Topo

Ator se pronuncia após sofrer preconceito e abuso de poder ao sair de casa

O ator Flávio Bauraqui - Reprodução/Facebook
O ator Flávio Bauraqui Imagem: Reprodução/Facebook

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/04/2020 17h36

Na noite de ontem, o ator Flávio Bauraqui denunciou, em suas redes sociais, um episódio de preconceito e abuso de poder que sofreu ao sair de sua casa para ir até uma farmácia próxima. Ele contou ter sido abordado por um segurança de forma hostil.

"Ele disse: 'O que você está fazendo de máscara? Por que está usando essa roupa esquisita?'. Ao final perguntei se havia terminado. 'Não sei o que você ainda está fazendo aqui'.Tempos difíceis", declarou o atrista de 54 anos em seu perfil no Facebook.

Na tarde de hoje, ele falou sobre o ocorrido. "Saindo da Ilha da Gigoia (onde o ator mora) a rua estava um pouco escura e dois seguranças em uma viatura passaram por mim. Eu estava de máscara, olhando o meu celular. Eles deram uma diminuída na velocidade, estavam usando coletes verdes, e um deles falou para mim: 'está fazendo o quê aí?'", relatou na declaração para a Quem.

"Respondi que morava ali e ele perguntou: 'e essa roupa ridícula?' O outro segurança me dizia: 'deixa para lá!' Tive que tirar a máscara porque ele queria ver meu rosto. Depois eu disse para ele: 'posso colocar a máscara?'. E eles estavam sem máscara. O segurança que me hostilizou estava falando cuspindo, com os perdigotos para todos os lados. Me senti tão vulnerável, mas olhei para o lado e vi que não tinha ninguém. Então preferi me calar e depois denunciar", disse.

De acordo com Flávio, o secretário do Governo do Rio de Janeiro, Cleiton Rodrigues, ligou para pedir desculpas pelo ocorrido. O político disse ainda que a conduta dos policiais será investigada.

"O secretário falou que eles vão correr atrás disso, mas quantos outros, como os moradores das comunidades, passam por isso todos os dias? Foi abuso de autoridade mesmo, porque o agressor verbal era negro. Se é preto, é bandido. Eu estava com uma máscara de tecido colorida e uma calça de veludo azul! Vi que o segurança estava na iminência de me colocar a mão na cara. Não falei que era ator porque não queria usar disso para eles me tratarem diferente", lamentou.

Flávio disse que, depois da repercussão de sua postagem, tem recebido apoio pela internet — apesar de lidar também com pessoas que fazem questão de duvidar de sua palavra e espalhar ódio. "Hoje mesmo uma pessoa me mandou assim no Face: 'está querendo o quê: aparecer na Fátima?' Mas apago e está tudo bem, recebo muito mais coisas positivas", frisou.

"Esse lado celebridade deixo para lá, prefiro ser reconhecido como um artista. Quer me encontrar? Vai no set, no teatro. Já tenho 54 anos e prefiro me preservar", continuou.

O ator, que está gravando a segunda temporada da série Segunda Chamada, disse lamentar que situações como essa ainda ocorram. "É um processo evolutivo, mas para isso tudo evoluir temos que tomar algumas medidas, não podemos generalizar, a polícia tem um importante papel na sociedade, meu irmão era policial, mas algumas pessoas devem ser melhor avaliadas para lidar com os seres humanos", declarou.

"Falta um pouco de preparo nesse sentido e isso me deixa muito preocupado. Você corre para o policial te socorrer e vira perseguido. Parece que é uma coisa organizada para dizimar o povo, tipo: 'vamos exterminar essa galera!' O coronavírus está aí e acho que é uma chance que temos para repensar atitudes, seremos as mesmas pessoas depois dessa pandemia? O processo natural é esse, alguém tem que parar essa loucura, essa falta de respeito e amor. O amor está em falta", ponderou.

Para Flávio, a solução de tudo é a educação. "A gente sabe também que tem que existir uma melhor seleção dessas pessoas que estão em contato com o público, tem que ter um monitoramento. Daqui a pouco vamos ter que sair com uma câmera para ter uma prova. Fiquei uma noite inteira pensando sobre isso: 'fico muito triste não por ser uma vítima, porque sou igual a todo mundo?'"

"Sou um preto andando na rua com muito orgulho, mas para o olhar o do outro sou um perigo. Vivo esse dilema. De longe posso ser um suposto agressor", afirmou.

Então, ele deixou um recado para aqueles que passam pela mesma situação. "Que não se calem e procurem os seus direitos, eles existem e temos que fazer valer o direito da gente, sobretudo quem pode. Tem gente que não pode porque vira alvo imediatamente. Porque senão isso vai continuar por muito tempo e daqui a pouco estaremos reféns."