Blackface e humilhações: o racismo nas telenovelas
Atualmente, o debate sobre o racismo está em grande evidência pelo mundo, devido aos protestos desencadeados nos Estados Unidos e em várias partes do mundo após a morte de George Floyd —homem negro assassinado por um policial branco.
No Brasil, as telenovelas já retrataram o racismo em diversas ocasiões. Mas, se por um lado, as tramas ajudaram na conscientização, muitas também prestaram desserviços. Relembre casos de racismo nas novelas:
Blackface
Uma das primeiras obras da teledramaturgia brasileira focada em uma família negra foi "A Cabana do Pai Tomás", baseada no romance "Uncle Tom's Cabin", de Harriet Beecher Stowe. A novela foi exibida pela Globo em 1969 e tratava da história de uma família que lutava contra a escravidão nos Estados Unidos.
Já na época de sua exibição original, a trama foi criticada devido ao fato de que o ator escolhido para interpretar pai Tomás, Sérgio Cardoso, era um homem branco que pintou seu rosto para o papel —uma prática conhecida como blackface. Na época, Cardoso declarou sobre a polêmica: "Tenho vários amigos de cor que são como meus irmãos. Tenho afilhados pretinhos que amo como se fossem meus filhos".
Humilhação no horário nobre
Com o passar dos anos, parecia que atores negros estavam ganhando mais espaço na televisão e que barreiras estavam sendo quebradas, mas ainda ocorriam situações que provocavam revolta, como em "Pátria Minha" (1994). Em determinado momento, o vilão Raul, interpretado por Tarcísio Meira, humilhou seu jardineiro negro, Kennedy (Alexandre Morenno), disparando uma série de falas racistas.
A cena foi extremamente criticada, e a associação SOS Racismo de São Paulo procurou a Justiça, com o argumento de que os autores produziram uma cena que feria a comunidade negra. Os autores tentaram se explicar, mas outras entidades de proteção aos direitos dos negros ameaçaram processar a emissora. Mais tarde, uma cena foi incluída na novela para encerrar a polêmica: a personagem Zilá (Chica Xavier) fez um discurso contra o racismo.
'Segundo Sol' branco demais
Um exemplo bem mais recente, a novela "Segundo Sol" (2018) não havia nem estreado e já era altamente criticada. O motivo? A novela se passava na Bahia, estado onde a maioria da população é composta por negros, mas isso não era refletido no elenco da novela, com pouquíssimos atores negros.
A situação fez com que o Ministério Público do Trabalho enviasse um documento à Globo com 14 recomendações para que a emissora realizasse mudanças na trama. Tudo isso expôs um problema maior na televisão brasileira: a falta de oportunidades para atores negros.
Mais representatividade
Apesar de muitas questões ainda precisarem ser trabalhadas e discutidas, houve também avanços importantes na representatividade na televisão. A novela "A Próxima Vítima", por exemplo, tinha uma família negra de classe média, algo que até então era pouco visto na teledramaturgia nacional.
Atores e atrizes negros também foram ganhando mais destaque na televisão, como Taís Araújo e Camila Pitanga, que já protagonizaram mais de um trabalho na Globo. Ainda é um caminho longo, mas há avanços.
Discussões mais profundas
As novelas também têm procurado propor discussões mais profundas sobre o racismo. Claro que ainda ocorrem absurdos —como uma cena da telenovela "As Aventuras de Poliana" (SBT) em que uma das personagens falava que o racismo estava "na nossa cabeça". Mas existem também abordagens incisivas sobre o assunto, mostrando que o racismo ainda é uma questão que precisava ser combatida.
A novela "Lado a Lado" (2012), por exemplo, mostrou o preconceito que os negros sofriam no período da implementação da República e como o assunto ainda é atual. Recentemente, fãs repararam em uma cena da reprise de "Fina Estampa", na qual a personagem Dagmar (Cris Vianna) sofria uma ofensa racista. "Não esquece que neste país racismo é crime!", revidou a personagem.
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