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Finalistas do 'The Circle Brasil' contam segredos e planos após o reality

Lucas, Marcel, Ray, JP e Dumaresq: finalistas do "The Circle Brasil" - Instagram/Reprodução
Lucas, Marcel, Ray, JP e Dumaresq: finalistas do "The Circle Brasil" Imagem: Instagram/Reprodução

Daniel Palomares

Do UOL, em São Paulo

01/04/2020 04h00

Acompanhar o "The Circle Brasil" na Netflix durante a quarentena foi uma das atividades preferidas de muitos brasileiros. Desde sua estreia no início de março, o programa não saiu do top 10 das atrações mais vistas da plataforma. Enquanto o público se diverte com a interação digital dos participantes e acompanha suas intrigas, o UOL foi atrás dos finalistas do reality, JP, Dumaresq, Lucas, Marcel e Ray, para saber mais detalhes sobre a experiência deles no confinamento.

Produção sigilosa e isolamento

Para quem não sabe, o "The Circle" foi gravado no segundo semestre de 2019. Os participantes ficaram confinados em um prédio de Manchester, na Inglaterra, por um mês inteiro e nem faziam ideia de quem competia com eles.

"Eu fui considerada a pessoa que mais gritava e berrava dentro do prédio, e ninguém me ouvia", revela Ray, manaura de 22 anos que terminou em segundo lugar. "A gente não sabia qual era o andar dos outros. Quando eu saía do meu apartamento para a academia, a produção colocava uma venda nos meus olhos e tampões nos ouvidos. Não tinha contato algum com ninguém."

Durante o confinamento, Ray sonhou que havia gêmeos participando da competição. Para a surpresa dela, Luma era, na verdade, Lucas e Marcel, dois irmãos gêmeos que criaram um perfil fake para o jogo e terminaram a disputa em quinto lugar. Vivendo há mais de um ano separados, um no Acre e outro em São Paulo, eles tiveram mais um desafio além do isolamento: a convivência.

"Depois de um tempo, você não aguenta mais ver a pessoa", brinca Lucas. "Graças a Deus a edição não mostrou todas as brigas, senão o programa seria só isso", continua. "A gente não podia ficar brigando o tempo todo. Irmão tem essa coisa, de um não olhar na cara do outro, mas lá a gente tinha que sorrir, fingir que estava tudo bem", pondera Marcel.

"O confinamento foi uma das partes mais difíceis da experiência", lembra João Paulo Gadêlha, ou simplesmente JP, bombeiro militar da Bahia, de 31 anos e terceiro colocado. "Ficar isolado num apartamento sozinho, sem contato com mundo externo, sem redes sociais, sem informações. A ausência de informações do mundo e da família era difícil. Traz solidão."

Fake ou real?

Em um programa em que o objetivo é ser o mais popular e querido pelos outros participantes, a maioria dos jogadores optou por mudar pelo menos algum detalhe de si para se tornar um perfil mais atrativo. Ray, que namora na vida real, fingiu ser solteira e emplacou uma faceta venenosa com outros jogadores. Lucas e Marcel criaram Luma. JP diminuiu a idade. Já Raphael Dumaresq, comunicólogo de Natal de 24 anos, entrou como si mesmo, mas defende que todo mundo se apoiou em alguma mentirinha.

"Acho que quem entra no 'The Circle' e vive 100% sua verdade tem um risco muito grande de sair. Precisamos ter amizades intencionais. Não rompi meus princípios, mas forcei alguns diálogos. Fui falso também, era um jogo para isso", admite Dumaresq. "Não conseguia confiar 100% em ninguém nem desconfiar 100%, porque precisava de aliados, precisava desabafar."

Para JP, o segredo para ter ido tão longe foi sua transparência e autenticidade. "Sempre falei a verdade. É assim que eu sou na vida real. O militarismo também me ajudou bastante. Reforcei valores de lealdade, camaradagem, fidelidade às pessoas ao meu lado."

Lucas acredita que Luma conseguiu passar o estado de espírito dos irmãos. "Isso nos ajudou a não ser tão cruel, não julgar tanto, não fazer tudo pelo jogo. A gente pensou que a Luma faria tudo pelo jogo, trairia outras pessoas. Mas não conseguimos."

Ray, por sua vez, acha que foi seu personagem que a fez ir tão longe no jogo. "O segredo foi alimentar um personagem maluco. Uma criatura que não era eu de verdade. Consegui ser intensa ao extremo, fazer as pessoas sentirem amor e ódio por mim ao mesmo tempo. Minha sede de vitória era maior que qualquer outra coisa."

Se entrasse novamente na disputa, Ray diz que teria agido com menos frieza, mas não despreza sua trajetória. "Tentaria passar uma imagem mais limpa para as pessoas, para não pensarem que estava ali totalmente ambiciosa e jogadora. Tentaria ser mais humana. Fui o monstrinho da edição, mas me orgulho disso. Se eu fosse um cavalo de corrida, as pessoas não apostariam um centavo em mim, mas eu corro muito e sempre chego onde quero."

Novos seguidores

Depois da exposição no reality show, o número de seguidores dos participantes no Instagram segue aumentando. Dumaresq revela que são cerca de mil novos perfis o seguindo por hora. O contato com os fãs (e também com os haters) é um novo desafio para todo mundo.

"O meu Instagram está cheio de mensagens sempre. Estou tentando responder o máximo de pessoas. Mando vídeo, áudio, foto. A gente cria uma relação muito humana. Não posso abandonar algo tão precioso. Estou dando conselho para um bando de veado", brinca Dumaresq. "Já os haters são muito fraquinhos. Esperava mais. Não leio e não respondo", brinca.

Ray diz que recebeu mensagens carinhosas de seguidores de Portugal, Espanha e Itália, mas também sofre na mão dos haters. "As pessoas estão aproveitando a quarentena para nos assistir. Ter esse feedback é sensacional. Eles querem nos conhecer de verdade, saber da nossa vida. O assédio na internet é real. Isso para mim é maravilhoso. Consegui o auge da minha vida", festeja. "Alguns me chamam de falsa, de cobra, eu fico mordida. Não vou mentir para você, já chorei muito recebendo essas mensagens."

JP sabe que julgamentos fazem parte do jogo. "Quando você se expõe num reality show dessa magnitude, você está ciente que críticas vão surgir e que as pessoas vão tentar te menosprezar. Posso agradar um público e não agradar outro", pondera.

Marcel coloca tudo na balança. "São críticas mínimas perto de tanta coisa boa que ouvimos. Estamos recebendo muitas mensagens de irmãos gêmeos que se identificaram, sentiram nossa energia, nossa troca."

Representatividade

A primeira temporada do "The Circle" foi marcada por um elenco muito diverso. Entre os finalistas, Dumaresq, Lucas e Marcel são gays; Marina e Ray, mulheres negras. e JP, representante da região Nordeste.

"É muito importante reforçar minha fala como nordestino, afeminada. Não sou só close. Sou politizado, sou estudado. Eu me sinto muito emocionado. Várias crianças e mães vieram falar comigo. Eu não estava ali sozinho. Estava representando várias gays afeminadas, dançando escondidas no banheiro, se trocando na casa de uma amiga porque os pais não aceitam o jeito que eles se vestem. Quanto mais a gente se mostrar, mais a sociedade vai nos aceitar", diz Dumaresq.

"O elenco tinha bissexual, gay afeminado, gay padrão. Foi gratificante ver o quanto a nossa turma estava bem representada", pontua Marcel. "São tribos muito diferentes. A gente tem uma ganhadora negra. Tem todos os tipos de gays, tem a branquela, a negona, o gordo, o magro. Achei muito bem pensado. Isso atrai um público muito maior ao programa", considera Lucas.

"Acho que nunca aconteceu antes de ter duas negras na final de um reality no Brasil", diz Ray. "A questão da representatividade para mim é muito importante. Levantei muito a bandeira do meu estado. Sou uma manauara atípica porque eu sou negra, cacheada e as pessoas aqui tem o sangue indígena, a marca da terra."

Planos para o futuro

Com direito a uma nova legião de seguidores, todos os ex-competidores querem que seus momentos de fama durem. Desfilar na Sapucaí, investir em canal no YouTube e participar de editoriais de moda são só alguns dos sonhos dos finalistas.

"Quero impulsionar mais o espaço que estou tendo. Falar sobre moda, comportamento, militância, me tornar uma referência. Quero produzir conteúdo para o YouTube, quero viajar. Quero fazer tanto editorial de moda, quero vestir roupa doida, quero ir para desfile, fazer parcerias artísticas. Sempre sonhei com isso. Agora que as portas estão abertas, vou usar ao máximo", diz Dumaresq.

Lucas espera que o irmão Marcel se mude do Acre para São Paulo e que os dois tenham um projeto lado a lado. "Nossas redes sociais tiveram um boom que eu nem esperava. As pessoas estavam cobrando um canal de YouTube nosso, mas minha vontade é um programa dos dois", conta Lucas. "O que acontecer, eu estou indo. Não tenho medo de mudanças. A gente quer continuar na mídia para aproveitar esse retorno positivo", explica Marcel.

Por sua vez, JP não pretende abandonar a carreira de bombeiro. "Com toda essa exposição, virão muitas propostas artísticas e eu estou preparado para analisá-las com muita cautela. E tentar alinhar tudo que surgir com a minha profissão de bombeiro."

Já Ray, que é rainha de bateria de uma escola de samba de Manaus, sonha em desfilar na Marquês de Sapucaí, durante o Carnaval do Rio, e não descarta embarcar em outro reality. "É um momento de oportunidades. Quero abraçar tudo que aparecer. Fui criada para participar de reality. Se eu tivesse em outro programa, ia com mais tempero ainda. O que dá audiência é isso. Aceitaria tudo. Onde é que assina para entrar?", brinca.