer que vai conter seu ciúme desmedido. Mas não é o que acontece.
Em uma outra oportunidade, após ver Chacrinha e Hebe na televisão, o empresário tem um ataque ainda mais violento e parte para cima da apresentadora, chegando a rasgar seu vestido. Os dois chegaram a se separar, mas se reconciliaram posteriormente e ficaram juntos até a morte dele, em 2000.
Morte do amigo Carluxo
Hebe não silenciava diante do que considerava injusto e fazia questão de usar a sua influência para defender as causas nas quais acreditava, entre elas a do fim do preconceito contra homossexuais. Um dos melhores amigos da apresentadora era o seu maquiador e cabeleireiro, Carluxo.
Carluxo adoece e é internado em um hospital público. Em uma visita, Hebe diz que pode oferecer ao amigo um tratamento mais adequado, mas é surpreendida quando ele revela que tem Aids. "Doença de bicha e drogado. Quem se importa com a gente?", afirma Carluxo para a apresentadora, que diz se importar com ele.
O maquiador não resiste, e a dama da TV dedica um programa em sua homenagem. Religiosa, ela pede a todos do estúdio que se levantem para rezar um Pai Nosso —mas um padre, no sofá entre os convidados, se mantém sentado. A apresentadora, nos bastidores, não se contém e critica o sacerdote: "Que diferença faz com quem ele [Carluxo] se deita? Estamos vivendo num mundinho de merda".
Pavor da Globo e trote de Silvio Santos
A tentativa de controle por parte do governo federal levou a apresentadora a deixar a Rede Bandeirantes nos anos 1980, fato que inicia a narrativa de Hebe - A Estrela do Brasil. Dona de uma personalidade forte, que inspirava preocupação nos governantes, Hebe se recusa a fazer programas gravados e, num gesto de protesto contra a tentativa de censurá-la, joga o microfone ao chão.
No hiato entre a saída da Band e o acerto com o SBT, Hebe aparece em um momento de descontração com as amigas Lolita Rodrigues e Nair Bello. Elas falam sobre o futuro profissional da apresentadora, e as amigas opinam que ela deveria trabalhar na Globo, mas ela prontamente se mostra resistente à ideia.
"Tenho pavor da Globo. Não vou poder beber nem dizer meu puta que o pariu", afirma a apresentadora, com medo de uma eventual mordaça da emissora.
Como todo o mundo sabe, ela acaba assinando contrato com o SBT, mas um detalhe curioso é que a apresentadora chegou a desconfiar das ligações de Silvio Santos, interpretado por Daniel Boaventura. Hebe acreditou que estava sendo vítima de um trote, até que foi convencida pelo sobrinho de que a proposta daquele que se tornaria o seu patrão era real. Ela aceita as condições de Silvio e vai para o SBT para ganhar metade do que faturava na Band, somado a 30% sobre patrocínio e o mais importante: liberdade para fazer o programa do seu jeito.
Os seios de Dercy Gonçalves
Hebe recebia convidados controversos em seu sofá e, até por isso, era vista com temor por setores conservadores da sociedade. Um desses momentos é exemplificado no filme com as participações de Dercy Gonçalves e Roberta Close.
A apresentadora pede a Roberta que ela explique se é homem ou mulher e, bastante didática, a convidada conta que nasceu com o corpo de homem, mas que na verdade é uma mulher transgênero. A apresentadora diz que ela é a mulher mais bonita do Brasil, e Dercy, então, exibe os seios para a plateia.
"A mulher mais bonita do Brasil sou eu", diz a atriz e humorista.
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