Stycer: 'A gente se acostumou com uma Globo que era a Hollywood brasileira'
Nas últimas semanas a Globo vem reforçando a sua postura de trabalhar com contratos por obra, o que acarretou a saída de grandes nomes da emissora, como Miguel Falabella, Vera Fischer, Zeca Camargo e José de Abreu. A iniciativa faz parte de uma estratégia de unir todas as áreas para reduzir custos e enfrentar os novos tempos.
No podcast UOL Vê TV #31, Chico Barney, Débora Miranda e Mauricio Stycer analisam as consequências dessas mudanças. "Entendo que isso é inevitável, mas não deixa de ser chocante porque a gente se acostumou com uma Globo que era a Hollywood brasileira", diz Stycer. "Hoje a emissora é uma empresa normal, com problemas, necessidade de enxugar quadros, e deixa pelo caminho figuras incríveis com grandes serviços prestados." (Disponível no vídeo a partir de 1:35)
"Por mais que houvesse algum hiato, a gente sabia que em algum momento poderia surgir ali um grande nome que faz parte da memória afetiva de todo mundo que assistiu TV aberta", comenta Débora. "Ao mesmo tempo, isso abre novas possibilidades de produções que podem aproveitar esse elenco", diz a editora do UOL TV e Famosos.
"O próprio Zeca Camargo já fez coisas mais legais do que o programa que ele fazia recentemente. Fica uma expectativa boa de vê-lo em outros projetos, com outro olhar. Para eles é difícil porque o contrato de longo prazo garante estabilidade, mas também é possível ver a questão por outro lado", completa ela.
"Do ponto de vista do mercado hoje a Globo resiste bastante", diz Chico Barney. "São nomes de muitos anos de casa, com certeza contratos com muitos zeros."
Para o colunista do UOL, este é um negócio que está se tornando anacrônico no mundo inteiro. "Não é nem uma questão de conjuntura nacional, mas esse esquema de trabalho por obra é uma possibilidade mais dinâmica", afirma (a partir de 6:13).
Chico lembra ainda que existe uma questão de construção de carreira, de reciclagem para se adaptar ao novo cenário. "Mas é bom saber que não se depende só da Globo", completa.
Débora reforça a importância da reciclagem para as produções atuais. "Tem muitos novos autores fazendo série na Netflix, pessoas que estão pensando formatos diferentes. É importante para quem está no mercado se reciclar, sair do formato de novela e pensar em outras formas de narrativas e gêneros de produção. A gente só tem a ganhar com isso", diz (a partir de 9:00).
Mauricio Stycer ressalta um outro aspecto da questão. "Uma coisa que acho preocupante sobre as opções de mercado é que tendo a enxergar que tanto Netflix quanto na HBO as produções brasileiras baixaram um pouco o padrão de exigência num esforço de se popularizar, e isso é ruim. Um cara como o Falabella tem um nível muito alto", diz o colunista do UOL (a partir de 10:43).
"A trajetória recente do Falabella se impõe como um desafio", completa Chico. "A última grande coisa que ele fez foi 'Pé na Cova', que era genial. O nível de produção nunca foi muito bom nem na HBO nem na Netflix. Fico curioso para saber quando vai subir o patamar. Tem uma construção na indústria, o autor jovem começa trabalhando até construir o seu nome. Como vai ser com esses nomes mais eloquentes no mercado? Se eu fosse uma plataforma de streaming certamente o Falabella seria prioridade."
Mal aproveitada
Stycer diz que espera ver Vera Fischer em outras telas em breve. "Ela é uma figura engraçada, falava o que pensava, e estava sendo mal aproveitada na TV. Seu papel na novela 'Salve Jorge' foi uma desgraça."
Para Chico, o caso de Zeca Camargo é o mais complicado. "Ele foi o primeiro apresentador de reality show, é um jornalista clássico. Como a empresa sente que não necessita de um nome desse é curioso. As engrenagens de uma empresa são muito particulares. A ausência do Zeca nos trabalhos mais relevantes nos últimos anos é problemática. Ele poderia estar na linha de frente há mais tempo. É mau sinal que a Globo não tenha encontrado um lugar para ele", diz (a partir de 15:40).
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