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Matheus Ribeiro não teme igreja por ser gay: "Contrato é com Record"

Matheus Ribeiro - Reprodução/Instagram
Matheus Ribeiro Imagem: Reprodução/Instagram

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

04/05/2020 12h00

O jornalista Matheus Ribeiro está pronto para a estreia hoje (4) no "DF Record", telejornal local da RecordTV em Brasília. Após pedir demissão da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, o apresentador não teme qualquer censura por porte da emissora ligada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Em entrevista ao UOL, ele falou sobre a expectativa de seu primeiro dia e admitiu que não tinha planos de retornar tão cedo à TV.

Ao deixar a Globo, ele alegou irregularidades em uma carta dirigida à direção na qual aponta diminuição salarial, restrições no uso de suas redes sociais, entre outros fatores. "Me proibir de fazer uma live para conversar com meus amigos e bater papo com os seguidores beira a censura desmotivada, pelo simples prazer de exercer o poder", escreveu ele em um dos trechos do texto.

Na Record, o jornalista, que se assumiu gay no ano passado, não acredita em interferência ou boicote por conta da estreita relação da emissora com a igreja.

Minha negociação com a emissora foi inteiramente pautada no profissionalismo. Meu contrato é com a RecordTV. Em nenhum momento, questões pessoais foram alvos de discussão, porque representam a liberdade individual de todo e qualquer cidadão

Matheus conta que não tinha planos de voltar tão cedo à televisão. O objetivo era se dedicar as suas empresas, uma agência de marketing e uma produtora de audiovisual, além de investir na internet. Mas isso mudou com a proposta feita pela Record, que lhe ofereceu total liberdade no uso de seus perfis nas redes. Só no Instagram, por exemplo, ele possui mais de 470 mil seguidores.

"Quando surgiu o convite da RecordTV, tive a certeza de que televisão é realmente a minha paixão. Além da liberdade para atuar nas minhas redes sociais, encontrei também abrigo para as ideias que quero implantar no jornal, assumindo também o posto de editor-chefe. Assumir essas funções na capital federal, aos 26 anos de idade, é uma experiência indescritível", descreve.

A bancada do "Jornal Nacional": um divisor de águas

Matheus Ribeiro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

A respeito dos seis anos na Globo, emissora onde cresceu profissionalmente, o jornalista afirma que o balanço é positivo. A experiência na bancada do "Jornal Nacional", ainda que em uma única edição, é descrita por ele como um divisor de águas em sua carreira: "Além da alegria de representar o meu estado e todos os goianos, tenho certeza que a experiência me trouxe mais maturidade para enfrentar novos desafios, como os que encontro agora".

Ao ser questionado sobre um eventual desconforto ou inveja que possa ter motivado ao ser escolhido para o "JN", Matheus afirma ter consciência do quanto o posto foi cobiçado por outros profissionais.

Tenho certeza de que ocupei um lugar desejado por muitos profissionais e reconheço que vários colegas têm competências mais que suficientes para desempenhar esse papel. No entanto, é preciso que nós tenhamos capacidade de lidar com as próprias frustrações. Tentei me blindar de qualquer situação negativa, até para cumprir bem a missão de representar meu povo.

Estreia em meio à pandemia

O novo emprego veio acompanhado por outra grande novidade: a mudança de Goiânia para Brasília. Tudo isso em meio a pandemia do Covid-19, que inevitavelmente influenciou na recepção ao jornalista, que acabou sendo um pouco menos calorosa do esperado pela falta de contato físico, uma recomendação de especialistas em saúde para evitar o contágio pelo novo coronavírus.

"Lamentamos as consequências do distanciamento, a impossibilidade de fazer uma comemoração depois da estreia, de não abraçar os colegas nas boas-vindas, mas são as medidas necessárias para que tudo isso passe mais rapidamente", compreende.

Já sobre uma suposta insatisfação de funcionários da emissora pela sua contratação, Matheus explica não ter dado ouvido a boatos. Segundo especulou o site Notícias da TV, jornalistas teriam se revoltado pela contratação dele para ancorar o principal telejornal da emissora e a demissão de seu antecessor, Luiz Carlos Braga.

"Desde o primeiro momento em que pisei na emissora, fui tratado com muito respeito e acolhimento. Tanto que não dei atenção a um texto apócrifo, falsamente atribuído a colegas da redação, porque isso não foi condizente com a realidade que vivi. O que vou guardar na minha memória, como início desta nova etapa, é a imagem que encontrei na porta do elevador: 'eu sou a peça que completa essa TV'. É com esse espírito que me dá disposição total para a estreia", declara.

O novo rosto do "DF Record"

Matheus Ribeiro assina com a RecordTV - Divulgação - Divulgação
Matheus Ribeiro assina com a RecordTV
Imagem: Divulgação
Os desafios de Matheus Ribeiro à frente do "DF Record" são grandes e as reformulações deverão ser sentidas pelo público. O âncora adianta algumas delas, que vão desde a estética do telejornal até ao conteúdo, com maior espaço a links ao vivo, por exemplo.

"Estou me reinventando junto com o telejornal. Levaremos ao público do DF as principais notícias do dia de uma forma muito mais direta, conversada... A notícia de um jeito que todos entendam e possam formar sua própria opinião. Para isso, estamos mudando a forma de 'embalar' a notícia, contando com mais links ao vivo, com mais participação do telespectador, com o helicóptero da emissora e muitos outros recursos. Teremos também um novo cenário, sem bancada, para que eu possa interagir com os repórteres e apresentar dados e estatísticas de forma mais atrativa. É um trabalho feito a várias mãos, com uma equipe comandada pelo experiente Domingos Fraga, nosso diretor, pelo meu conterrâneo Deny Almeida, gerente, e pelo editor-chefe adjunto, Márcio Motta, que tem me ajudado de uma maneira fantástica a conhecer melhor Brasília e o entorno", afirma.

Relacionamento não mais à distância

Uma mudança bastante comemorada por Matheus Ribeiro é em relação ao namoro com o capitão da PM Yuri Piazzarollo, que deixa de ser à distância depois de mais de um ano. Se a vida ainda não voltou exatamente ao normal é por conta do isolamento social.

Com a mudança para Brasília, o namoro não é mais à distância. Foi mais uma das coisas boas que a mudança trouxe para minha vida. Particularmente, estou sentindo falta de ir à academia, de me exercitar... Não consegui me adaptar ainda aos treinos em casa