Emicida cita pandemia e explica por que não irá a protesto antirracista
O rapper Emicida explicou hoje, em vídeo postado no seu Twitter, o motivo de não ir ao protesto antirracista previsto para domingo em São Paulo. Ele cita o alto número de casos de covid-19 no Brasil e explica que o que pode acabar com a estrutura racista no país é uma construção, uma base.
"Qualquer aglomeração agora, por mais legítimos que sejam nossos motivos, é pular na ciranda da necropolítica e levar uma onda de contágio pior do que essa que já está dentro das comunidades onde vive quem a gente ama. Isso é parte do plano deles", afirmou o artista.
"Hoje nós não temos organização para isso, manifestação não é micareta. Quem acha que a estrutura racista do Brasil vai ser desligada como se fosse um interruptor está viajando na maionese. Precisamos de uma construção, de uma base, um projeto, uma coalizão em torna de algo."
"Meu questionamento para quem está legitimamente frustrado e cheio de ódio é: qual é o nosso potencial de organização hoje para barrar uma pá de infiltrado que pode colar e arrastar uma causa legítima? E jogar para o ralo toda a sua indignação", diz Emicida relembrando as manifestações que ocorreram no país em 2013.
Ele ainda critica a Imprensa brasileira, afirmando que a cobertura das manifestações não deixaria claro a participação de possíveis infiltrados que buscariam prejudicar um movimento com boas intenções.
O rapper admite que o que diz não é fácil, que seu coração está em frangalhos com as últimas notícias nacionais e internacionais envolvendo racismo e o desenrolar da pandemia, mas que o momento é de ser estratégico:
"Não cheguei aqui porque agi na emoção, e não vai ser agora que eu vou começar a fazer isso, principalmente nesse contexto. Estrategicamente falando, a instabilidade está sendo ajustada para justificar uma pá de atitude arbitrária. Se a gente entrar na dança dos caras, sabemos quem vai sofrer. A gente sabe em que lugar e com que tipo de pessoa que o sistema brasileiro faz a sua arbitrariedade alcançar níveis máximos."
Por fim, Emicida criticou o governo e o Estado brasileiro, pedindo que a população negra estude o "histórico de repressão" do país antes de fazer qualquer coisa.
"Tudo que esses vermes querem é uma faísca para rasgar de vez o tecido social dessa po*** e justificar uma ruptura agressiva e violenta, que vocês sabem em cima de quem vai cair primeiro. Infelizmente, não estamos com preparo nenhum, organização nenhuma. Tudo que esse desgoverno quer é isso, você agindo na emoção."
O protesto de domingo segue a tendência internacional de protestos antirracistas, impulsionados pelo assassinato de George Floyd, homem negro morto pela polícia estadunidense.
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